Com PDV e enxugamento da folha, Sanepar segue trilha de privatização da Copel
Até agosto deste ano, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) irá desligar 527 funcionários que aderiram ao Plano de Demissão Voluntária (PDV) 2025. O
Por Da Redação

Até agosto deste ano, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) irá desligar 527 funcionários que aderiram ao Plano de Demissão Voluntária (PDV) 2025. O número equivale a 8,7% do quadro total da empresa e representa uma das maiores reestruturações internas dos últimos anos. A medida, segundo analistas e entidades sindicais, pode sinalizar o início de um processo de privatização da companhia, hipótese que o Governo do Paraná nega veementemente.
O movimento ocorre em um contexto de pressões por eficiência e investimentos para o cumprimento do novo marco legal do saneamento. Com indenizações que somam R$ 163,9 milhões, o PDV foi lançado no início do ano e será executado de forma escalonada até agosto. Os desligamentos superaram o limite orçamentário inicialmente previsto de R$ 120 milhões, mas ainda assim foram aprovados pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração.
Durante cerimônia interna promovida ao fim do primeiro trimestre para homenagear os empregados que aderiram ao programa, a Sanepar entregou troféus como forma de reconhecimento ao trabalho prestado. Para o diretor administrativo Fernando Guedes, o momento foi de “gratidão e reconhecimento”. Já o diretor-presidente da Fundação Sanepar de Previdência e Assistência Social, Rafael Stec Toledo, disse que os aposentados agora “serão plenamente assistidos” e que é hora de “uma viagem interior”.
Apesar da solenidade, o programa é visto por sindicatos e parte do funcionalismo como mais do que um simples enxugamento da folha. Eles apontam semelhanças com o processo que precedeu a privatização da Copel: primeiro veio o PDV, depois, a transformação da empresa em corporação e, por fim, a venda de ações do controle estatal. A adesão expressiva dos trabalhadores ao plano, a recomendação recente da Genial Investimentos para compra de ações da Sanepar e o crescente interesse do mercado acenderam um alerta sobre o futuro da companhia.
A Genial, que sugeriu a investidores a aquisição de papéis da Sanepar ainda no fim do ano passado, justificou a recomendação com base na possibilidade de valorização das ações diante de um cenário favorável à capitalização e reestruturação da empresa. Para críticos, esse movimento reflete uma preparação para abertura maior ao capital privado.
O Governo do Paraná, no entanto, nega qualquer intenção de privatizar a Sanepar. A administração estadual afirma que os planos são de fortalecimento da empresa, com a promessa de investir R$ 11,8 bilhões até 2029 para adequação ao marco do saneamento. A meta é universalizar os serviços de água e esgoto no estado antes do prazo legal, e a redução do quadro seria parte da estratégia de modernização e corte de custos.
Ainda assim, paira a desconfiança. A experiência recente da Copel, cuja privatização se concretizou após movimentos semelhantes, alimenta o temor de que a Sanepar possa seguir o mesmo caminho. Para entidades do setor, esse tipo de mudança impacta não só os trabalhadores, mas também a qualidade e a universalização dos serviços públicos. A Copel é um exemplo que sofre com as reclamações dos consumidores após a privatização, chegando a ser alvo de diversos processos por conta de problemas relacionados ao fornecimento de energia. Além disso, a Companhia despenca nos rankings nacionais das empresas que fornecem energia elétrica.
Enquanto o governo tenta conter rumores, os reflexos do PDV começam a ser sentidos internamente. A saída de centenas de profissionais experientes abre espaço para novas contratações e reestruturações, mas também levanta dúvidas sobre a continuidade de serviços e o acúmulo de funções nas equipes remanescentes. Segundo o Governo do Paraná, as vagas devem ser preenchidas por funcionários que foram aprovados recentemente em concurso, e que no momento estão em cadastro reserva.
A Sanepar, uma das principais companhias de saneamento do país, opera em mais de 340 municípios paranaenses. Com o marco legal pressionando por resultados e o mercado financeiro de olho em oportunidades, o futuro da empresa deve permanecer no centro do debate político e econômico do estado.