Caminhoneiros tentam articular paralisação, mas entidades recusam adesão
Organizador que convocou a paralisação, esteve em Brasília onde protocolou documento notificando o governo sobre a intenção da categoria
Por Da Redação
Créditos: Valter Campanato/Agência Brasil
Representantes de caminhoneiros de diversas regiões do país articulam uma paralisação nacional nesta quinta-feira (4), em uma mobilização que, segundo seus líderes, tem foco exclusivo em reivindicações trabalhistas e não possui relação com movimentos político-partidários. A convocação ganhou força após vídeos publicados por Francisco Dalmora Burgardt, o Chicão Caminhoneiro, representante da União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), que esteve em Brasília nesta semana.
Chicão visitou o Palácio do Planalto para protocolar um documento notificando oficialmente o governo sobre a intenção da categoria. Ele estava acompanhado do advogado Sebastião Coelho, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e pré-candidato ao Senado pelo Novo. Coelho afirmou que prestará suporte jurídico ao movimento e que todas as ações estão sendo desenvolvidas “dentro da legalidade”.
“Estaremos protocolando o movimento para trazermos a legalidade jurídica dessa ação que vamos iniciar a partir do dia 4 de dezembro. Doutor Sebastião Coelho estará conosco, nos acompanhará. Teremos todo o suporte jurídico necessário para o ato e dentro da legalidade que a lei estabelece”, disse Chicão em vídeo. Ele também reforçou a orientação de que os caminhoneiros respeitem o direito de ir e vir e sigam as normas de trânsito. “Temos que respeitar toda a legislação que é imposta à categoria no sentido de permitir o livre trânsito das pessoas.”
A pauta apresentada inclui aposentadoria especial após 25 anos de contribuição, reestruturação do Marco Regulatório do Transporte de Cargas, estabilidade contratual e cumprimento efetivo das leis que regem o setor. Chicão afirma que o movimento foi construído “a várias mãos” e busca valorização profissional. “Nosso foco é trabalhista. Não é movimento político. Queremos ser respeitados e ouvidos.”
Influenciadores ligados à categoria também impulsionaram o debate. Daniel Souza, caminhoneiro com grande alcance nas redes sociais, afirmou que a profissão vive um cenário de precariedade. “Baixa remuneração, leis impossíveis de cumprir por falta de estrutura e insegurança nas estradas. O respeito com a nossa classe acabou”, disse.
Apesar do apoio de algumas lideranças regionais, como Janderson Maçaneiro, da Associação Catarinense dos Transportadores Rodoviários de Cargas (ACTRC), o movimento enfrenta divergências internas. Na Baixada Santista, Marcelo Paz, presidente da Cooperativa dos Caminhoneiros Autônomos do Porto de Santos, afirmou que não houve assembleia ou votação que legitimasse a convocação. “Para se ter uma movimentação dessas, precisa haver diálogo, assembleia e votação.”
Entidades nacionais também se manifestaram. A CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística) declarou não apoiar a paralisação e repudiou o uso indevido de seu nome em publicações. A CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) afirmou desconhecer qualquer deliberação oficial sobre greve e reforçou que nenhuma de suas federações ou sindicatos convocou assembleias nesse sentido. A Fetrabens, de São Paulo, disse não participar e nem apoiar mobilizações do tipo, afirmando que muitos dos vídeos que circulam estariam relacionados à situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na segunda-feira, voltou a circular nas redes sociais a possibilidade de uma paralisação ligada à defesa de Bolsonaro, rapidamente rebatida por lideranças da categoria. Wallace Landim, o Chorão, presidente da Abrava, criticou o uso político dos caminhoneiros. “Usar o transporte rodoviário de cargas para defender político A ou político B eu não vou compactuar.” Carlos Alberto Litti Dahmer, da CNTTL, também rejeitou a pauta política: “Não dá para querer anistiar quem tentou transformar a democracia de um país através de um golpe.” Ambos, porém, concordaram com reivindicações trabalhistas estruturais.
A mobilização prevista para esta quinta-feira reacende lembranças da greve de 2018, quando manifestações contra o aumento dos combustíveis pararam o país por dez dias e provocaram desabastecimento. Desta vez, após a entrega do documento no Planalto, não houve novas manifestações presenciais até o momento — e a adesão real ao movimento segue incerta.
A Gazeta do Paraná entrou em contato com as entidades ligadas aos caminhoneiros no Paraná e solicitou posicionamento a respeito da paralisação. Recebemos resposta da Federação Dos Trabalhadores Em Transportes Rodoviários Do Estado Do Paraná – Fetropar, que afirmou que: “Não concorda, não participará e sequer foi consultada sobre a possível paralização de caminhoneiros do dia 04.12.2025, haja vista seu cunho meramente político e antidemocrático”.
A Federação ainda afirma que “desaconselha qualquer participação e isenta-se de qualquer responsabilidade sobre eventual movimento quer venha a acontecer ao arrepio da representação sindical regular e da legislação cogente sobre greve”.
