Brasil tem área queimada equivalente ao território da Itália

Mais de 30,8 milhões de hectares foram atingidos por queimadas no Brasil em 2024, uma área equivalente ao território da Itália. Este foi o maior índice registrado desde 2019, representando um aumento de 79% em relação a 2023, segundo dados da plataforma Monitor do Fogo, do MapBiomas.

O relatório destaca que 2024 foi um ano marcado por condições anormais e preocupantes no que diz respeito às queimadas, com um aumento significativo na área afetada em quase todos os biomas. O impacto foi especialmente severo em áreas florestais, que geralmente são menos suscetíveis ao fogo.

Ane Alencar, diretora de Ciências do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo, enfatiza que a escala da destruição evidencia a necessidade urgente de ações coordenadas para enfrentar uma crise ambiental agravada por condições climáticas extremas.

Em comparação com 2023, houve um acréscimo de 13,6 milhões de hectares na área queimada, o que equivale aproximadamente à extensão territorial da Grécia. Esse aumento foi atribuído ao prolongado período de seca que atingiu grande parte do país, intensificado pelo fenômeno “El Niño” ocorrido em 2023 e 2024. A vegetação mais seca e a baixa umidade tornaram o cenário ainda mais propício às queimadas.

Estados mais atingidos
O Estado do Pará liderou o ranking de queimadas em 2024, contabilizando 7,3 milhões de hectares queimados, o que corresponde a 24% do total nacional. Logo atrás aparecem Mato Grosso, com 6,8 milhões de hectares, e Tocantins, com 2,7 milhões de hectares. Juntos, esses três Estados somaram 55% de toda a área queimada no país ao longo do ano.

No âmbito municipal, São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS) se destacaram como os mais atingidos, registrando áreas queimadas de 1,47 milhão de hectares e 841 mil hectares, respectivamente.

Biomas mais afetados
O documento também chama atenção para o avanço alarmante das queimadas em áreas de formações florestais, que, em 2024, atingiram a maior extensão dos últimos seis anos, sinalizando uma alteração preocupante na dinâmica do fogo.

Cerca de 73% das áreas queimadas corresponderam a vegetação nativa, totalizando 25% de toda a área devastada pelo fogo no país. A Amazônia foi o bioma mais impactado, com 17,9 milhões de hectares queimados, o que representa 58% do total nacional e configura a maior área destruída nos últimos seis anos. Esse recorde foi atribuído a um regime de chuvas abaixo da média histórica, agravando as condições ambientais.

No Cerrado, as queimadas consumiram 9,7 milhões de hectares, sendo 8,2 milhões em áreas de vegetação nativa, um aumento de 47% em relação à média dos últimos seis anos.
Já o Pantanal registrou a maior área queimada do ano no mês de agosto, com 648.796 hectares. No acumulado de 2024, 1,9 milhão de hectares foram afetados pelo fogo, marcando um aumento de 64% em comparação à média dos últimos seis anos.

De acordo com Vera Arruda, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e integrante do MapBiomas Fogo, o Cerrado historicamente apresentava queimadas naturais provocadas por raios durante a temporada de chuvas. Entretanto, "o que temos observado é um aumento expressivo do fogo em períodos de seca, impulsionado principalmente por atividades humanas e intensificado pelas mudanças climáticas”, afirma.