Adolescentes relatam terem sido barrados no Catuaí Shopping Cascavel; Guarda nega discriminação e fala em medidas de segurança
Vídeo de denúncia e relatos nas redes sociais apontam perseguição a jovens em Cascavel, enquanto a Guarda Municipal afirma que apenas menores já envolvidos em ocorrências são impedidos de entrar
Por Gazeta do Paraná

Um episódio registrado no último domingo no Catuaí Shopping Cascavel provocou repercussão nas redes sociais depois que um casal publicou um vídeo afirmando ter presenciado a proibição de entrada de um grupo de adolescentes — “vestidos de uma forma periférica”, nas palavras de uma das testemunhas — enquanto outros menores não teriam sido impedidos de entrar. No vídeo, o casal atribui a decisão ao segurança do shopping e diz que havia a participação de um agente da Guarda Municipal.
No registro em vídeo divulgado nas redes, os autores relatam que, ao esperar na entrada do shopping, observaram seguranças impedirem a entrada de “alguns meninos” vindos de um bairro próximo. “Vários outros menores entravam sem serem barrados”, diz uma das falas, e a presença da Guarda Municipal é citada como elemento participativo da ação. A testemunha afirma ainda que um dos agentes teria justificado a abordagem alegando que os jovens eram “do Bairro Interlagos” e “não tinham um real no bolso para gastar no shopping” — argumento que, segundo os autores do vídeo, configura discriminação socioeconômica e racial.
O diretor da Guarda Municipal de Cascavel, Adilson Machado, que estava presente no momento da ocorrência, afirmou que a corporação atua no shopping em apoio à segurança privada diante de situações recorrentes. “Eu mesmo estava lá no domingo. Os jovens que são barrados não é porque usam chinelo ou moram em determinado bairro, mas porque já foram identificados em situações concretas: desligar escada rolante, trombar nas pessoas, acionar o sistema de alarme, usar cigarro eletrônico ou até entorpecentes. Esses casos ficam registrados em imagens de monitoramento. Quando o shopping pede que alguém se retire, é porque isso fica documentado. O papel da Guarda é dar suporte quando há risco, não decidir quem entra ou não”, explicou.
Machado detalhou que muitos adolescentes chegam em grupos grandes, o que aumenta os registros de confusão. “Eles vêm em seis, oito, quinze”, relatou. Segundo ele, a Guarda Municipal já atendeu ocorrências de furtos, tumultos e acidentes. “Tivemos casos de furto de bicicleta elétrica, adolescentes flagrados com drogas e até situação de um rapaz circulando com doze meninas entre 10 e 12 anos desacompanhadas [de seus responsáveis legais]. Nessas circunstâncias, o shopping não pode assumir responsabilidade sozinho. Por isso, pedimos o contato dos pais e acionamos responsáveis sempre que necessário”, disse.
Ele também citou episódios recentes. “Domingo retrasado, um adolescente venezuelano de 17 anos desligou a escada rolante e provocou tumulto. Já tivemos gente que caiu dentro do shopping em função de brincadeiras desse tipo. Semana passada, recolhemos vários cigarros eletrônicos de menores, e muitos ficaram bravos. A Guarda está ali para evitar que isso aconteça de novo. Não tem nada a ver com roupa ou bairro, é uma questão de segurança para todos.”
O relato dos jovens nas redes
Enquanto o vídeo da denúncia circulava, outros conteúdos passaram a viralizar no Instagram. Um deles mostra adolescentes que teriam sido barrados tentando entrar pelos fundos do shopping, narrando uma espécie de “perseguição” quando foram notados pelos guardas já dentro do local. Nos comentários do vídeo, em uma rede social, vários jovens relatam abordagens. “Ontem os caras me revistaram e mandaram eu ir embora do Catuaí e eu estava parado mexendo no ‘cell’, literalmente”, escreveu um deles. Outro afirmou que o amigo foi expulso “por causa da roupa”. Um perfil comentou que “eles estavam ‘brecando’ todo mundo, não sei porquê”, enquanto outro ironizou: “falaram que agora o Catuaí é privado, acabei de sair da décima por causa desse lugar”.
Presença da Guarda em local privado
A presença da Guarda Municipal em um shopping, embora seja um espaço privado, ocorre quando há solicitação de apoio da administração em situações de risco ou tumulto. De acordo com Machado, há monitoramento constante por câmeras e, diante de episódios recorrentes de desordem e uso de substâncias, a atuação preventiva passou a ser realizada com frequência. A Polícia Militar também tem estado presente, inclusive com agentes à paisana, em operações pontuais. “É como quando tem o Show Rural. É um evento privado, certo!? Mas tem uma grande circulação de pessoas e por isso as forças de segurança se fazem presentes”, exemplificou.
O que falta esclarecer
Nossa equipe de reportagem localizou perfis de jovens que afirmam ter sido barrados e tentou contato com um deles para obter relato direto do ocorrido. Até o fechamento desta edição, não houve resposta. O Catuaí Shopping Cascavel – até o fechamento desta matéria - também não divulgou posicionamento oficial sobre o episódio, nem detalhou quais são as orientações aplicadas para a entrada de menores desacompanhados.
