A Libertadores da América do Brasil
Botafogo e Atlético-MG fazem hoje a sexta final entre brasileiros na Liberta
Por Luciano Neves

Há quem diga que a Libertadores da América está perdendo a graça pela falta de competitividade dos representantes dos outros países. O argumento é pelo domínio do Brasil na principal competição de clubes do continente. De 2019 para cá, apenas equipes do Brasil levantaram a taça. Inclusive, neste período, apenas dois times argentinos alcançaram a decisão: o River Plate, em 2019, quando foi derrotado pelo Flamengo, e o Boca Juniors, no ano passado, quando foi superado pelo Fluminense. Aliás, a última decisão sem a presença de brasileiros foi justamente entre os dois rivais argentinos. Em 2018, o River levou a melhor sobre o Boca, na última decisão com partidas de ida e volta. Inclusive, por conta de uma confusão entre torcedores dos dois times no jogo de ida, a Libertadores teve uma inédita final fora do continente. E o River foi levantar a taça lá em Madrid, capital da Espanha.
O curioso é que neste sábado (30), a final da Libertadores da América de 2024 será em Buenos Aires, capital da Argentina, sem a presença dos times da casa. Será mais uma final entre brasileiros, uma inédita decisão entre Botafogo e Atlético-MG, que jogam às 17 horas, no Monumental de Núñez, o estádio do River Plate.
Esta será a sexta final entre equipes do Brasil na história da Libertadores. A primeira delas ocorreu em 2005, quando o São Paulo levou a melhor sobre o Athletico-PR. No ano seguinte, o Internacional derrotou o Tricolor Paulista. Estas duas decisões ocorreram em jogos de ida e volta.
Em 2020, a terceira final brasileira foi em território carioca. O Palmeiras derrotou o Santos, no Maracanã. No ano seguinte, em 2021, o Verdão faturou o tri ao derrotar o Flamengo. Em 2022, nova final entre brasileiros. Desta vez, o Flamengo, sob o comando do atual técnico da Seleção Brasileira, Dorival Júnior, venceu o Athletico-PR.
A sexta final entre brasileiros também é uma final alvinegra. Dos dois finalistas, o Atlético-MG já sentiu o gostinho de conquistar a América. Em 2013, o Galo derrotou o Olímpia do Paraguai e faturou seu único título. Portanto, vivencia a sua segunda decisão. Já o Glorioso busca a primeira ‘glória eterna’, já que chegou na final pela primeira vez. Aliás, o Botafogo pode repetir o que fez o rival Flamengo. Em 2019, ano que iniciou a supremacia brasileira na Libertadores, o Rubro-Negro conquistou a América e o Campeonato Brasileiro. Foi o único time que conseguiu esse feito no Brasileirão na era dos pontos corridos. O outro brasileiro que conseguiu isso foi o Santos de Pelé na década de 60, quando o Brasileiro ainda nem era o Brasileirão.
O Botafogo ganhou moral para a final contra o Galo. Na última terça, derrotou o Palmeiras, principal concorrente ao título do nacional, com autoridade por 3 a 1, em pleno Allianz Parque. Com esse resultado, o Fogão encaminhou a conquista do Brasileirão, já que depende só de si para levantar a taça.
Campanhas
O Botafogo vivenciou um caminho mais longo nesta Libertadores da América. Teve que passar pela fase prévia com dois mata-matas. Superou o Aurora da Bolívia com certa tranquilidade e depois eliminou o Bragantino, num inédito duelo brasileiro na fase prévia.
Na fase de grupos, o Fogão começou mal com duas derrotas seguidas. Mas depois, já sob o comando do português Artur Jorge, o time embalou, mas ficou com a segunda posição no Grupo D. Nas fases eliminatórias, o Fogão foi o algoz de outros dois brasileiros. Eliminou o Palmeiras nas oitavas e o São Paulo nas quartas, este com sofrimento, já que a vaga veio nos pênaltis após dois empates. Nas semifinais, fez um jogo maiúsculo contra o Peñarol por 5 a 0 na ida. Depois, mesmo com a derrota por 3 a 1, no Uruguai, o time avançou para a final.
Já o Atlético-MG teve uma campanha um pouco mais sólida na fase de grupos e foi o líder da chave G, com a segunda melhor campanha desta etapa da Libertadores. O Galo, do técnico argentino Gabriel Milito, despachou dois rivais da Argentina. Nas oitavas passou pelo San Lorenzo com um certo aperto. E nas semifinais, despachou o River Plate, que era o dono da melhor campanha, havia chegado de maneira invicta a etapa da Liberta e era apontado como favoritaço. No jogo de ida, o Galo teve a sua melhor atuação da temporada com uma vitória por 3 a 0, com show de Deyverson, resultado que encaminhou a classificação. Antes, nas quartas, o Atlético-MG levou a melhor sobre o atual campeão Fluminense em outro duelo brasileiro. Perdeu o jogo de ida por 1 a 0 e depois venceu por 2 a 0.
Gringos
Os dois brasileiros envolvidos nesta final de Libertadores são dirigidos por treinadores estrangeiros. No Fogão, o trabalho do português Artur Jorge não foi nada fácil: elevar o ânimo do time que provavelmente protagonizou a pior derrocada da história do futebol. Mas o técnico não só assumiu o desafio de ser o “caça-fantasmas” do Botafogo, como também levou o clube à sua primeira final de Copa Libertadores. Depois do pesadelo de 2023, Artur Jorge transformou o Botafogo em uma máquina ofensiva (84 gols em 52 jogos) que briga por dois títulos, em parte graças aos mais de R$ 300 milhões (R$ 1,7 bilhão, na cotação atual) investidos em contratações na temporada.
Revoltados, os torcedores do Atlético-MG chegaram a pedir sua cabeça após uma série de derrotas vergonhosas. Mas o técnico argentino Gabriel Milito ganhou vida nova ao levar o Galo à final da Copa Libertadores de 2024. No momento em que as críticas aumentavam, na metade da temporada, Milito manteve a cabeça fria e a serenidade que o fizeram se destacar quando era zagueiro do Barcelona e da seleção argentina. Amigo de Lionel Messi e irmão do ex-atacante Diego Milito, o treinador argentino encara as crises com muita autocrítica. “Estamos jogando abaixo da nossa capacidade. É uma fase complicada. É difícil encontrar uma explicação, mas temos que melhorar”, disse.