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A Expopato antes do show: a crônica de um edital que virou assunto de cidade

Enquanto nomes nacionais já têm cachê e agenda garantidos, a seleção dos artistas de Pato Branco será definida em reunião no Gabinete do Prefeito, gerando comentários irônicos e reflexões nas redes sociais

A Expopato antes do show: a crônica de um edital que virou assunto de cidade Créditos: Divulgação

Bruna Bandeira da Luz
Cascavel 

Todo grande evento tem um “esquenta” antes da programação oficial. Às vezes é a montagem do parque, às vezes o anúncio das atrações principais. Em 2025, porém, a Expopato conseguiu aquecer o público de outra forma: por meio da Chamada Pública Simplificada nº 002/2025, que convida artistas de Pato Branco a se apresentarem na feira sem cachê, mediante sorteio para definir dia e horário.

A proposta foi divulgada com linguagem formal, como manda o figurino: inscrições, reunião no dia 4 de novembro, às 15h, no Gabinete do Prefeito, e participação “sem custo ao Município e à Comissão”. Um texto objetivo, burocrático — mas que deu origem a uma narrativa digna de crônica.

Dá para imaginar a cena: artistas chegando à reunião com uma pasta de letras, um cabo de violão enrolado no braço, afinamento vocal preparado… e aguardando a sorte decidir se cantarão no pôr do sol de sábado ou na calmaria da terça-feira. Um roteiro que lembra mais quermesse que festival: a expectativa do “quem será o próximo?” ganhou vida antes mesmo da música.

Ao fundo desse enredo, estão já agendados — e pagos conforme a tradição dos grandes contratos — os shows nacionais: Simone Mendes (08/11), Padre Ezequiel (09/11), Isadora Pompeo (10/11), Alexandre Pires (12/11), Zé Neto & Cristiano (13/11), Jota Quest (14/11) e Luan Santana (15/11). Palcos prontos, estrutura garantida, horários definidos. Os artistas locais, por sua vez, aguardam o capítulo do sorteio.

Quando o edital chegou às redes sociais, não demorou para que a publicação ganhasse vida própria. A seção de comentários tornou-se um painel de criatividade regional. Alguns leitores deixaram registrado um humor que só aparece quando a surpresa encontra a ironia:

— Só faltou pedir para o artista levar a própria água e montar o palco.
— Pelo menos podia sortear junto um vale-lanche.
— Se é sorteio, já estou treinando o ‘52!’, igual bingo de igreja.

Outros imaginaram o momento do sorteio como um espetáculo à parte, desses que merecem transmissão ao vivo: bolinhas numeradas, alguém puxando o papel de dentro de um globo transparente e a plateia segurando a respiração enquanto se anuncia quem ganhou “a vaga das 18h de quinta-feira”.

Houve quem tratasse a proposta com fina ironia, observando o contraste com a programação principal:
— O artista canta de graça, mas pode dizer que dividiu palco com Luan Santana. Parece justo… para alguém.

E circularam também comentários que tentaram aliviar o tom e enxergar o lado possível da situação, numa espécie de filosofia do copo meio cheio:
— Para quem está começando, subir ao palco já é lucro. Visibilidade conta.

A diversidade das reações foi tamanha que o edital acabou abrindo espaço para um debate familiar a qualquer cidade que realiza grande evento anual: qual é, afinal, o lugar do artista local na programação? Quanto vale a presença de quem compõe a cena cultural do cotidiano? A visibilidade oferecida compensa a ausência de cachê? Perguntas que não surgiram apenas agora, mas que ressurgiram com vigor — desta vez, acompanhadas de um repertório de humor espontâneo.

O fato é que a Expopato conseguiu, antes do primeiro acorde, despertar o público. Criou-se uma espécie de “pré-show”, em que a plateia ainda não dança nem canta, mas comenta, questiona, ri, compartilha e espera para ver qual será o próximo passo. E, como em toda boa feira, há quem já esteja preparando discurso para a reunião — uns com leveza, outros com ironia, todos com opinião.

Quando chegar o dia 4 de novembro, o Gabinete do Prefeito poderá viver uma tarde digna de enredo teatral. Não haverá luzes de palco, mas certamente haverá expectativa. Artistas aguardando a própria vez, observadores curiosos, e talvez até alguém calculando probabilidades do sorteio — porque, em Pato Branco, cultura e matemática podem muito bem dividir o mesmo espaço.

No fim das contas, a Expopato 2025 conseguiu um feito curioso: antes dos portões abrirem, antes dos shows principais e antes do cheiro de parque tomar conta da cidade, já existe público atento, acompanhando os bastidores. Se o objetivo de um evento é gerar movimento, conversa e interesse, este capítulo preliminar — surgido de um simples edital — já cumpriu essa função com louvor.

Resta agora observar os próximos atos. Afinal, toda grande festa começa com uma história — e esta, por enquanto, segue em ritmo de crônica.

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