Ponto 14

'Às vezes a gente não tem dinheiro para comprar almoço', diz frequentadora de projeto que distribui marmitas para população em situação de vulnerabilidade em Curitiba

Por Giuliano Saito


Vereadores de Curitiba aprovaram sugestão para retirar Mesa Solidária da região central da cidade. Proposta foi recusada pela prefeitura. Desde que começou a funcionar, programa distribuiu mais de 1 milhão de refeições. Mesa Solidária atende centenas de pessoas diariamente Maria de Lourdes Barbosa, frequentadora do programa Mesa Solidária, afirmou que todos os dias vai até a sede Luz dos Pinhais, na Praça Tiradentes, para almoçar. "Eu venho todo dia porque o almoço aqui é bom. Às vezes a gente não tem dinheiro para comprar almoço, para pagar para almoçar", relatou. Maria de Lourdes Barbosa é frequentadora do programa Mesa Solidária, em Curitiba Reprodução/RPC A iniciativa atende, desde 2019, pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade social com distribuição de marmitas. No início do mês, vereadores de Curitiba aprovaram uma sugestão a prefeitura que pedia que o programa Mesa Solidária Luz dos Pinhais fosse alterado do Centro da cidade para outra região. A autoria da sugestão é do vereador Eder Borges (PP) e o texto não sugere para onde o programa deveria ir. A votação ocorreu de maneira simbólica e 17 vereadores foram favoráveis e 6 contrários. Na segunda-feira (14) a Prefeitura de Curitiba afirmou que não iria acatar a sugestão. Nesta terça-feira (13), o vereador que fez a proposta voltou a falar sobre o assunto na Câmara Municipal. "Nós não temos que acabar com esses programas que dão comida para as pessoas. Nós precisamos repensá-los, aprimorá-los, e nós precisamos salvar o Centro de Curitiba. O Centro de Curitiba está intransitável", afirmou Eder Borges. A proposta Ao apresentar a proposta, em 6 de junho, Eder Borges justificou que a presença de pessoas em vulnerabilidade no Centro está atrapalhando o comércio. Afirmou, também, que o Centro de Curitiba está "virando uma cracolândia", fazendo menção a área de São Paulo ocupada por usuários de drogas. "A ideia é que esse programa seja otimizado. Feito de forma mais inteligente, eu diria, e que promova uma revitalização do Centro de Curitiba. Essas pessoas não tem porque estar no Centro. Porque uma grande dessas pessoas estão nessa situação por uma questão de 'drogadição', uma questão que acaba atraindo outros problemas maiores, como a questão de assaltos", disse Borges em entrevista à RPC. No texto da sugestão, o vereador diz que, segundo comerciantes, há desperdício de alimentos pelas pessoas que participam do programa; que a comida descartada nas ruas atrai ratos e insetos; e que há fragilidade da segurança de munícipes e turistas, abordados pelas pessoas vulneráveis na região central. O texto apresentado por Borges não sugere para onde o programa deveria ir. A votação ocorreu na quarta-feira (7), de maneira simbólica. 17 vereadores foram favoráveis e 6 contrários. Em votações simbólicas, não ficam disponíveis os nomes dos parlamentares favoráveis e contrários a proposição. Prefeitura recusou a sugestão De acordo com Luiz Dâmaso Gusi, da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN), a proposta foi recusada. Entre os motivos, estão os resultados positivos no acesso das populações mais vulneráveis a políticas públicas por meio do Mesa Solidária. "Nós não vamos tirar o Mesa Solidária da Praça da Luz dos Pinhais, porque ele é um elemento de convergência. Na nossa avaliação, não é esse tipo de acesso à alimentação, acesso aos serviços da rede de produção social, que mantém a população no Centro da cidade. A nossa avaliação é muito na questão da qualidade alimentar e no acesso a rede de proteção social, em toda a conexão que, através do alimento, você traz o terceiro setor e o setor privado para uma ação conjunta", afirmou Gusi. LEIA MAIS: Prefeitura de Curitiba recusa sugestão aprovada por vereadores para retirar do Centro distribuição de marmitas para população em situação de vulnerabilidade Impactos Programa Mesa Solidária, em Curitiba Reprodução/RPC De acordo com Leonildo José Monteiro Filho, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, por mês são 6 mil marmitas distribuídas. Ele considera que a iniciativa da proposta foi feita sem o devido diálogo com a sociedade. "Muito triste, um vereador que tenha essa iniciativa sem conversar com a sociedade civil, sem conversar com as pessoas que precisam dessa alimentação. Ele traz e coloca lá na Câmara, e a gente fica mais triste que é acompanhado por mais 16 vereadores. Não sei se eles já passaram fome alguma vez na vida, mas pelo jeito não, porque é muito fácil você tirar a comida, recomendar uma proposta dessa, sem dialogar com quem passou fome ou entrega essa comida", afirma Leonildo. Em relação ao relato do vereador sobre o movimento do público da Mesa Solidária atrapalhar os comerciantes locais, Leonildo sugere que os comerciantes conversem com a iniciativa para encontrar uma solução. "Vamos trabalhar juntos, achar uma alternativa. O que a gente não pode fazer é tirar da boca de 5 mil pessoas um alimento", diz. 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O Mesa Solidária também é uma política pública integrada do município, sendo a porta de entrada para o resgate desses cidadãos, através da Rede de Proteção Social de Curitiba, ao ofertar diversos serviços do município", explica a prefeitura. Em abril deste ano, por exemplo, o Mesa Solidária ganhou espaço da FAS de apoio à população de rua e encaminhamento aos serviços sociais prestados pela Prefeitura, como Cadastro Único (CadÚnico), CRAS, CREAS, acolhimento e cursos profissionalizantes. Além do espaço que funciona na Praça Tiradentes, a prefeitura também oferece alimentação nos restaurantes populares do Capanema (Jardim Botânico) e Rui Barbosa (Centro). VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.