VÍDEO: conheça o 'portunhol selvagem', língua falada na tríplice fronteira Brasil, Paraguai e Argentina
Por Giuliano Saito
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Expressão acende discussão sobre combinação do 'portunhol' com outras línguas faladas na região, como o guarani e o árabe. g1 explica o conceito levantado por movimento literário. Escritor e doutora em Educação falam sobre a importância do 'portunhol selvagem' Um movimento literário tem levantado a discussão sobre o chamado "portunhol selvagem". A expressão pretende ir além da mistura do português com espanhol falada na tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. Veja mais sobre o conceito no vídeo acima. Doutora em Educação, Jorgelina Tallei é professora da Universidade Federal da Integração Latino Americana (UNILA) e estuda o debate sobre a nova expressão. Ela explica que o movimento discute o o emprego de outras línguas, como o guarani e o árabe, junto ao "portunhol" - língua não oficial falada na região. Jorgelina é argentina, mas vive em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. A cidade paranaense faz divisa com Puerto Iguazu, na Argentina e Ciudad do Leste, no Paraguai. "É um movimento literário, uma expressão literária, que mistura e pode vir a misturar várias línguas, como o espanhol, o português, o guarani e outras. [...] O portunhol selvagem se caracteriza como um movimento artístico, diferente do portunhol, porque ele é uma mistura de várias representações, na medida em que nomeamos eles", explicou a doutora. Argentina elimina exigências para entrada de turistas na via terrestre Há 18 anos na tríplice fronteira, ela defende que o "portunhol", apesar de não ser normalizado propriamente como uma língua por não ter normas e gramática especifica, é uma das fortes características da região. "Para mim é uma língua porque forma parte da identidade da fronteira. Então, na medida que ele for parte da nossa identidade de fronteira, eu identifico ele como uma língua. E a língua que me identifica, essa mistura de línguas entre o espanhol, português e outras", explica ela. 'Portunhol selvagem é minha língua mãe' O escritor e tradutor Douglas Diegues, filho de mãe paraguaia e de pai brasileiro, foi criado no Mato Grosso onde teve contato com o que ele chama de "portunhol selvagem". Diegues é um dos defensores dessa variação do "portunhol". “A primeira língua que aprendi foi o 'portunhol selvagem', minha língua mãe, que era a língua que a minha mãe conversava comigo. [..] Faz parte da minha formação e desenvolvimento como pessoa.[...] Sou falante inconsciente e consciente”, destacou o escritor. Escritor e doutora em Educação falam sobre o 'portunhol selvagem' Reprodução Diegues é autor do livro infanto-juvenil "Era uma vez em la fronteira selvagem". A obra traz contos da fronteira e poemas escritos no "portunhol selvagem" (veja poema no vídeo no início desta reportagem). O interesse por estudar o conceito surgiu quando ele teve contato com a obra "Mar Paraguayo", de 1992, do escritor paranaense Wilson Bueno, morto em 2010 em Curitiba. Escritor Wilson Bueno é encontrado morto em casa, em Curitiba Acusado de matar escritor Wilson Bueno é absolvido em julgamento Autores comentam morte do escritor Wilson Bueno em Curitiba Bueno é considerado o "pai do portunhol" na literatura por ter introduzindo em sua obra, que teve alcance internacional, expressões em português, espanhol e guarani. "Mar Paraguayo" conta a vida de uma sofrida mulher e "el viejo". "Eu comecei a estudar o portunhol quando li fragmentos do livro “Mar Paraguayo”, de Wilson Bueno [...] Fiquei tão entusiasmado com isso que pensei: ‘Nossa, um texto literário com uma língua que eu conversava com a minha mãe na infância", afirmou o escritor. "Eu entendo o portunhol selvagem como uma língua literária, uma língua não domesticada, que não existe como idioma oficial, língua pátria, mas existe como fala e escrita literária, então é isso que eu penso sobre o portunhol selvagem. Você pode trabalhar com três gramáticas basicamente, o português , o espanhol, o guarani, mas é algo que não é estático, você pode misturar, brincar, esse lado lúdico. [...] Me sinto uma criança nesse universo de juntar palavras e idiomas, não tem limites", destaca o escritor. Marco das Três Fronteiras em Foz do Iguaçu Divulgação Jeito 'certo' de falar portunhol Conforme Jorgelina, não há um consenso sobre a forma correta de falar o "portunhol" ou o "portunhol selvagem". Para ela, ambas as "línguas" se modificam à medida que vão transitando entre as inúmeras linguagens presentes na tríplice fronteira. "Se perguntarmos para pessoas que moram na tríplice fronteira e perguntarmos que língua que falam, muitos vão falar a ‘língua da fronteira’ ou portunhol. Eu falo um pouquinho de português e portunhol, eu falo a língua da fronteira. Essa língua é o trânsito da fronteira, das dinâmicas da fronteira que vão se dando. E, aqui, nesta tríplice fronteira, o espanhol, o português, o árabe, o guarani, muitas línguas se entrelaçam e se misturam, que pode ser o portunhol selvagem, se nós criamos uma identidade a partir da ideia de pensar em um movimento artístico", explicou a doutora em educação. Portunhol na literatura da fronteira Jorgelina é autora de “A língua de todos, a língua de casa um”, primeiro livro a ser publicado na tríplice fronteira escrito em "portunhol". A obra conta a história de uma criança que chega a uma escola de Foz do Iguaçu falando em outra língua e destaca a importância de acolher as diferentes línguas no ambiente escolar, dentro do processo multilinguístico da fronteira. A ideia do livro é mostrar que as múltiplas línguas são importantes e que, ao invés de corrigir as crianças, é importante as escolas incentivá-las a falar suas línguas maternas. “Falar outra língua é o que nos identifica em um mundo globalizado como o de hoje, e nesta fronteira como a tríplice fronteira, mais ainda. [...] Cada fronteira tem as suas particularidades, aqui dessa fronteira o português, o espanhol, o guarani, o árabe, são muito importantes e diferem de outras fronteiras do Brasil”, destacou a doutora. VÍDEOS: mais assistidos g1 PR Veja mais notícias da região em g1 Oeste e Sudoeste.
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