Vereador Fão do Bolsonaro é acusado de quebra de decoro na Câmara de Cascavel

Mesa Diretora tem cinco dias para decidir se abre processo, que pode ser encaminhado à Comissão de Ética

Por Gabriel Porta

Vereador Fão do Bolsonaro é acusado de quebra de decoro na Câmara de Cascavel Créditos: Flávio Ulsenheimer/CMC

A sessão da Câmara de Vereadores de Cascavel, realizada ontem (02), foi marcada por uma denúncia. O vereador Fão do Bolsonaro (PL) foi acusado de quebra de decoro parlamentar, em razão de um episódio ocorrido na última sexta-feira (30). A representação foi protocolada pelo advogado Moacir Vosniak, que acompanhava um grupo de mães de alunos de um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da cidade.

A denúncia está diretamente ligada à recusa do vereador em assinar um documento que pedia a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a demora na conclusão de um processo administrativo. O caso envolve um servidor que, mesmo condenado por abuso sexual contra uma criança de três anos, permaneceu atuando na unidade por quatro anos após o início das investigações.

Pelo regimento da Câmara, as punições por quebra de decoro parlamentar podem variar desde uma advertência até a perda do mandato, dependendo da gravidade da conduta. A Mesa Diretora tem até cinco dias para decidir se acata ou não a representação, com base em parecer jurídico. Se for aceita, o processo segue para análise da Comissão de Ética da Casa.

O caso do “Professor Monstro”

As famílias cobram respostas sobre o caso desde que veio à tona que o agente de apoio — condenado a 30 anos de prisão por abuso sexual — só foi exonerado no fim de 2023, embora o crime tenha ocorrido em 2019. A revolta gira em torno da lentidão na condução do processo administrativo, que deveria ter sido concluído em até 120 dias.

Diante da demora, as famílias estão buscando a Justiça por conta própria. A Secretaria de Educação afirma que todas as medidas cabíveis foram tomadas e que o processo foi encaminhado à Corregedoria do Município. Uma sindicância interna tenta esclarecer por que a exoneração definitiva só ocorreu quatro anos após o início do procedimento.

Em seu instagram, Edson Souza (MDB) se posicionou de forma contundente sobre a recusa de Fão do Bolsonaro em apoiar a instalação da CPI. Segundo Edson, o colega tenta distorcer os fatos e apresentar sua decisão como um ato de coragem, quando, na realidade, as mães só buscavam apoio para que a Câmara se posicionasse de maneira firme.

“Aquele documento entregue na Câmara não foi elaborado por grupo político algum, muito menos por militantes de esquerda, como querem fazer parecer. Foram mães que estiveram aqui, pedindo apoio para apurar por que um processo administrativo sobre abuso sexual demorou quatro anos para ser concluído”, afirmou.

Para Edson, o argumento de que o documento não tinha validade legal é frágil. “Não é papel das mães produzir um texto técnico legislativo. Quem ocupa cargo eletivo tem o dever de entender o peso político daquele pedido. Assinar significava sinalizar apoio à CPI, e isso bastava”, defendeu.

O vereador também classificou como manobra a decisão de alguns parlamentares de aguardar a conclusão da sindicância municipal antes de decidir sobre a CPI. “Quatro anos esperando. A CPI não vai investigar o crime em si, mas sim a omissão do Poder Executivo, na gestão de Leonardo Paranhos, que permitiu que o servidor seguisse trabalhando enquanto era investigado. Por que só agora, com o novo prefeito Renato Silva, a sindicância anda?”, questionou.

Edson destacou que soube do caso pela primeira vez após um pronunciamento do vereador Everton Guimarães (PMB). Segundo ele, Everton inicialmente apresentou um requerimento de informação, optando por esperar mais 15 dias. Passado o prazo, houve uma nova negociação — feita diretamente com o Executivo e sem consultar os vereadores que já apoiavam a CPI.

Ao encerrar sua fala, Edson criticou a tentativa de politizar o sofrimento das mães. “Não há perseguição política aqui. Basta olhar os vídeos da sessão. Foram as mães que pediram, foram elas que cobraram. Ideologizar esse pedido legítimo é desrespeitoso e perigoso. A dor dessas famílias não pode ser transformada em palanque político”, concluiu.

Após a repercussão, o vereador Fão do Bolsonaro (PL) respondeu com duras críticas nas redes sociais. “Antes de falar abobrinha, de mentir para a população de Cascavel, tome vergonha na cara e lave essa boca com detergente”, disparou.

O vereador negou que tenha se recusado a apoiar a CPI e afirmou que sempre defendeu que qualquer investigação aconteça dentro dos trâmites legais. “A gente nunca falou que não ia assinar CPI nenhuma. Isso é mentira. Existe a lei, e a lei tem que ser cumprida”, declarou.

Fão também alegou estar sendo alvo de difamação. “Tem vagabundo usando página de rede social para tentar me difamar. Mas acalmem-se, senhores, que a verdade vai vir à tona. Porque eu não tenho rabo preso com ninguém”, afirmou. Em tom exaltado, voltou a defender penas duras para casos de abuso. “Eu defendo pena de morte para político corrupto e estuprador.”