Ponto 14

Turismo cresce no Paraná, mas falta de dados detalhados dificulta análise, avalia especialista

Por Giuliano Saito


IBGE indica que atividades turísticas cresceram 13,6% no estado nos primeiros cinco meses de 2023, mas não detalha arrecadação. Setor esbarra no sigilo de muitas empresas turísticas. Em indicadores isolados, turismo no Paraná apresenta bons resultados, mas há dificuldade para se falar em arrecadação do setor Jonathan Campos O volume de atividades turísticas vem crescendo mês a mês no Paraná em 2023, na comparação com o ano passado. É o que indica dados de janeiro a maio da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O volume de atividades turísticas registrado no Paraná cresceu de janeiro a maio de 2023, na comparação com os mesmos meses do ano anterior, segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, os números dão apenas uma "pista" de como caminha o setor. O turismo vive um momento de ausência de dados capazes de mostrar, em reais, por exemplo, quanto o Paraná arrecada ano a ano. Os dados do IBGE são apenas um dos indicadores usados pelo poder público e por analistas para conseguir entender o potencial turístico do estado. Porém, o sigilo adotado por muitas empresas dificulta o detalhamento das atividades. “Qualquer valor informado poderia eventualmente, em recortes menores, dar pistas sobre a informação de receita de uma determinada empresa, que por ventura domine determinada atividades econômicas. A informação de receita dada pela empresa é sigilosa, por isso a divulgação é feita em termos relativos”, explicou o IBGE. De acordo com a pesquisa, os cinco primeiros meses de 2023 registraram alta do volume de atividades turísticas na comparação com os mesmos meses do ano anterior. Veja: MAIO DE 2023: alta de 8,6% ante maio de 2022 ABRIL DE 2023: alta de 3,6% ante abril de 2022 MARÇO DE 2023: alta de 6,3% ante março de 2022 FEVEREIRO DE 2023: alta de 14,2% ante fevereiro de 2022 JANEIRO DE 2023: alta de 12,6% ante janeiro de 2022 Atualmente, a Secretaria de Turismo do Paraná (Setu) trabalha com indicadores, de origens variadas, para analisar a arrecadação e movimentação do setor. O mesmo se repete em outros estados. Veja detalhes abaixo. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Informalidade e diversidade A complexidade da estruturação do turismo pode ser um dos motivos para a ausência de um indicador único, conforme indica análise do professor Carlos Eduardo Silveira, doutor em gestão e desenvolvimento do turismo sustentável. Ele explica, por exemplo, que muitas empresas não são identificadas como participantes do setor turístico, o que impacta nos números. A informalidade de trabalhadores também é um fator que não facilita a leitura do setor. Conforme Carlos, uma pesquisa realizada pelo Observatório de Turismo do Paraná, no departamento de turismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), revelou que muitas empresas de tecnologia têm dificuldade em perceber que estão ligadas ao segmento. “A grande maioria delas dizia não ter vínculo nenhum com o turismo. O que não é verdade. Boa parte dessas empresas prestava serviços para empresas turísticas, ou para organizações, ou até para governos municipais, mas não se sentiam parte desse ramo. E isso é bastante frequente.” A ausência de dados não impede que o Paraná consiga se organizar para identificar potencialidades e fragilidades do setor. Também não impede que o estado realize investimentos. Porém, é uma dificuldade a mais para o trabalho de técnicos. Conheça opções de turismo em diversas regiões do Paraná: ? Ribeirão Claro: o polo de resorts rurais que abriga a única ponte pênsil do Paraná ??‍♀️ Candói: o paraíso cercado de usinas e lagos artificiais ⛰️ Capanema: a cidade às margens do Parque Nacional do Iguaçu com opções de ecoturismo ? Lagoa Azul: as belezas do paraíso escondido no noroeste ?️ Roteiro: opções de ilhas para visitar no litoral Para o professor Carlos Eduardo, a ausência de dados concretos na economia turística pode ser reflexo, também, de uma mudança legal que ocorreu nos idos de 1980, quando as atividades do setor foram flexibilizadas. "Quando acabou a ditadura militar, acabou a obrigatoriedade de vínculo de atividades econômicas ligadas ao turismo à Embratur, ou Ministério do Turismo, ou aos órgãos estaduais ligados ao turismo. Então, qualquer um que tenha vontade de ter uma pousada, vai se registrando em junta comercial, seguindo padrões legais, mas não necessariamente se vinculando a um órgão que conheça da atividade turística", explicou o professor. Veja também: Raio X: Turismo paranaense está concentrado em 220 municípios PIB O Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo, não separa quanto o setor contribuiu, sozinho, para a economia do Paraná. O indicador monitora a atividade econômica do país ao logo do tempo e pode ajudar a direcionar, por exemplo, decisões econômicas de órgãos governamentais. O coordenador de Inteligência e Estratégia Turística da Secretaria de Turismo do Paraná (Setu), Yure Lobo, reconhece que o tema é uma dificuldade para o setor. Ele explica que, para o cálculo, precisaria existir no estado a capacidade de separar uma quantidade grande de canais específicos da atividade turística dentro do PIB. Poucos estados conseguem chegar a este número, pois como o turismo está dentro da área de serviços e não é feita desagregação dos valores pelo IBGE, se torna difícil ter esta porcentagem Conforme o professor Carlos Eduardo Silveira, outro motivo que dificulta a compilação de dados econômicos do turismo é a "cultura de ocultação fiscal". “Nós temos uma dificuldade relacionada à clareza nas nossas contas, dificuldade de compartilhamento de informações. E isso é também uma questão cultural nacional. Especialmente quando diz respeito a informações que sejam fiscais [...] Separar o que é arrecadado pelo turismo de outras atividades não seria impossível. Mas não entra nas prioridades." De acordo com o Ministério do Turismo (MTur), em 2022, o faturamento do setor no país foi de R$ 208 bilhões – 28% maior do que o registrado em 2021. De janeiro a abril deste ano, o setor arrecadou R$ 73 bilhões, valor 15,8% maior do que o registrado no mesmo quadrimestre de 2022. Outros indicadores Para analisar o potencial turístico economicamente, outro indicador utilizado pelo estado para análises isoladas é Valor Agregado Fiscal (VAF). Em 2021, por exemplo, a arrecadação do VAF nas atividades características do turismo foi de R$ 2,7 bilhões no Paraná. O volume, entretanto, se refere a atividades que tiveram incidência de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O número, portanto, não representa tudo que o estado pode ter arrecadado, uma vez que serviços turísticos em municípios recolhem Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). A Associações de Municípios do Paraná (AMP) explicou que, sobre este imposto, os municípios não possuem capacidade catalogar o que, especificamente, vem do turismo. Dificuldade de identificação sobre quem é turista e quem é morador de uma cidade também é fator que dificulta análises econômicas, indica especialista Setu O professor Carlos Eduardo ressaltou que a reforma tributária, aprovada na Câmara dos Deputados, pode trazer uma nova perspectiva para a compilação de dados que beneficiem a análise e posterior investimento no setor turístico. “O turismo tem características peculiares. Muitas das hospedagens, a grande parte das agências e dos prestadores de serviço, são pequenas empresas, quando não são MEIs ou autônomos, informais. Essas pessoas, em muitas situações, tentam otimizar os seus recursos e maximizar lucros, omitindo informações para economizar em pagamentos de impostos, por exemplo. Há uma cultura de omissão de informação. E mesmo que a gente não considere essa omissão, os níveis de serviços prestados são bastante complexos.” Vídeos mais assistidos do g1 PR: Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.