Testemunha afirma à polícia que ouviu guarda dizer 'putz, disparou' após estudante ser baleado em abordagem
Por Giuliano Saito
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Caio Lemes, 17 anos, morreu com tiro na cabeça em abordagem da Guarda Municipal de Curitiba. Câmeras dos agentes estavam desligadas. Defesa dos guardas disse que eles agiram em legítima defesa. Guarda municipal que atirou em adolescente na CIC deve responder por fraude processual Uma testemunha ouvida pela Polícia Civil do Paraná (PC-PR) no caso que investiga a morte do estudante Caio José Ferreira de Souza Lemes, de 17 anos, afirmou que ouviu um dos guardas municipais envolvidos dizer na abordagem dizer "putz, disparou", logo após Caio ser baleado. Assista acima. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram O jovem morreu com um tiro na cabeça no último sábado (25), na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Segundo a Guarda Municipal, três agentes apuravam denúncia de tráfico de drogas. Edson Pereira, o agente que disparou, disse que Caio estava com uma faca e que partiu para cima dele. À polícia, a testemunha afirmou que quando o disparo aconteceu, Caio estava rendido. Disse, também, que o jovem não estava armado e fez "tudo que o policial pediu". O depoimento foi obtido com exclusividade pela RPC. "O policial pegou e falou pra ele assim de novo: 'mão na cabeça', pra ele voltar com a mão, e mandou ele deitar. Daí quando ele já tinha deitado, daí quando ele levou a mão na cabeça o policial chegou perto dele e daí disparou. Daí ele falou assim: 'putz, disparou'." Garoto de 17 anos estava no 3º ano do Ensino Médio Arquivo da família No Boletim de Ocorrência (B.O.) do caso, os guardas afirmam que o adolescente teria tirado do boné uma faca de 25 centímetros após supostamente fugir da abordagem. A testemunha afirmou, entretanto, que Caio não usava mais o boné quando estava rendido. A defesa de Edson Pereira e dos outros dois guardas envolvidos, Edmar Teixeira Júnior e Anderson Bueno de Jesus, disse que o guarda que disparou agiu em legítima defesa. "Tenho a segurança absoluta que vão conseguir provar que isso não ocorreu. Não houve mentira, não houve fraude processual. Não houve tentativa de homicídio. Segundo o que consta ali, houve ameaça e um disparo. Na interpretação do guarda que estava naquela situação, não houve disparo acidental", afirmou o advogado Rodrigo Cunha. O que diz a polícia De acordo com o delegado Eric Guedes, Edson Pereira é suspeito de homicídio culposo e fraude processual, por ter, supostamente, mentido nas investigações. O delegado afirmou que a arma utilizada no caso e a faca que supostamente estava com Caio serão periciadas. "A gente está investigando se teve homicídio culposo, um suposto disparo acidental, e posteriormente a fraude processual, um subtipo do crime de abuso de autoridade (...) De acordo com o relato de testemunhas, principalmente dessa ocular, não houve essa investida com a faca. Talvez o Caio nem estivesse com a faca", afirmou o delegado. Os outros dois guardas envolvidos, segundo o delagado, também devem responder por fraude processual. A mãe de Caio, Lilian Ferreira da Silva, disse que espera por Justiça pelo filho. "Agora ficou bem esclarecido que meu filho não estava armado com faca, que meu filho se rendeu. E que o policial era um incompetente. São os piores dias da minha vida, acabou. Ele não matou só o meu filho, ele matou a minha família." Imagens mostram guardas correndo atrás do jovem Imagens anexadas ao inquérito policial que investiga a morte mostram o momento em que guardas municipais correm atrás do jovem. Os agentes estão fardados e com armas em punho; Caio está sem camiseta, de bermuda e com um boné vermelho na cabeça. Em determinado momento, não é possível mais ver os guardas e o adolescente e é possível ouvir um barulho, que parecer ser um tiro. Imagens mostram momento em que guardas perseguem jovem durante abordagem Leia mais sobre a morte do adolescente: 'A violência não pode ser vista como normal no mundo' diz prefeito Rafael Greca Câmeras corporais de guardas envolvidos em abordagem estavam desligadas Polícia investiga morte de adolescente baleado por guarda municipal em Curitiba Câmeras desligadas Havia câmera de monitoramento acoplada à farda dos guardas, contudo, de acordo com a Prefeitura de Curitiba, o equipamento estava desligado. Ainda conforme a prefeitura, todos os agentes receberam treinamento para uso das câmeras. Sobre este assunto, a defesa dos três guardas envolvidos alegou que os guardas não tiveram tempo de ligar os equipamentos, mesmo durante o caminho que os agentes fizeram para averiguar a situação que envolvia Caio. "Assim que iniciaram a ocorrência eles se preparam, primeiro, para fazer taticamente a abordagem. Uma abordagem segura. Quando iniciam essa abordagem, o rapaz foge [...] Eles queriam naquele momento resguardar a vida deles e de outras pessoas. Não deu pra ligar a câmera. Mas a ação dele foi totalmente legítima", disse o advogado Rodrigo Cunha. Defesa de guardas municipais diz que eles não tiveram tempo de ligar a câmera O decreto que regulamenta o uso das câmeras por guardas municipais de Curitiba determina que a gravação deve ocorrer de forma ininterrupta, no mínimo, por 12 horas, com captação de áudio e vídeo. O texto estipula também que o material deve ser armazenado por um ano, mas não prevê punições caso as gravações não sejam realizadas. A Guarda Municipal afirmou ter instaurado um procedimento administrativo para apurar as circunstâncias da morte de Caio, incluindo o fato das câmeras estarem desligadas. Imagens mostram Caio e guardas municipais correndo em abordagem em Curitiba Divulgação O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, declarou que considera a morte de Caio grave e reafirmou a abertura de uma investigação sobre a abordagem e o desfecho fatal da abordagem. "Todas as cidades, infelizmente, todos os dias têm sido golpeadas pela violência. A violência está no mundo, mas a violência não pode ser vista como normal no mundo", disse. Rafael Greca comenta sobre morte de adolescente em abordagem da Guarda Municipal Investigação A prefeitura informou que a Corregedoria da Guarda Municipal vai investigar o motivo dos equipamentos estarem desligados. Conforme a prefeitura, a orientação é que a câmera corporal, que fica acoplada à farda do GM, seja ligada no início da ocorrência e só deve ser desligada quando ela termina. As imagens poderiam ajudar a Polícia Civil a entender o que aconteceu. Um inquérito foi aberto para investigar a morte do adolescente. O que dizem os guardas municipais De acordo com o B.O., os agentes explicam que "faziam patrulhamento preventivo quando foram informados por um motorista de que havia pessoas na região suspeitas de tráfico de drogas". O documento aponta que os guardas foram ao local e viram "quatro pessoas com as características citadas pelo denunciante". Segundo os guardas, Caio era um dos integrantes do grupo e teria fugido. Os agentes descrevem no B.O. que perseguiram o adolescente com a viatura e a pé. O GM que estava no carro cercou a vítima, que teria feito movimento indicando que iria se deitar. Foi o momento em que, segundo a versão dos guardas, Caio teria sacado a faca. O secretário de Defesa Social e Trânsito de Curitiba, Péricles de Matos, informou que vai apurar "com rigor" o caso "para dar uma satisfação à família do adolescente e também para a comunidade". Mais assistidos do g1 PR Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.
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