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Termina nesta sexta-feira a COP30 dos bilhões

COP 30 consome mais de R$5 bilhões em recursos públicos, entre eles da Itaipu Binacional, e pressiona orçamento federal

Por Eliane Alexandrino

Termina nesta sexta-feira a COP30 dos bilhões Créditos: divulgação

Eliane Alexandrino/Cascavel

A COP30, Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas chega ao fim nesta sexta-feira (21), em Belém do Pará, com uma enxurrada de críticas, entre elas internacionais.

A realização da COP-30, no Brasil,  tinha como objetivo marcar  um evento de grande importância para a agenda global de combate às mudanças climáticas, especialmente por ocorrer em pleno coração da Amazônia, uma região chave na luta pela preservação ambiental. No entanto, o evento também gerou debates e críticas, principalmente em relação aos altos custos envolvidos e à origem dos financiamentos, como os recursos provenientes da Itaipu Binacional.

A Gazeta do Paraná tinha apurado um gasto inicial de 4 bilhões antes da realização do evento,  que incluía recursos da Itaipu Binacional (R$1,3 bi) e do governo federal. Mas o montante ultrapassou e bateu recordes de gastos chegando a R$ 5 bilhões.

Segundo  o ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), em entrevista a imprensa nacional e internacional, o montante envolve intervenções como obras de saneamento, construção de áreas de convivência, ampliação do aeroporto e reforma do porto que abriga dois transatlânticos usados como hospedagem durante a conferência. Para o ministro, as melhorias representam “um legado para a capital paraense”, contribuindo para “mostrar aquilo que o Brasil tem de melhor, com destaque para a infraestrutura, a recepção e a segurança”.

Ao ser questionado sobre as fontes dos recursos aplicados, Sabino afirmou que o governo federal “define suas prioridades” e que a COP 30 foi uma das escolhas estratégicas deste ano. Ele destacou que Belém e o estado do Pará “merecem obras de saneamento e de infraestrutura”, assim como as demais capitais que passaram por ampliações e reformas aeroportuárias. O Aeroporto Internacional de Belém recebeu uma grande intervenção concluída como parte dos legados do evento.

Para viabilizar toda a conferência, o governo firmou um contrato de R$ 946,9 milhões com a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI), entidade internacional com sede em Madri fundada em 1949, responsável por ações de cooperação em educação, ciência, tecnologia e cultura.

Valores disponíveis no Siga Brasil mostram que, até 5 de novembro, foram empenhados R$ 861,9 milhões e pagos R$ 775,9 milhões. A maior parte das despesas autorizadas está vinculada à Presidência da República, com R$ 789,9 milhões  além de R$ 66,5 milhões em restos a pagar. A Embratur foi o órgão que mais recebeu recursos: R$ 406,2 milhões, incluindo a contratação de dois navios que ofertam seis mil leitos, ao custo de R$ 263 milhões.

Governo gastou R$ 71 milhões com cabines de navios usadas como hospedagem na COP 30

O governo federal desembolsou R$ 71,7 milhões para contratar 850 cabines em navios de cruzeiro utilizados como hospedagem flutuante durante a COP 30, em Belém (PA). Do total, 400 cabines foram reservadas para a delegação brasileira.

Pelo acordo firmado com a UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), o país-sede deveria garantir, no mínimo, 450 cabines o que representaria R$ 26,3 milhões mesmo que não fossem totalmente ocupadas.

A Secretaria Extraordinária da COP 30 (Secop30) afirmou que os valores finais podem variar até o encerramento da conferência, que termina nesta sexta-feira ( 21). Em abril, o governo contratou a Embratur, que selecionou, por meio de chamamento público, a operadora Qualitours para viabilizar os navios MSC Seaview e Costa Diadema.

O pagamento final dependerá da quantidade de cabines não comercializadas após o evento, ou seja, o gasto será ainda maior. As embarcações permanecem atracadas no Terminal Portuário de Outeiro até o fim da conferência.

Hospedagem flutuante: solução para déficit de leitos

Além da precariedade da rede hoteleira e preços abusivos dos hotéis da cidade. O uso de embarcação como alternativa logística foi exorbitante.  Segundo o governo federal o uso dos navios já fazia parte do planejamento inicial. Belém enfrentava um déficit de acomodações  como a Gazeta do Paraná veio mostrando ao longos do ano e para receber as cerca de 60 mil pessoas previstas para a cúpula climática era preciso mais. Para suprir a demanda, seria necessário mais que dobrar a oferta de leitos da capital.

Segundo o governo, a adoção dos cruzeiros teve como objetivo garantir  a infraestrutura adequada para delegações internacionais, observadores, equipes técnicas e participantes, evitando sobrecarga na rede hoteleira local.

Em abril, o governo contratou a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), que, por meio de chamado público, selecionou a operadora de viagens Qualitours para contratar os navios MSC Seaview e Costa Diadema.

Na prática, o valor não representa despesa imediata e só será repassado à empresa após a conferência, conforme a quantidade de espaços que permanecer sem compradores.

As embarcações ficaram  atracadas no Terminal Portuário de Outeiro durante toda a conferência.

A Secop30 (Secretaria Extraordinária para a COP30) afirmou que os valores gastos com as hospedagens ainda podem variar, tendo em vista que o evento ainda não foi finalizado.

Críticas gerais

Também houve críticas à pressa na execução de obras de infraestrutura, com dúvidas sobre o legado efetivo para Belém e sobre a manutenção das intervenções após o evento. A logística da conferência, marcada por sobrecarga no transporte, na rede urbana e nos serviços públicos, reforçou a percepção de improviso.

No cenário internacional, a fala do chanceler alemão Friedrich Merz gerou forte reação. Ao ironizar a permanência em Belém, Merz foi acusado de postura desrespeitosa por autoridades brasileiras, organizações ambientais e parlamentares, culminando em moção de censura no Senado.

A COP30 também foi marcada por protestos indígenas também. Povos como Munduruku, Arapiuns e Tupinambá criticaram a falta de participação efetiva nas negociações, a separação rígida entre áreas da conferência, a demora na demarcação de terras e a transformação de territórios tradicionais em ativos de mercado por meio de créditos de carbono. As manifestações cobraram diálogo direto com o governo e denunciaram invasões, impactos de grandes obras e o avanço de políticas que afetariam seus direitos territoriais.

No conjunto, as críticas apontam para tensões entre o discurso climático do Brasil, a execução prática da conferência e a percepção de quem vive na região amazônica e de quem acompanha de fora o uso dos recursos públicos.

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Foto: Divulgação

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