'Tem vezes que fico 3 dias sem comer', diz mulher em almoço solidário promovido pela igreja e voluntários em Curitiba
Por Giuliano Saito
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Igreja Bom Jesus dos Perdões serviu cerca de 300 refeições para população em vulnerabilidade social neste sábado (8). Voluntários da Igreja Bom Jesus dos Perdões preparam refeição para pessoas em situação de vulnerabilidade social em Curitiba Giuliano Gomes/PR PRESS Voluntários da Igreja Bom Jesus dos Perdões preparam refeição para pessoas em situação de vulnerabilidade social em Curitiba Giuliano Gomes/PR PRESS Enquanto muitos se preparam para celebrar a Páscoa neste domingo (9), voluntários e funcionários da Igreja Bom Jesus dos Perdões, no Centro de Curitiba, trabalharam muito para garantir que aqueles que mais precisam não sejam esquecidos. No sábado (8), cerca de 300 refeições foram preparadas e entregues para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Essa iniciativa de solidariedade e compaixão, que existe desde 2000 na igreja, proporcionou um momento de alegria e esperança para a dona Marlene da Silva na véspera da Páscoa. "Tem vezes que eu fico três, quatro dias sem comer, só tomando água, lendo a bíblia e orando". Dona Marlene da Silva, 55 anos, relata que fica dias sem comer por falta de dinheiro Giuliano Gomes/PR PRESS Dona Marlene da Silva, de 55 anos, mora em uma pensão. O dinheiro que ela recebe de auxílio do governo usa para pagar o local e não sobra para comer todos os dias. Além disso, Marlene tem problemas de saúde e não consegue trabalhar. Longe dos filhos há mais de 10 anos, disse que sente saudades, mas a relação com os familiares não é boa. O café da manhã e almoço é por conta de doações e amigos. "Eu sempre venho nos encontros aqui, no almoço, festinha. Tenho filhos, parentes, mas ninguém liga pra mim", contou. Vaidosa, de batom rosa e cabelos penteados, dona Marlene contou que gosta muito se arrumar e deve colocar a prótese dentária, concedida por uma universidade, nos próximos dias. Preparação da refeição A preparação começa muito antes, através de doações de alimentos e dinheiro, segundo o Frei Camilo Martins. Funcionários da igreja compram os alimentos e voluntários se reúnem para preparar a comida. Neste sábado, o almoço era galinhada e salada. Para o Frei, fazer este almoço, próximo à celebração de Páscoa, é muito significativo. "Atendemos moradores de rua e famílias que também estão com insegurança alimentar, que não têm certeza que vão ter mais de uma ou duas refeições ao dia. A importância para a nossa Páscoa, é justamente isso, porque a Páscoa significa a ressurreição de Jesus e antes de passar pela ressureição, ele fez a ceia com os apóstolos e repartiu o pão", disse. Dedicação Jandira Tozone, trabalha como voluntária há 32 anos nas ruas da capital e é conhecida como "Vó Jandira". Contou que não julga ninguém e que gosta de oferecer abraço e acolhimento. "Às vezes eles me falam que estão fedidos, mas eu falo que não estou aqui pelo cheiro, mas para dar um abraço", relatou. Uma das lembranças mais lindas que Vó Jandira tem é ter revisto um rapaz que recebeu ajuda no Largo da Ordem, no Centro da capital, e que atualmente não mora mais nas ruas. O homem a abraçou e se apresentou. "Eu falei: 'parece que eu te conheço'. Ele disse: 'eu sou Wilson, do Cavalo Babão'. Falou que estava com família e me mostrou a filha, disse que o nome dela era Jandira", contou a voluntária com um largo sorriso. "Vó Jandira" é voluntária há 35 anos nas ruas de Curitiba. Giuliano Gomes/PR PRESS Mais de 20 voluntários prepararam, serviam, limpavam e orientavam a população no salão da igreja católica. Uma delas era a assistente social, Carmem Cieslak, gosta de participar de ações voluntárias há 35 anos e afirmou que não deseja parar tão cedo. "Eles ficam numa felicidade, agradecem muito, dizem 'Deus te abençoe' o tempo todo, então isso é muito gratificante", contou. Carmem Cieslak, assistente social e voluntária. Giuliano Gomes/PR PRESS Emoção "Coração está a mil. Estou muito emocionado de estar aqui". O autor dessa frase é o seu Luiz Antônio da Rocha, de 54 anos, natural de Jacarezinho, no Norte Pioneiro do Paraná, que saiu da cidade natal e trabalha na agricultura em cidades da região sul do país. Ele contou que desde 2007 não vê mais a família. Emocionado, Luiz contou que veio para Curitiba e não precisou dormir na rua, pois foi recebido em uma casa de acolhimento. Pretende partir para Alfredo Wagner, em Santa Catarina, trabalhar na safra de cebola nos próximos dias. Segundo ele, o dinheiro que recebe de auxílio do governo não é suficiente para se manter. Soube que teria a distribuição de almoço neste sábado e foi até a paróquia. "Eu considero todos aqui como uma família, todos aqui desse salão, eu fico emocionado", disse com os olhos marejados. Luiz Antônio da Rocha, 54 anos, natural de Jacarezinho - PR Giuliano Gomes/PR PRESS Dona Amira Clara Khavaal, de 62 anos, também procurou a paróquia para se alimentar com a deliciosa galinhada. Ela procura ajuda para comprar remédio para o filho de 40 anos que está internado. O auxílio que recebe não é suficiente para manter três filhos na casa que mora em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). A fome também faz parte da realidade dela. "Geralmente consigo só o almoço. Mas quero mesmo é ajuda com remédio pro meu filho que teve oito convulsões e agora está internado", disse. Amira Clara Khavaal, 62 anos, moradora de Piraquara. Giuliano Gomes/PR PRESS O frei Camilo ressalta que interessados em fazer doações e serem voluntários em ações como esta, podem procurar a paróquia Bom Jesus dos Perdões na Praça Rui Barbosa, no Centro de Curitiba. "Agora, no frio, por exemplo, quem tiver cobertor em casa, aquela peça de roupa que sabe que não vai usar mais, traga aqui pra igreja que vai estar ajudando alguma pessoa", completou. Aceitam também doações de cestas básicas, que são destinadas para mais de cem famílias. Frei Camilo Martins da Igreja Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba Giuliano Gomes/PR PRESS Leia também 'Dia horrível', desabafa pai após perder filha e neto em acidente com 19 veículos na BR-376 Bebês em UTI viram coelhinhos em ação de Páscoa: 'Tem resultado no tratamento', diz enfermeira VÍDEO: Menino fica sem respirar após convulsão e é salvo por policiais militares no Paraná VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.
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