Tarifas, sanções e Venezuela devem dominar pauta em reunião entre Lula e Trump
O gesto, considerado por diplomatas como uma tentativa de “descongelar” as relações, ocorre após meses de atritos
Por Da Redação
Créditos: Joyce N. Boghosian/Casa Branca e Ricardo Stuckert/PR
A esperada reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marcada para o próximo domingo (26), em Kuala Lumpur, deve girar em torno de temas que vêm estremecendo a relação bilateral ao longo de 2025. Na pauta, segundo interlocutores dos dois governos, estão as tarifas impostas por Washington a produtos brasileiros, as sanções aplicadas a autoridades nacionais e questões geopolíticas envolvendo a Venezuela.
O encontro será o primeiro entre os dois líderes desde que Trump reassumiu o comando da Casa Branca, em janeiro. O gesto, considerado por diplomatas como uma tentativa de “descongelar” as relações, ocorre após meses de atritos, especialmente desde que os Estados Unidos decidiram elevar para 50% as tarifas sobre aço, alumínio e outros produtos brasileiros, em agosto. A medida, que afetou setores estratégicos da economia nacional, foi classificada por Lula como “inaceitável” e “contrária ao espírito de cooperação histórica entre os dois países”.
Apesar das críticas, o governo brasileiro decidiu apostar no diálogo. Em uma videoconferência realizada no início de outubro, Lula e Trump conversaram por cerca de meia hora. Na ocasião, o presidente brasileiro afirmou que não há “assuntos proibidos” e que pretende apresentar dados que comprovam o equilíbrio comercial entre as duas economias. Trump, por sua vez, sinalizou disposição para “novas conversas” e disse que Brasil e Estados Unidos “podem fazer muito bem juntos”.
De acordo com fontes do Itamaraty, o principal objetivo do Brasil é convencer Washington de que o chamado “tarifaço” foi um erro de cálculo e de estratégia. A equipe econômica prepara uma proposta para ampliar a lista de exceções aos produtos taxados, com destaque para o café e o alumínio primário, e trabalha com a possibilidade de uma redução gradual das tarifas, em vez de uma revogação imediata.
Outro tema sensível será a tentativa de reverter as sanções impostas a ministros do Supremo Tribunal Federal e a autoridades políticas brasileiras, incluídas na lista da Lei Magnitsky sob alegações de “violações de direitos democráticos”. Para o governo brasileiro, as medidas representam ingerência indevida nos assuntos internos do país. Lula deve pedir formalmente a revisão dessas punições, argumentando que o Brasil é uma democracia consolidada e que o Judiciário atua de forma independente.
Venezuela e soberania regional
A situação da Venezuela e o papel dos Estados Unidos em operações militares no Caribe também estarão na mesa. O Planalto considera que as ações americanas, justificadas como combate ao narcotráfico, ampliam tensões regionais e violam princípios de soberania. Lula pretende defender uma solução negociada para a crise venezuelana e reiterar que a América do Sul deve ser tratada como zona de paz, sem intervenções externas.
Além disso, Lula deve aproveitar o encontro para reforçar o convite a Trump para participar da COP30, que será realizada em Belém, em 2026. A intenção é reposicionar o Brasil como ator central nas discussões ambientais e, ao mesmo tempo, buscar um gesto simbólico de aproximação.
Expectativas e limitações
Embora o tom esperado seja de cordialidade, diplomatas reconhecem que a reunião dificilmente resultará em anúncios imediatos. A avaliação é que o encontro servirá mais como um gesto político de reaproximação do que como instância decisória. Questões práticas, como eventuais revisões tarifárias ou suspensões de sanções, devem ser tratadas posteriormente por equipes técnicas.
A estratégia do governo brasileiro, é demonstrar disposição para o diálogo sem abrir mão da defesa dos interesses nacionais. Para Washington, o movimento pode representar uma oportunidade de reduzir pressões sobre o comércio bilateral e, ao mesmo tempo, testar os limites da política externa de Lula em relação a China, Rússia e Venezuela.
Internamente, o Planalto vê a reunião como uma chance de reposicionar o Brasil no tabuleiro internacional após meses de tensão. Assessores próximos a Lula acreditam que, mesmo sem resultados concretos, uma foto dos dois presidentes lado a lado terá forte valor simbólico, sinalizando ao mundo que o diálogo entre as maiores economias das Américas voltou a existir.
Analistas, porém, alertam para o risco de frustração. Trump tem usado a política comercial como instrumento de pressão e pode condicionar avanços a contrapartidas políticas ou econômicas. Ainda assim, a diplomacia brasileira avalia que o simples fato de o encontro ocorrer já é, por si só, uma vitória, considerando o clima de desconfiança mútua instalado desde o início do ano.
