Oposição e sindicatos lançam campanha para governo reestatizar a Copel
A expectativa dos organizadores é reunir ao menos 90 mil assinaturas até março de 2026
Por Da Redação
Créditos: Valdir Amaral/Alep
Partidos de oposição, entidades sindicais e movimentos sociais intensificaram, nesta semana, o movimento para reverter a privatização da Copel, ocorrida em 2023. O grupo lançou, na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), uma campanha estadual para coletar assinaturas e apresentar um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) que autorize o Governo do Estado a recomprar ações e retomar o controle acionário da companhia.
A mobilização foi anunciada durante audiência pública realizada na Comissão de Constituição e Justiça, em Curitiba. O encontro reuniu lideranças políticas, representantes do setor produtivo e organizações sociais, que denunciaram aquilo que classificam como “piora evidente” na qualidade do fornecimento de energia desde a privatização. A expectativa dos organizadores é reunir ao menos 90 mil assinaturas até março de 2026. A Constituição estadual exige o apoio de 1% do eleitorado distribuído em, no mínimo, 50 municípios. As assinaturas poderão ser feitas presencialmente ou por meio eletrônico, neste caso, apenas com certificado digital válido.
“Alertamos que haveria aumento nos lucros, nos dividendos e nos salários da diretoria, acompanhado de piora na qualidade e aumento das tarifas”, afirmou Leandro Grassmann, presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR).
Relatos de apagões frequentes, demora para religação da energia e dificuldade no atendimento ao consumidor dominaram a audiência. Dados apresentados por sindicalistas mostram que 388 dos 399 municípios paranaenses registraram episódios recentes de interrupções. Indicadores da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) também apontam aumento no tempo de reparo: de uma média de 1h30 em 2010 para mais de 4h30 em 2025. Já os valores pagos pela empresa em compensações por violação dos níveis de tensão cresceram de R$ 100 mil por ano para cerca de R$ 5 milhões, com salto mais acentuado após a venda da companhia.
“Quedas frequentes de energia, demora na religação e solicitações de serviço sem resposta. A Copel deixou de investir o que vinha sendo feito ao longo de 70 anos. Hoje temos uma empresa terceirizada, com quadros esvaziados por um Plano de Demissão Voluntária (PDV), que retirou 50% da força de trabalho", denunciou o deputado Arilson Chiorato. "A empresa que já foi a mais premiada no ramo hoje é a primeira em reclamações".
Os parlamentares da oposição atribuem os problemas à combinação de redução do quadro de funcionários, demissões voluntárias e ampliação da terceirização. Segundo eles, a diminuição das equipes próprias teria ampliado o tempo de resposta às ocorrências e fragilizado a manutenção preventiva. Representantes de setores produtivos relataram prejuízos em propriedades rurais, especialmente nas regiões Oeste e Sudoeste, afetadas por temporais recentes. Em algumas localidades, quedas de energia prolongadas provocaram perdas de aves, leite e peixes.
Outro ponto debatido foi o esvaziamento patrimonial da empresa. Dirigentes sindicais afirmam que a Copel foi “fatiada”, com venda de imóveis e da Usina Termelétrica a Gás de Araucária (Uega). Movimentos sociais também relataram impactos diretos em comunidades vulneráveis, que sofrem com danos a eletrodomésticos, insegurança alimentar e dificuldades de atendimento.
“É importante mostrar o quanto a Copel diminuiu de tamanho. Não temos mais a Copel de 2023. A empresa está sendo fatiada e vendida em partes”, criticou Alexandre Hungaro da Silva, presidente da Central dos Trabalhadores Brasileiros.
Resgate histórico
A mobilização atual resgata um precedente importante na política paranaense. Em 2003, o governo do Paraná reverteu o controle da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), então sob influência majoritária do consórcio privado Dominó Holdings. Um decreto do governador Roberto Requião anulou o acordo de acionistas firmado em 1998, restaurando ao Estado a autoridade plena sobre a gestão da empresa.
Na época, a justificativa era semelhante à apresentada agora pelos defensores da reestatização da Copel: garantir que uma empresa de infraestrutura essencial tivesse seu foco voltado ao interesse público, e não apenas ao lucro. A retomada permitiu ao governo ampliar investimentos em saneamento, reforçar a tarifa social e redirecionar projetos para regiões menos atendidas. A decisão gerou disputas judiciais, mas foi consolidada após aprovação legislativa e nova composição do Conselho de Administração.
Próximos passos da campanha
Com o início da coleta de assinaturas, os organizadores planejam distribuir formulários físicos em todas as regiões do Paraná e disponibilizar uma plataforma digital. A meta é entregar o PLIP à Assembleia Legislativa no primeiro semestre de 2026. Se validado, o projeto poderá obrigar o governo a avaliar a recompra das ações e a reverter a privatização.
Enquanto isso, a pressão política deve continuar. A oposição prepara novos requerimentos para investigar os apagões e acompanhar os contratos de terceirização, enquanto sindicatos prometem ampliar debates regionais sobre o tema.
