“Tarifaço” dos EUA corta pela metade exportações de madeira do Brasil
Após três meses de vigência da taxa de 50%, indústria opera abaixo da capacidade e alerta para risco de perder espaço definitivo no mercado americano
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As exportações brasileiras de madeira para os Estados Unidos caíram em média 55% nos três meses iniciais após a imposição da tarifa de 50% pelo país norte-americano, segundo estudo da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior/MDIC. A queda foi verificada entre agosto e outubro de 2025, período em que o setor enfrentou retração intensa em segmentos como molduras, madeira serrada, compensados, portas e pisos.
O que motiva a medida
Em julho de 2025, o governo dos Estados Unidos anunciou um aumento das tarifas de importação sobre produtos brasileiros, elevando-as até 50 % para diversas categorias, como parte de uma política de “reciprocidade” comercial. A justificativa oficial norte-americana apontou para riscos à segurança nacional e práticas comerciais consideradas desleais. Algumas categorias foram dispensadas da nova tarifa, mas produtos de madeira processada brasileira ficaram fortemente atingidos.
Impacto no setor de madeira
Com o mercado norte-americano tradicionalmente representando uma parcela significativa das exportações de madeira brasileira, a imposição abrupta da tarifa alterou a competitividade das empresas nacionais. Para seguir vendendo ao país com 50% de tarifa adicional, as empresas teriam de absorver custos elevados ou repassar o preço ao importador, cenário que a maioria não consegue. Consequentemente, muitas unidades industriais passaram a operar abaixo da capacidade ou entrar em regime de layoff, e algumas já adotaram férias coletivas ou demissões.
O risco de substituição
Para a Abimci, o atraso nas negociações entre Brasil e EUA agrava o problema. “Sem avanços efetivos, o risco é de que produtos brasileiros sejam substituídos no mercado americano por fornecedores de países com taxas mais baixas”, afirma o superintendente da entidade, Paulo Pupo. Qualquer perda de participação em mercados-chave pode ter efeitos permanentes para a cadeia produtiva nacional.
Panorama geral
Segundo levantamento da Abimci, a retração acumulada já se estende por quatro meses, desde julho. A queda média de 55% entre agosto e outubro soma-se à forte queda registrada imediatamente após o anúncio da tarifa. Sem negociação bilateral concluída até agora, o setor de madeira brasileira entra em fase crítica, com possíveis reflexos sobre produção, empregos e exportações.
Demissões
Desde o anúncio da tarifa de 50% pelos Estados Unidos, o setor madeireiro brasileiro passou a registrar cortes sucessivos de postos de trabalho. Em setembro, o segmento já contabilizava aproximadamente 4 mil demissões em todo o país, além de 5,5 mil trabalhadores em férias coletivas e 1,1 mil em layoff. O motivo é a retração abrupta do mercado, que levou ao cancelamento de contratos e à forte redução das exportações para o mercado norte-americano.
No Paraná, o impacto foi imediato. No início de setembro, uma única empresa do setor desligou cerca de 400 funcionários e colocou outros 1.100 em layoff nas unidades de Jaguariaíva e Telêmaco Borba, ambas nos Campos Gerais. As medidas foram justificadas pela queda na demanda e pelos efeitos diretos do “tarifaço” aplicado pelos EUA sobre produtos brasileiros de madeira.
