GCAST

Suspeitos de planejar sequestro do senador Sérgio Moro e do promotor Lincoln Gakiya viram réus na Justiça Federal do Paraná

Por Giuliano Saito


Em março, operação da Polícia Federal mirou integrantes de organização criminosas suspeitos de planejar ataques a Moro e outras autoridades. Justiça aceita denúncia e transforma em réus suspeitos de planejar sequestro de Sérgio Moro Adriano Machado/Reuters A Justiça aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR) contra 13 suspeitos de planejar um ataque ao hoje senador Sergio Moro (União-PR), ex-juiz e ex-ministro da Justiça, e contra o promotor de São Paulo Lincoln Gakiya. A decisão é do dia 17 de maio. Em março, a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação de combate a uma organização criminosa que pretendia realizar ataques contra servidores públicos e autoridades, entre eles Moro. A retaliação a Moro era motivada por mudanças no regime de visitas em presídios. Criminosos também trabalhavam com a ideia de sequestrar o senador como forma de negociar a liberação de Marcola. Ao menos dez criminosos se revezavam no monitoramento da família do senador em Curitiba, segundo agentes. Lincoln Gakiya investiga facção criminosa. Ele faz parte do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo) de Presidente Prudente, no interior do estado, e vive há mais de dez anos sob escolta policial 24 horas por dia por causa das ameaças de morte recorrentes que recebe. Os suspeitos passam a responder por crimes como processo sobre tentativa de extorsão mediante sequestro, organização criminosa, posse ilegal de arma de fogo com numeração suprimida e posse ilegal de arma de fogo de uso permitido. Réus suspeitos de planejarem sequestro de Moro e ataque a autoridades Valter Lima Nascimento Sidney Rodrigo Aparecido Piovesan Reginaldo Oliveira De Sousa Patric Uelinton Salomao Oscalina Lima Graciote Janeferson Aparecido Mariano Gomes Herick Da Silva Soares Hemilly Adriane Mathias Abrantes Franklin Da Silva Correa Claudinei Gomes Carias Cintia Aparecida Pinheiro Melesqui Aline De Lima Paixao Aline Arndt Ferri A investigação As ações para o ataque contra Moro, por exemplo, começaram em setembro de 2022, no período eleitoral, quando o atual o atual senador ainda era candidato ao cargo que ocupa atualmente. Mensagens trocadas por suspeitos mostram códigos usados por eles para combinar o possível sequestro do parlamentar, conforme as investigações. Na conversa por WhatsApp, o termo "Tokio" é usado para se referir ao ex-juiz e ex-ministro do governo Bolsonaro, enquanto "Flamengo" substituiria "sequestro", e "Fluminense" seria usado no lugar de "ação". Mensagem que indicou ameaça de sequestro de Moro mostra momento que suspeitos definem códigos para o crime Foto: Stephanie Rodrigues/g1 Cronologia ▶️ 2 de fevereiro de 2023: uma testemunha protegida pela Justiça depôs ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do Ministério Público de São Paulo. A testemunha disse ser ex-integrante do PCC e estar jurado de morte pela facção, que atua dentro e fora de presídios brasileiros. A testemunha relatou aos promotores que uma célula da facção, responsável por crimes contra autoridades e agentes públicos, planejava cometer um ataque contra Moro e outras pessoas. Ela também indicou telefones de suspeitos. Um dos suspeitos citados pela testemunha é Janeferson Aparecido Mariano Gomes, apontado como líder do plano e integrante de célula do PCC chamada "Restrita 05". ▶️ Início do inquérito: o Grupo Especial de Investigações Sensíveis da PF abriu inquérito, em 3 de fevereiro, para apurar "possível plano de sequestro de autoridade pública". A partir dos números de celular informados pela testemunha, a Justiça autorizou interceptações telefônicas e quebras de sigilo das linhas. Além disso, a partir dos celulares, foram identificados e-mails que ajudaram a comprovar a ligação dos números com Janeferson, considerado o arquiteto do plano. A investigação comprovou que os e-mails são de pessoas ligadas ao narcotráfico e ao PCC. Os e-mails levaram à troca de mensagens por aplicativo entre a suspeita Aline Maria Paixão e Janeferson, com quem teria relação amorosa. A mensagem, segundo a investigação, indicou existência "real" do plano de sequestrar Moro. O codinome "Tókio", segundo a polícia, refere-se ao ex-juiz. Já "Flamengo" quer dizer sequestro. Print de mensagem que constatou possível sequestro de Sergio Moro Reprodução Planejamento do crime A polícia conseguiu rastrear uma troca de mensagens com prestações de contas do grupo indicando gastos para o planejamento do crime. Entre as despesas estão alugueis de imóveis, viagens, alimentação, combustível, armas, carros, etc. Veja na imagem abaixo. Print mostra anotações de suspeitos sobre gastos que teriam em crime contra Moro Reprodução Além disso, análise dos e-mails feita pela polícia identificou ações concretas no andamento do plano, como mapeamento e vigilância das atividades de Moro. ▶️ Veículo para o crime: A polícia identificou em troca de emails várias fotos de carros, entre eles uma Mercedes blindada. O carro, segundo as investigações, poderia ser usado na execução do plano. O veículo foi vendido recentemente a uma pessoa apontada como pai de Hemilly Adriane Mathias Abrantes, uma das suspeitas. Hemilly já foi presa por furto qualificado. Ela é casada com um membro do PCC, sendo que o irmão dela também tem ligação com a facção. O marido da suspeita está preso na Penitenciária Estadual de Piraquara, que abriga exclusivamente integrantes do PCC, segundo a investigação. ▶️ Caderno e Curitiba: Imagens que indicam os controles de gastos do grupo levaram a investigação ao codinome "Tókio" e ao nome da cidade de Curitiba. Em conta de armazenamento em nuvem associada a Janeferson, a investigação encontrou uma conversa com a suspeita Aline de Lima Paixão. Na troca de mensagens aparece foto de caderno com anotações sobre Moro. Outra mensagem informa o mapeamento detalhado do local de votação do então candidato, em Curitiba. Confira nas imagens a seguir. Caderno dos suspeitos tinha controle de endereços de Moro e da família Reprodução Grupo detalhou local de votação do então candidato g1 ▶️ Celular rastreado: A investigação interceptou conversas do suspeito Claudinei Gomes Carias, apontado como um dos principais responsáveis pela vigilância da rotina e das rotas do senador, assim como pela prestação de contas. A polícia descobriu que o terminal do celular do suspeito foi utilizado em Curitiba em 24 de novembro e em 1º de dezembro de 2022. Pelas coordenadas apuradas, o aparelho esteve na região do bairro Bacacheri, onde fica o local de votação de Moro. A polícia também identificou atividades do aparelho na região tida pela facção como casa do senador e do Escritório Wolf Moro, que é da deputada federal e esposa do ex-juiz, Rosângela Moro (União-SP). ▶️ Ligações e locações de imóveis: Prints de chamada em grupo feita por vídeo no WhatsApp mostraram membros da cúpula do PCC na articulação do plano. Um dos membros é apontado pelo governo federal como um dos responsáveis pela logística do plano de fuga de Marcola da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, em 2014. A interceptação de linhas telefônicas identificou várias chamadas para números de Curitiba, principalmente relacionadas a imobiliárias e à procura de casas e chácaras. A investigação mostrou que tais contatos tinham relação com locação de imóveis que serviriam como base para o grupo, bem como para um possível cativeiro em caso de êxito no sequestro. ▶️ Tentativa durante eleições: A polícia destacou contatos feitos de 20 a 28 de outubro de 2022, período que antecedeu o segundo turno das eleições presidenciais. Para a investigação, isso reforça a intenção da facção em executar ações criminosas à época. A polícia fez investigações em apartamento no bairro Jardim Botânico, em Curitiba. Em conversa com os condôminos, uma moradora lembrou que, durante setembro e outubro de 2022, três homens se hospedaram em apartamento. Segundo a moradora, por volta do dia 21 de outubro, “de uma hora para outra”, os homens abandonaram o local sem comunicar nada e sem pagar o devido aluguel. A investigação identificou que entre moradores do imóvel estavam Janeferson e Claudinei. ▶️ Plano ainda em andamento: vídeo de 3 de fevereiro de 2023, atribuído a Claudinei, mostra fachada de prédio indicado como possível endereço de Moro. Para a polícia, o vídeo demonstra que o plano de atentado contra o senador ainda estava em andamento, neste ano. Ao decretar os mandados de prisão e busca e apreensão, na última terça-feira (21), a juíza Gabriel Hardt cita que "as provas colhidas indicam que atos criminosos estão efetivamente em andamento" em Curitiba há pelo menos seis meses. A juíza cita ainda que o plano contava "com a presença física dos investigados, compra de veículos, aluguel de imóveis e monitoramento de endereços e atividades do senador Sergio Moro". Esta reportagem está em atualização.