Relatório final de CPI aponta erros e negligência de Prefeitura de Ponta Grossa em problemas de serviços de saúde
Por Giuliano Saito
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Em documento, relator aponta superlotação e demora em atendimentos em UPAs, além de falta de médicos e negligência em fechamento do Hospital Municipal. Prefeitura diz trabalhar 'na reorganização do Sistema Municipal de Saúde'. Relatório final de CPI aponta erros e negligência de Prefeitura de Ponta Grossa em problemas de serviços de saúde Paulo Martins/RPC Ponta Grossa Foi apresentado em coletiva o relatório final de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde da Câmara de Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná. O relator, vereador Geraldo Stocco (PV), apontou erros e negligência por parte da administração pública em problemas da área. O documento deve ser protocolado na Casa ainda nesta segunda-feira (21). A CPI foi instaurada em maio deste ano para investigar casos de superlotação e de demora em atendimento nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Foram ouvidas 40 pessoas em 20 reuniões oficiais. Também foram analisados documentos e feitas vistorias em unidades de saúde. No documento, a comissão aponta que no primeiro semestre de 2022, 65 pessoas morreram dentro da UPA Santa Paula e outras 190 na UPA Santana. Como uma das causas, o relatório identifica a falta de leitos na rede estadual que levou pessoas a aguardarem transferência nas unidades. O relator analisou que o aumento de procura em UPAs aconteceu, também, por conta do fechamento do Hospital Municipal Amadeu Puppi - que servia de retaguarda -, o fim do atendimento primário no Hospital Materno-Infantil e falta de médicos em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Idoso morre em UPA após esperar seis dias por leito hospitalar, em Ponta Grossa, diz família Aos 90 anos, mulher passa 30 horas internada em banco de UPA à espera de leito no Paraná Por nota, a prefeitura afirmou que o relatório é político e que trabalha na reorganização do Sistema Municipal de Saúde e prestará todos os esclarecimentos técnicos necessários. O g1 aguarda retorno da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa). Após ser protocolado na Câmara dos Vereadores, o relatório será encaminhado para órgãos como o Ministério Público e o Tribunal de Contas. Relatório final de CPI aponta erros e negligência de Prefeitura de Ponta Grossa em problemas de serviços de saúde André Salamucha/RPC Justiça determina que Governo do Paraná providencie leitos para pacientes que aguardam vaga internados em UPAs de Ponta Grossa Confira detalhes do relatório final Fechamento do Hospital Municipal Um dos pontos apontados pela CPI foi que o fechamento "do dia para a noite" do Hospital Municipal Amadeu Puppi, em abril deste ano, sobrecarregou UPAs e UBSs da cidade de forma a colocar pacientes em risco. Conforme relatório, 12 mil atendimentos eram feitos por mês na instituição. À época, a estrutura foi interditada para reforma no telhado, na parte hidráulica e elétrica, além de outras estruturas. Para o relator, após análises, depoimentos e investigações, foram identificados "graves erros e negligência" por parte da prefeitura. Um dos exemplos é a falta de manutenção do hospital ao longo dos anos, que culminou com o fechamento do centro cirúrgico pela Vigilância Sanitária. Os integrantes da comissão também ressaltaram que o fechamento total do hospital não se justifica por conta de uma ala, chamada de amarela, que havia sido reformada em 2019. Foram R$ 400 mil vindos da Justiça Federal. Como conclusão, o relatório aponta que o impacto do fechamento do hospital foi enorme e que, só em agosto, 101 pacientes que procuraram as UPAs foram levados para outras cidades por falta de leitos em Ponta Grossa. Casos esses que, conforme a CPI, muitas vezes seriam internados no Hospital Municipal. Falta de médicos Conforme relatório, o problema de falta de médicos em Ponta Grossa começou com a saída dos 56 profissionais cubanos, em 2018, que atendiam pelo programa Mais Médicos. O relator aponta, no documento, que houve falta de ação da prefeitura para contratação de mais profissionais. Durante depoimentos, a comissão apontou como um dos maiores entraves o salário oferecido pela administração pública na cidade, abaixo de outras cidades da região. O último Processo Seletivo Simplificado (PSS) para contratação de médicos em Ponta Grossa prevê pagamento de 70 reais por hora trabalhada, com carga semanal de 40 horas. Em Imbituva, também nos Campos Gerais, um concurso para médicos em julho deste ano previa o salário de R$ 21 mil para a mesma carga horária. O relator ainda ressaltou que, nos último três meses, um processo de seleção de médicos foi feito além de dois credenciamentos de empresas prestadores de serviços médicos, mas que nenhum teve o sucesso esperado. Afirma, ainda, que paralelo a isso, não foi vista nenhuma movimentação da prefeitura até o momento para atrair profissionais, tampouco um estudo sobre a possibilidade de aumento dos salários. Problemas em UBS A situação da UBS Antônio Saliba, no Parque dos Sabiás, entrou no relatório de Stocco. Prevista para ser demolida, o vereador apontou que a situação causou indignação em moradores. O relatório aponta que em caso de situações adversas da natureza prejudicando imóveis, o Poder Público deve trabalhar com a máxima urgência, em especial em casos de saúde pública. Segundo o relator, isso não aconteceu. UBS fechada há 18 meses em Ponta Grossa será demolida para construção de 'superposto' Reprodução/RPC Durante os trabalhos da comissão, um engenheiro da prefeitura foi questionado se o destelhamento da unidade tinha comprometido toda a estrutura, ao que ele respondeu que poderia ter sido arrumado apenas o telhado, sem necessidade de demolição. Desta forma, após 19 meses de unidade fechada, o documento ressalta que houve abandono do município que, ao invés de arrumar o telhado e reforçar a segurança, não fez nada pela unidade. E, sem ação rápida, o patrimônio público acabou furtado e deteriorado. O documento também cita problemas de falta de ambulância para transferências e em licitações do hospital e da UPA Santana. Próximos passos À RPC, a comissão afirmou que pretende instaurar uma Comissão Processante (CPP) contra a prefeita Elizabeth Schmidt (PSD). Segundo eles, o objetivo é que todos os vereadores tenham a oportunidade de avaliar o que foi apurado na comissão. Além disso, também está prevista a criação de uma bancada da Saúde, o que deve ocorrer no começo do ano que vem. VÍDEOS: Mais assistidos do g1 PR Veja mais notícias da região em g1 Campos Gerais e Sul.
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