Relato de ex-funcionário revela falha técnica ignorada antes de acidente aéreo que matou 62 em Vinhedo (SP)
Segundo testemunha, piloto relatou problema no sistema de degelo do ATR 72-500, mas informação não foi registrada no diário técnico da aeronave
Por Gazeta do Paraná

Um novo e preocupante capítulo surge quase um ano após o trágico acidente aéreo que matou 62 pessoas em 9 de agosto de 2024, envolvendo um avião ATR 72-500 da companhia Voepass. Em entrevista exclusiva ao portal g1, um ex-funcionário da área de manutenção da empresa revelou que, na noite anterior à decolagem rumo a Cascavel (PR), o piloto que operou a aeronave relatou verbalmente uma falha no sistema de degelo — mecanismo essencial para a segurança em voo.
Segundo o relato, o comandante informou à equipe de manutenção que, durante o voo vindo de Guarulhos, o sistema de degelo apresentou falha intermitente: o sistema se desligava sozinho mesmo após acionado. Apesar da gravidade da ocorrência, a falha não foi registrada no technical log book (TLB), documento obrigatório que concentra todos os registros de falhas técnicas e manutenções realizadas em uma aeronave. Com isso, a liderança da manutenção não foi alertada oficialmente sobre o problema na madrugada que antecedeu o voo fatal.
“Essa aeronave nunca tinha apresentado esse tipo de falha. Mas, no dia do acidente, o comandante que a trouxe relatou verbalmente que o sistema de degelo estava desarmando sozinho. Isso não poderia acontecer”, afirmou a testemunha ao g1, sob condição de anonimato.
O TLB, sigla para technical log book, é considerado peça-chave na operação segura de aeronaves e seu preenchimento correto é exigido por normas internacionais de aviação comercial. O eventual descumprimento desses protocolos pode acarretar sanções severas e responsabilizações civis e criminais.
Procurada, a Voepass afirmou, por meio de nota, que “a segurança sempre foi prioridade da companhia” e que “atua em conformidade com as exigências rigorosas que regem a aviação comercial brasileira”. A empresa não concedeu entrevista.
A investigação sobre o acidente segue sob responsabilidade da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que ainda não se manifestaram sobre o novo depoimento.
A revelação pode representar um marco no rumo das apurações, levantando questionamentos sobre os protocolos internos de segurança da companhia e reforçando a importância do rigor no registro de falhas técnicas em aeronaves comerciais.
Com informações do G1
