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Quem é Tanure, empresário que tenta monopolizar ramo da tecnologia no Paraná

Diante da eminência de venda da Celepar, nome do famoso empresário que adquiriu Sercomtel e Copel Telecom surge como um dos possíveis compradores da companhia

Por Bruno Rodrigo

Quem é Tanure, empresário que tenta monopolizar ramo da tecnologia no Paraná Créditos: Foto: Redes Sociais

Investir em empresas no Paraná tem se tornado lucrativo para grandes empresários, principalmente com a onda de privatização que tem seguido o governo de Ratinho Junior. Um desses é o empresário baiano, Nelson Tanure, que tem apostado forte em empresas paranaenses para investir. Em 2020, adquiriu a londrinense Sercomtel e no mesmo ano, arrematou a compra da Copel Telecom, primeiro braço da Companhia Paranaense de Energia a ser privatizado. Conforme fontes repassaram a Gazeta do Paraná, o próximo alvo de Tanure pode ser a Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná, a famosa Celepar, que teve seu processo de privatização autorizado pelos deputados paranaenses neste mês, e deve ser leiloada já em 2025.

Tanure é cercado de controversas. É tratado por muitos como investidor arrojado, mas esse “arrojo” traz grandes problemas, que vão desde processos administrativos abertos na CVM, até investigações por irregularidades em suas empresas. O empresário começou a investir na década de 80, e desde então, fez parte de uma série de grandes empresas, como Oi, Sercomtel, Copel Telecom que se transformou em Ligga Telecom, HRT Participações em Petróleo, Gafisa entre outras.

Foi na Gafisa que Tanure virou réu em um processo administrativo sancionador aberto pela CVM em 2023, junto de outros cinco executivos que são ligados a companhia. A ação acusava os conselheiros da empresa, de aprovarem no ano de 2019, um aumento de capital com condições de preço em desacordo com a Lei das Sociedades Anônimas.

Além disso, a ação também apurava uma infração a instrução da CVM e também a Lei das Sociedades Anônimas, pela não divulgação dos critérios adotados e do embasamento legal para os processos de emissão neste aumento de capital.

Conforme os agentes do mercado financeiro, Tanure é um investidor arrojado, que gosta de entrar em empresas com dificuldades para fazer reestruturação com venda mais cara posteriormente. Mas nem sempre esse olhar para empresas que são negligenciadas pelo mercado dá certo.

Na Gafisa, Tanure tem uma atuação contestada. Ele é controlador indireto da companhia, com 19,46% no MAM Asset e outras participações indiretas por meio de fundos, com soma que ultrapassa a marca de 44,33% nas contas da empresa gestora, a ESH Capital.

O estatuto da empresa tem o dispositivo “poison pill”, que obriga acionistas que ultrapassam a margem de 30% do capital a realizarem oferta pública de capital aos demais investidores, uma forma de proteção contra aquisições hostis, e também de resguardo a menores acionistas. Mas Tanure negligencia o dispositivo, já que sua participação na empresa é oculta por meio de veículos de investimento.

Tanure está como acionista em pelo menos quatro companhias que estão listadas em Bolsa: a Light, companhia de energia elétrica do Rio de Janeiro, a Gafisa, a Prio e também a Alliança. Mas muitas vezes a presença em seus CNPJs passa de forma despercebida. Isso pelo fato do empresário se esconder atrás de fundos de investimento. Nas quatro citadas acima mesmo, sua pessoa física não consta como um dos investidores, e sim as empresas que Tanure integra.

Ele mesmo já foi multado em 1,5 milhão pela prática, ao não comunicar a condição de acionista controlador da Prio nos anos de 2014 a 2015. Ele utilizava estruturas societárias diferentes para ocultar a sua influência na empresa petroleira, sendo descoberto pelo CVM.

Ele também foi acusado de utilizar o caixa da companhia de petróleo para comprar uma participação na Oi no ano de 2016, onde supostamente buscava eleger membros no Conselho de Administração da empresa, mas foi absolvido da acusação.

Tecnologia é alvo

Um dos principais focos de Tanure nos últimos anos tem sido o investimento em empresas de telefonia e tecnologia. As compras em poucos meses da Sercomtel e da Copel Telecom, duas grandes empresas de telecomunicação no Paraná, mostraram isso. As aquisições aconteceram da mesma forma de outras companhias citadas acima: por meio de um fundo de investimentos. Além das empresas paranaenses, Tanure também já se envolveu em trabalhos com duas gigantes da comunicação no Brasil, Tim e Oi.

Em 2016 ele participou da venda da Intelig para a Tim por meio do fundo Docas. Na Oi, Tanure entrou com outro fundo, o Pharol para tentar negociata com credores da companhia. Sem sucesso e com brigas entre sócios em relação a recuperação judicial, ele deixou o negócio em 2020.

Neste ano, ao ser ventilado novamente como um dos acionistas por trás da Trustee DTVM, veículo de investimento que anunciou a posse de 5,14% do capital da Oi, teve uma reação contrária no mercado, com as ações da Oi (OIBR3) desabando 16,13%. O objetivo de Tanure era o de tomar o controle da gigante da comunicação nacional

O investimento na Sercomtel seguiu uma constância de Tanure: investir em negócios em baixa para tentar recuperação desse empreendimento. Na Copel Telecom, a situação foi diferente: pegou uma empresa estatal de arrecadação bilionária, com grande receita e com domínio no mercado de fibra óptica no Paraná. Com obrigação de mudança no nome da empresa, Tanure transformou a Copel Telecom na Ligga Telecom, adquirindo inclusive o Naming Rights do Estádio Joaquim Américo, a Arena da Baixada de propriedade do Athletico Paranaense. Com isso, o nome do tecnológico estádio passou a ser Ligga Arena. Com duas empresas do mesmo ramo no Paraná, Tanure tem um objetivo fixo: transformar o estado em um polo para a telecomunicação no Brasil. E uma possível aquisição da Celepar seria um prato cheio para um monopólio do empresário nas comunicações e tecnologias do Paraná.

Investigação

Em 2020, realizadas em conjunto pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e pelo Ministério Público Federal (MPF), com base na delação premiada do perito judicial Charles William, identificaram que o empresário Nelson Tanure teria efetuado pagamentos no valor de R$ 1,68 milhão ao juiz João Amorim, da 11ª Vara de Fazenda Pública. Esses valores teriam sido destinados à obtenção de duas sentenças favoráveis ao estaleiro Verolme Ishibrás, pertencente ao Grupo Docas. De acordo com Charles William, os pagamentos, que ele classificou como propinas, teriam ocorrido nos anos de 2012 e 2014, resultando na suspensão de duas execuções fiscais em trâmite na vara presidida por João Amorim.

Como parte das investigações, seis imóveis relacionados a Nelson Tanure, além da residência do advogado Joel Fernandes Pereira da Fonseca, apontado como suposto intermediário das negociações, foram alvos de busca e apreensão.

Créditos: Da Redação