Ponto 14

Professora nega injúria contra soldado da PM em sala de aula no Paraná

Por Giuliano Saito


Vítima fez palestra sobre respeito na escola e, segundo depoimentos, foi alvo do crime ao sair da sala. Secretaria de Educação lamentou e disse que a servidora está afastada. Defesa diz que acusação não procede e será demonstrado no decorrer do processo. Professora é indiciada por suspeita de racismo contra soldado da PM em sala de aula no Paraná Reprodução Em um depoimento à Polícia Civil, a professora indiciada por injúria contra a soldado da Polícia Militar Luci Ferreira negou o crime. A docente atua no Colégio Estadual Leocádia Braga Ramos, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), e, segundo depoimentos, ela chamou a agente policial de "macacona". O caso aconteceu dentro de uma sala de aula, após a soldado dar uma palestra sobre respeito aos alunos, no dia 31 de maio. Luci contou que soube do crime no dia seguinte por relatos dos estudantes. O g1 teve acesso ao conteúdo do depoimento, prestado à polícia no início do mês de julho. Ao ser questionada se fez sinal de "vômito" logo após a soldado sair da sala, a professora admite que fez alguns gestos "a intenção de amenizar a situação". Ela disse ainda que imitou a forma como a soldado andava. De acordo com a professora, ao entrar na sala, Luci chamou atenção de uma aluna, questionou o trabalho da docente e andou pelo local passando uma impressão de quem estava "oprimindo". Conforme a professora, assim que a policial saiu da sala, ficou um "clima tenso" em que "os alunos nem se mexiam de medo". Isso a deixou "constrangida, coagida e com medo". A docente foi questionada também se chamou a soldado de "macacona" ou "gorilona", como afirmado por algumas testemunhas. "Nunca. O que eu falei quando eu imitei ela andando foi que parece até aquela mulher gorila do circo, que é uma mulher novinha, bonitinha, de biquíni e, de repente, naquele jogo de espelhos, se transforma num monstro ali, numa gorilona e começa a assustar os telespectadores, mas nunca com tom de ser racista, de ser pejorativo", afirmou a professora. No depoimento, a mulher afirmou também que a mãe é negra, já sofreu racismo e, por conta disso, "jamais iria reproduzir a situação". A professora foi indiciada pelo crime de injúria em razão de raça, cor ou etnia. Conforme a Polícia Civil, ela irá responder em liberdade e, caso seja condenada, pode pegar de 2 a 5 anos de reclusão e multa. A defesa da docente afirmou que a acusação não procede e que isto será demonstrado no decorrer do processo. Câmera de segurança registrou interação Câmeras de segurança registraram a interação da professora com os estudantes. Nas imagens é possível ver que, após a soldado sair da sala, a professora se levanta e caminha em direção aos estudantes gesticulando. Alguns deles denunciaram a professora informando que ela imitou um gorila. Veja no vídeo abaixo. Professora é investigada por suspeita de racismo contra soldado PM dentro de sala de aula Além disso, os alunos contaram à vítima que a professora colocou o dedo na garganta, simulando nojo. "É uma professora, é uma formadora de opinião, é uma pessoa que tem relevância na sociedade. Como assim ela vai ensinar? Vai propagar, perpetuar, um crime horroroso desse? É chocante", afirmou a soldado. LEIA MAIS: Em 10 meses, Paraná registrou 7 vezes mais casos de injúria racial do que racismo; crimes foram equiparados Vítima deu palestra sobre respeito PM registra queixa contra professora por racismo dentro de sala de aula A soldado contou que foi convidada pela diretora da escola para conversar com as crianças e adolescentes sobre respeito. "Eu fui nas oito primeiras salas, sempre falando a mesma coisa. Eu sempre bato na tecla nessas palestras sobre respeito. O respeito entre menina, menino, com os funcionários, com a direção. Respeitar o professor dentro da sala de aula, o aluno que é gay, negro, qualquer outra coisa. Todo mundo tem quer ser respeitado", disse. Luci também é permissionária no colégio, ou seja, mora e cuida do local. Segundo ela, isso faz parte de um convênio entre a Polícia Militar e a Secretaria de Educação. Ela contou ao g1 que a situação a deixou emocionalmente abalada. "Não acredito que uma professora fez isso. Eu tinha acabado de sair de lá, falei exatamente o contrário que ela está fazendo. E aí eu vim para dentro da minha casa e comecei a chorar", relatou. LEIA TAMBÉM: Cães recebem agasalhos e cobertas para se proteger do frio no Paraná; especialista dá dicas para identificar se animal está com frio Jovem de Curitiba passa 48 horas pensando estar grávida após receber resultado errado de exame para colocar DIU: 'Repensei minha vida inteira' Idoso improvisa mesa em árvore e há 15 anos deixa café no quintal para coletores de lixo: 'Eu sei que é sofrido' O que diz a Seed Em nota, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR) lamentou o caso e informou que a servidora está afastada e que uma sindicância será aberta para apurar a situação. "Caso comprovado o ato racista, a professora autora do fato responderá processo administrativo disciplinar correndo risco, inclusive, de destituição do cargo", diz a nota. Initial plugin text VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná Leia mas notícias no g1 Paraná.