Produtores de leite protestam em pedágio de Laranjeiras do Sul e pedem ações contra crise no setor
Categoria reclama de preços abaixo do custo de produção e concorrência com importações; FPA cobra medidas urgentes do governo federal
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Eliane Alexandrino/Cascavel
Produtores rurais realizaram, na manhã desta quarta-feira (5), uma manifestação na praça de pedágio do km 464 da BR-277, em Laranjeiras do Sul, região Centro-Sul do Paraná. O ato buscou chamar a atenção das autoridades e da população para a crise enfrentada pelo setor leiteiro no país.
De acordo com a concessionária EPR, responsável pelo trecho, a praça ficou parcialmente interditada por causa da mobilização. O protesto ocorre de forma intercalada, com liberação e bloqueio momentâneo das cancelas, garantindo visibilidade ao movimento sem impedir totalmente o tráfego de veículos.
Os produtores afirmam que os preços pagos pelo litro do leite não cobrem o custo de produção, resultado do aumento dos insumos e da concorrência com produtos importados, principalmente da Argentina e do Uruguai. A entrada de leite subsidiado no mercado nacional tem reduzido a competitividade do produtor brasileiro, levando muitas famílias a abandonar a atividade.
A categoria defende políticas públicas que assegurem preço justo, valorização e sustentabilidade à cadeia produtiva. O setor tem grande importância para a economia regional, especialmente para agricultores familiares que dependem da atividade para geração de renda e movimentação do comércio local.
Pressão no Congresso: FPA cobra ações imediatas
A crise no setor ganhou repercussão em Brasília. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) cobrou do governo federal medidas urgentes para frear a queda de preços e o aumento das importações. Segundo o presidente da bancada, deputado Pedro Lupion (Republicanos-PR), a defesa do produtor é prioridade.
“Nosso papel é pressionar o governo, defender o produtor e garantir igualdade de condições. A bancada do agro está mobilizada e unida para fortalecer a cadeia do leite”, afirmou.
Nesta terça-feira (4), uma audiência pública na Câmara dos Deputados discutiu soluções emergenciais e estruturais. O deputado Valdir Cobalchini (MDB-SC), responsável por solicitar o debate, destacou que a situação ameaça a economia rural.
“Hoje, em Santa Catarina, o produtor recebe menos de R$ 2 por litro, enquanto o custo médio chega a R$ 2,40. Isso é inviável”, afirmou. Entre as medidas defendidas, estão a suspensão temporária das importações do Mercosul, auditorias sanitárias, compras públicas e ampliação do crédito subsidiado.
Antidumping negado
A deputada Ana Paula Leão (PP-MG), presidente da Frente Parlamentar em Apoio ao Produtor de Leite, criticou a decisão do governo que negou medidas antidumping ao leite importado. Segundo ela, o Brasil já importou 1,6 bilhão de litros até setembro, aumento de 28% em apenas um mês.
“Enquanto o leite de fora chega barato, o nacional é desvalorizado. Quando o produtor brasileiro quebrar, o importado vai chegar caro e quem vai sentir será o consumidor”, alertou em entrevista a FPA.
O Ministério da Agricultura informou que alterou regras do Programa Mais Leite para restringir importações feitas por cooperativas e laticínios. Já a Embrapa Gado de Leite propõe a criação de um fundo nacional, financiado por taxação sobre importados, para investimento em pesquisa, qualificação e assistência técnica.
As mobilizações seguem em diversas regiões do país e, segundo líderes do setor, novos protestos podem ocorrer caso não haja resposta imediata do governo.
FAEP alerta para agravamento da crise no Paraná
O Sistema FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) também se manifestou sobre o agravamento da crise. Em muitos casos, o valor pago ao produtor está abaixo de R$ 2 por litro. O custo médio de produção, conforme levantamento da Câmara Técnica do Conseleite-PR, era de R$ 2,62 em agosto de 2024. A defasagem coloca milhares de famílias em situação de prejuízo e ameaça a continuidade da atividade leiteira no Estado.
Tradicionalmente, o segundo semestre apresenta queda nos preços devido ao aumento da produção e da oferta de alimento para o rebanho. Porém, a FAEP alerta que o cenário atual é agravado pelo crescimento das importações e pela baixa capacidade de consumo das famílias brasileiras.
“O produtor de leite paranaense tem demonstrado enorme resiliência, mas a situação atual é insustentável. O preço pago hoje não cobre o custo de produção, e isso coloca em risco uma atividade essencial para o desenvolvimento econômico e social do Estado”, afirmou o presidente interino da FAEP, Ágide Eduardo Meneguette.
Medidas do Governo do Estado
O secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Márcio Nunes, anunciou medidas para reduzir os efeitos da crise.
“Nosso primeiro esforço é ampliar a compra pública. O Paraná já possui o maior programa do país, que compra 90 mil litros por dia. Vamos ampliar para 150 mil litros e aumentar o consumo de leite na merenda escolar para 200 ml por aluno, o que representará mais 300 mil litros por dia. Somando as ações, serão 400 mil litros a mais no mercado”, explicou.
Entre as propostas, também estão o reforço na assistência técnica do IDR-PR, melhorias nas estradas rurais para reduzir custos logísticos e a ampliação dos prazos de pagamento de empréstimos para produtores rurais.
Queda contínua no preço
Dados do Departamento Técnico e Econômico da FAEP mostram que, após um primeiro semestre sem recuperação, os valores voltaram a cair a partir de julho. O Conseleite aponta que o preço de referência foi de:
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R$ 2,41 em julho
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R$ 2,33 em agosto
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R$ 2,23 em setembro
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R$ 2,12 em outubro
Lei deve ser sancionada em breve no Paraná
O avanço do Projeto de Lei 888/2023, que proíbe a reconstituição de leite em pó importado para venda como leite fluido e seu uso na fabricação de outros laticínios, foi o principal resultado da audiência pública “Crise no Preço do Leite”, realizada em 21 de outubro na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
O presidente da Alep, deputado Alexandre Curi (PSD), anunciou acordo com o governo para sanção imediata da lei. “Votamos em primeira discussão e, após análise da emenda apresentada pelo deputado Luis Corti, o projeto voltará à CCJ. Em será incluído na pauta da sessão e encaminhado para sanção do governador”, afirmou Curi.
A tramitação acelerada foi confirmada pelo presidente da CCJ, deputado Ademar Traiano (PSD), reforçando o compromisso da Casa com o fortalecimento da produção leiteira paranaense.
A lei aguarda a sanção do governador Ratinho Jurnior (PSD).
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