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Primeira criança cadeirante a desfilar pela Gaviões da Fiel vira inspiração: 'A gente não pode se privar'

Por Giuliano Saito


Estreia da menina na escola foi em 2019. Em sua terceira vez na avenida, a curitibana incentiva outras crianças a fazer o mesmo. Pai destaca a importância da inclusão. Curitibana é a primeira criança cadeirante a desfilar pela Gaviões da Fiel Aos 11 anos, Agatha Dalila atravessou no último sábado (18) os mais de 500 metros do Sambódromo do Anhembi em São Paulo, pela terceira vez. A curitibana é a primeira criança cadeirante a desfilar pela escola de samba Gaviões da Fiel. A estreia da menina da avenida foi em 2019. Em sua terceira aparição no sambódromo, em 2023, ela já é inspiração. "A gente não pode se privar tanto, principalmente as crianças que têm vergonha, porque vergonha é o que mais faz a gente não fazer as coisas que a gente quer. Por exemplo, eu amo desfilar e eu não tenho vergonha de errar algumas coreografias. É não ter vergonha para fazer as coisas que você quer", afirma. Agatha nasceu com mielomeningocele, uma má formação da coluna vertebral e da medula espinhal. Por conta disso, ela perdeu os movimentos da cintura para baixo. Mas a condição não a impede de aproveitar o Carnaval. Agatha contou ao g1 que sempre achou a festa atraente. "Eu amo Carnaval. Desde pequena sempre achei muito legal aquela magia", afirma. Agatha no desfile de 2023 Reprodução/TV Globo A menina conta que desfilou pela primeira vez convidada por Fernanda Lacerda, musa da escola de samba. Naquele ano, ela foi a primeira e única criança em uma cadeira de rodas a cruzar a avenida pela Gaviões da Fiel. Felipe Carvalho, pai de Agatha, relata que o exemplo serviu de incentivo a outras crianças em condições parecidas: em 2020, além de Agatha, outras duas crianças cadeirantes também participaram da festa pela escola de samba. "É mostrar que a inclusão é possível. Até um tempo atrás, a gente não via um cadeirante na avenida e até em outras coisas, áreas ou trabalhos, e cada vez mais está acontecendo. A gente tem que lutar por isso, mostrar que a gente consegue e incentivar cada vez mais a inclusão", reforça Felipe. Ágatha no carnaval de 2019 e de 2020 Arquivo Pessoal Pré-Carnaval O pai de Agatha explica que a escola de samba ajusta vários detalhes para que a menina possa desfilar. A preparação começa cerca de dois meses antes do desfile, quando Mônica Guizilim, chefe da ala das crianças, envia o samba enredo para que a menina possa ensaiar. Mônica Guizilim, chefe da ala das crianças, junto com Agatha e o pai Arquivo Pessoal Além disso, conforme o pai, Guizilim é responsável pelos ajustes para que Agatha participe do desfile. Os cuidados vão desde adaptações com a fantasia, até a organização da ala. "Eles adaptaram toda a ala para colocar ela na comissão de frente da ala das crianças. Disponibilizaram uma outra pessoa para ir levando ela na avenida, para que ela ficasse com os braços livres para ela poder fazer a coreografia. Adaptaram a fantasia também por conta da cadeira", conta. 'Sou bem animada' A menina afirma que adora estar na avenida, principalmente porque quem está desfilando "se torna o centro das atenções". Para ela, um desafio é a espera para entrar na avenida. Neste Carnaval, a Gaviões da Fiel foi a última escola a desfilar. "Você se sente cansado na concentração, mas depois que chega na avenida já se alegra, começa a dançar", afirma Agatha. A menina afirma que, na hora do espetáculo, chega até a improvisar. "Elas ensinam como é a coreografia, mas eu invento lá, faço umas coisas… Sou bem animada. Eu animo o povo", conta orgulhosa. Agora, a torcida da carnavalesca é para que a Gaviões da Fiel ganhe o Carnaval de 2023, para então poder desfilar novamente como campeã. LEIA TAMBÉM: Mais de 18 mil pessoas acompanharam os desfiles das escolas de samba em Curitiba, diz prefeitura Maestro reúne 600 desconhecidos, dá aula de canto e transforma grupo em coral em um dia só Carnaval em Curitiba tem marcha de zumbis, performance de 'Thriller' e desfile de pets; VEJA FOTOS Incentivo Além de desfilar no Carnaval, Agatha conta também que joga tênis, participou de corridas e vai fazer natação. A iniciativa para as atividades partem dela, que conta com um grande incentivo do pai, Felipe, e da mãe, Mary Naruna. "A gente vê que muitos pais criam a criança em uma 'bolha', de certa forma para proteger a criança, mas a gente não acha isso tão bacana. Então, a gente sempre deixou a Agatha muito livre. As pessoas procuram a gente, e a gente pergunta para a Agatha: 'Você quer fazer?'. Se ela manifesta que ela quer, a gente corre atrás para adaptar e fazer acontecer", afirma o pai. Agatha com o pai, a mãe e o irmão mais novo Arquivo Pessoal *Com colaboração de Carol Maltaca, assistente de Produtos Digitais do g1 Paraná. VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.