Prefeitura de Curitiba recusa sugestão aprovada por vereadores para retirar do Centro distribuição de marmitas para população em situação de vulnerabilidade
Por Giuliano Saito
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Mesa Solidária atende pessoas em vulnerabilidade social na Praça Tiradentes. 17 vereadores foram favoráveis e 6 contrários a proposta. Mesa Solidária, em Curitiba, funciona na Praça Tiradentes Levy Ferreira/SMCS A Prefeitura de Curitiba recusou em menos de 24h a sugestão aprovada por vereadores que pedia que o programa Mesa Solidária Luz dos Pinhais fosse alterado da Praça Tiradentes, Centro da cidade, para outra região. A iniciativa atende, desde 2019, pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade social com distribuição de marmitas. Veja detalhes do projeto abaixo. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram A autoria da sugestão é do vereador Eder Borges (PP). Ao apresentá-la, em 6 de junho, ele justificou que a presença de pessoas em vulnerabilidade no Centro está atrapalhando o comércio. Afirmou, também, que o Centro de Curitiba está "virando uma cracolândia", fazendo menção a área de São Paulo ocupada por usuários de drogas. "A ideia é que esse programa seja otimizado. Feito de forma mais inteligente, eu diria, e que promova uma revitalização do Centro de Curitiba. Essas pessoas não tem porque estar no Centro. Porque uma grande dessas pessoas estão nessa situação por uma questão de 'drogadição', uma questão que acaba atraindo outros problemas maiores, como a questão de assaltos", disse Borges em entrevista à RPC. 17 vereadores foram favoráveis a sugestão e 6 contrários. Pela lei, a administração municipal não é obrigada a acatá-la. De acordo com Luiz Dâmaso Gusi, da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN), a proposta foi recusada. Entre os motivos, estão os resultados positivos no acesso das populações mais vulneráveis a políticas públicas por meio do Mesa Solidária. "Nós não vamos tirar o Mesa Solidária da Praça da Luz dos Pinhais, porque ele é um elemento de convergência. Na nossa avaliação, não é esse tipo de acesso à alimentação, acesso aos serviços da rede de produção social, que mantém a população no Centro da cidade. A nossa avaliação é muito na questão da qualidade alimentar e no acesso a rede de proteção social, em toda a conexão que, através do alimento, você traz o terceiro setor e o setor privado para uma ação conjunta", afirmou Gusi. Vereadores de Curitiba aprovam sugestão para retirar Mesa Solidária do centro Votação A votação ocorreu na manhã desta segunda-feira (12), de maneira simbólica. 17 vereadores foram favoráveis e 6 contrários. Em votações simbólicas, não ficam disponíveis os nomes dos parlamentares favoráveis e contrários a proposição. No texto da sugestão, o vereador diz que, segundo comerciantes, há desperdício de alimentos pelas pessoas que participam do programa; que a comida descartada nas ruas atrai ratos e insetos; e que há fragilidade da segurança de munícipes e turistas, abordados pelas pessoas vulneráveis na região central. O texto apresentado por Borges não sugere para onde o programa deveria ir. LEIA TAMBÉM: Dia dos Namorados: Entenda como funciona um 'contrato de namoro' Poliamor: Trisal anuncia nascimento de segundo bebê Lista: Paraná tem mais de 700 vagas em concursos públicos Argumentações Quando Borges apresentou a sugestão, a proposta gerou polêmica entre os parlamentares. Na ocasião, ele disse que era contra o local onde o programa ocorria, e não contra a iniciativa. Nesta segunda (12), o vereador jornalista Márcio Barros (PSD) foi um dos que votaram a favor da sugestão de Borges. Nas discussões iniciais sobre o projeto, ele chegou a contestar Eder Borges sobre a iniciativa, dizendo que tirar o Mesa Solidária do Centro seria uma medida higienista. "É importante entender que, sendo a favor da sugestão dele, não significa que eu quero que tire do Centro. Mas que esse tema entre na discussão lá na prefeitura, pra que eles pensem em um espaço maior. O que acontece hoje: se formam filas aguardando almoço e janta. Isso, talvez, incomoda também os comerciantes. Se a gente tiver um espaço maior, mas localizado no Centro, a gente já resolve esse problema", disse Barros. A vereadora Maria Letícia (PV) foi uma das parlamentares contrárias a sugestão. Ela reforça que o Mesa Solidária é um programa que atende pessoas em situação de vulnerabilidade, como idosos e desempregados, e não apenas pessoas em situação de rua. Além disso, conforme Maria Letícia, a proposta de retirar o espaço da região central "é esconder debaixo do tapete as mazelas da cidade". "Se nós temos pessoas em situação de vulnerabilidade, elas precisam ser atendidas com clareza e transparência, e não escondidas em bairros periféricos. Para considerar isso, eu acho que o Mesa Solidário poderia ser estendido em outras frentes, porque como ele é uma parceria entre prefeitura e outras entidades, dá para a gente pensar em fazer em outros mais lugares, mas não fechar o lugar no centro para atender o pedido de um vereador", afirmou a vereadora. Maria Letícia também classificou a proposta como "uma vergonha". Impactos De acordo com Leonildo José Monteiro Filho, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, por mês são 6 mil marmitas distribuídas. Ele considera que a iniciativa da proposta foi feita sem o devido diálogo com a sociedade. "Muito triste, um vereador que tenha essa iniciativa sem conversar com a sociedade civil, sem conversar com as pessoas que precisam dessa alimentação. Ele traz e coloca lá na Câmara, e a gente fica mais triste que é acompanhado por mais 16 vereadores. Não sei se eles já passaram fome alguma vez na vida, mas pelo jeito não, porque é muito fácil você tirar a comida, recomendar uma proposta dessa, sem dialogar com quem passou fome ou entrega essa comida", afirma Leonildo. Em relação ao relato do vereador sobre o movimento do público da Mesa Solidária atrapalhar os comerciantes locais, Leonildo sugere que os comerciantes conversem com a iniciativa para encontrar uma solução. "Vamos trabalhar juntos, achar uma alternativa. O que a gente não pode fazer é tirar da boca de 5 mil pessoas um alimento", diz. O programa De acordo com a Prefeitura de Curitiba, o programa Mesa Solidária tem o objetivo de garantir alimentação gratuita de qualidade e mais dignidade à população em risco social da capital. A ação envolve ONGs, instituições religiosas, empresas e cidadãos voluntários. Ainda de acordo com a prefeitura, desde que começou a funcionar, o programa distribuiu gratuitamente mais de 1 milhão de refeições para pessoas em situação de rua, idosos e pessoas em extrema pobreza. O Mesa Solidária também é uma política pública integrada do município, sendo a porta de entrada para o resgate desses cidadãos, através da Rede de Proteção Social de Curitiba, ao ofertar diversos serviços do município", explica a prefeitura. Em abril deste ano, por exemplo, o Mesa Solidária ganhou espaço da FAS de apoio à população de rua e encaminhamento aos serviços sociais prestados pela Prefeitura, como Cadastro Único (CadÚnico), CRAS, CREAS, acolhimento e cursos profissionalizantes. Além do espaço que funciona na Praça Tiradentes, a prefeitura também oferece alimentação nos restaurantes populares do Capanema (Jardim Botânico) e Rui Barbosa (Centro). VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Veja mais notícias do estado no g1 Paraná.
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