RESULT

Preço da gasolina cai nas distribuidoras, mas será que impacta no bolso?

O valor corresponde a uma queda de 5,6% nos preços. A decisão ocorre em meio à tendência de queda nos preços do petróleo no mercado internacional

Por Gabriel Porta

Preço da gasolina cai nas distribuidoras, mas será que impacta no bolso? Créditos: Jorge Júnior/Rede Amazônica

A partir de hoje (03), a gasolina vendida às distribuidoras está mais barata. A Petrobras anunciou uma redução de R$ 0,17 por litro, o que representa uma queda de 5,6% no preço da gasolina A, que passa a custar R$ 2,85 por litro para as distribuidoras. Considerando a mistura obrigatória de 27% de etanol anidro e 73% de gasolina A — que formam a gasolina C, comercializada nos postos —, a parcela da Petrobras no preço final ao consumidor será de R$ 2,08 por litro, refletindo uma redução de R$ 0,12 no valor das bombas. Desde dezembro de 2022, a Petrobras acumula uma queda de R$ 0,22 por litro no preço da gasolina repassada às distribuidoras, o que corresponde a uma redução de 7,3%.

Para o economista Rui São Pedro, que conversou com a reportagem desta Gazeta, a medida traz efeitos positivos tanto para o bolso dos consumidores quanto para a economia de forma geral. Segundo ele, a redução no preço dos combustíveis tem impacto direto na vida da população, especialmente por se tratar de um dos itens que mais pesam no orçamento das famílias.

Rui explica que a medida representa um alívio nas despesas, principalmente no transporte — um dos custos mais relevantes, seja para quem usa veículo próprio, seja para quem depende do transporte coletivo, que também sofre influência dos combustíveis. Na visão dele, qualquer redução nesse setor gera reflexos imediatos, aumentando o poder de compra das famílias e movimentando a economia. Com mais dinheiro sobrando, as pessoas tendem a consumir mais em outros setores, o que aquece comércio, serviços, estimula a produção e, consequentemente, contribui para a geração de empregos e fortalecimento da atividade econômica.

O economista também observa que essa redução é resultado de uma combinação de fatores externos e sazonais. Destaca, por exemplo, a valorização do real frente ao dólar, o período de safra da cana-de-açúcar — que influencia diretamente no preço do etanol, responsável por 27% da composição da gasolina —, além da queda no preço do barril de petróleo no mercado internacional. Segundo ele, são fatores que ajudam a aliviar os custos tanto para o setor produtivo quanto para os consumidores. A decisão da Petrobras segue a tendência de queda nos preços do petróleo observada desde o início do ano. Apesar do anúncio, os preços dos demais combustíveis permanecem inalterados.

Por outro lado, o impacto no bolso do consumidor não é automático nem garantido. Isso porque o preço da gasolina nas bombas não é tabelado e depende de vários fatores além do valor definido pela Petrobras. Conforme explica a própria estatal, seu preço representa, em média, apenas um terço do valor final pago pelos motoristas nos postos. O restante é composto por custos e margens de lucro de distribuidoras e revendedores, pelo custo do etanol anidro adicionado à gasolina, além de impostos federais — como Cide, PIS/Pasep e Cofins — e do ICMS, que varia conforme cada estado.

Por isso, o consumidor deve aguardar os próximos dias para saber se a redução será repassada. A expectativa é que a queda nas distribuidoras gere uma pressão natural para que haja redução nas bombas, mas a decisão final sobre o repasse cabe individualmente a cada empresário, o que pode fazer com que o efeito varie de uma região para outra. Ou seja, será fundamental que o consumidor faça uma pesquisa cuidadosa para identificar onde encontrar o combustível mais barato na hora de abastecer.

O empresário Roberto Pellizzetti, diretor regional do Sindicombustíveis (Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis), reforça que não há garantia de que a redução chegue integralmente ao consumidor final. “O preço é livre. Cabe às distribuidoras e aos donos de postos decidirem se vão repassar ou não essa redução. O valor final inclui, além do preço de compra, custos logísticos, operacionais, carga tributária e a margem de lucro de cada empresa”, explicou.

Por esse motivo, Pellizzetti alerta que será necessário acompanhar os próximos dias para avaliar o real impacto no bolso. “Essa redução nas distribuidoras cria, sim, uma pressão natural para a queda dos preços nas bombas. No entanto, o repasse é uma decisão individual de cada empresário, o que pode fazer com que os preços variem bastante de uma região para outra”, concluiu.

Fatores que influenciaram na redução

Rui São Pedro explica que essa queda nos preços não ocorreu por acaso e está ligada a uma combinação de fatores externos e internos. Entre eles, destaca-se a valorização do real frente ao dólar, o que reduz custos de importação, e também o período da safra da cana-de-açúcar, que tem impacto direto no preço do etanol — que compõe cerca de 27% da gasolina brasileira.

“Estamos em plena safra de cana-de-açúcar. Isso significa aumento na oferta de etanol, que é misturado à gasolina. Quando o preço do etanol cai, isso reflete diretamente no preço final da gasolina. Além disso, o preço do barril de petróleo no mercado internacional também sofreu uma queda, o que, somado à valorização do real, contribui para essa redução anunciada pela Petrobras”, detalhou.

 Carga tributária ainda é um gargalo

Um dos principais gargalos, segundo o economista, continua sendo a carga tributária. Rui afirma que o Brasil é um dos países que mais tributa o consumo no mundo, e isso tem efeitos diretos sobre os combustíveis. “Infelizmente, é uma realidade. Foi feita uma análise recentemente que mostra que, dos 12 meses do ano, o trabalhador brasileiro precisa trabalhar cerca de cinco meses apenas para pagar impostos. Isso é muito pesado. E, claro, isso se reflete nos preços dos combustíveis”.

Ele explica que, embora a redução do preço da gasolina tenha impacto na arrecadação de impostos, o problema estrutural continua. “Os impostos sobre combustíveis no Brasil são altíssimos. Mesmo que o preço na bomba caia, a estrutura tributária permanece sufocando tanto os consumidores quanto os empresários. A tributação não é um valor fixo, mas um percentual sobre o preço. Então, se o preço diminui, a arrecadação cai um pouco, mas a carga segue extremamente elevada para o que o brasileiro ganha”.