Ponto 14

PodParaná #96: Conheça a história de Maria Olympia, a primeira vereadora de Curitiba

Por Giuliano Saito


Ela foi eleita em 1947, aos 21 anos, e integrou a 1ª Legislatura da Casa. Vereadoras eleitas nas décadas seguintes contam como foi ser mulher na Câmara e refletem sobre a participação feminina na política. Maria Olympia Carneiro Mochel foi a primeira vereadora de Curitiba. Ela foi a única mulher dos vinte vereadores eleitos em 15 de novembro de 1947, para a 1ª Legislatura da Câmara Municipal de Curitiba (CMC). Maria Olympia Carneiro Mochel foi eleita vereadora aos 21 anos Câmara Municipal de Curitiba O episódio #96 do PodParaná é dedicado a contar a história da pioneira que abriu as portas da participação feminina no legislativo da capital. Eleita aos 21 anos, até hoje ela é a vereadora mais jovem a assumir uma cadeira na Casa. Jornal registra eleição da primeira vereadora de Curitiba Acervo da Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira Jornal 'O Movimento Feminino' mostra vereadora visitando bairros mais pobres de Curitiba, em 1948 Acervo da Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira Você pode ouvir o PodParaná no g1, no Spotify, no Castbox, na Amazon, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, no Deezer, no Hello You ou no aplicativo de sua preferência. Assine ou siga o PodParaná, para ser avisado sempre que tiver novo episódio no ar. PodParaná: toda sexta-feira um novo episódio. Ouça no G1 e em diversas plataformas Arte/RPC Nascida em Antonina, no litoral do Paraná, mas registrada em Curitiba, a atuação política da professora começou quando trabalhava em uma fábrica de viaturas do Exército na capital. A luta por melhores condições de trabalho a fez uma líder entre os funcionários. As reivindicações feitas por ela a renderam uma demissão, mas também apoio para conseguir ser eleita vereadora com 436 votos pelo Partido Social Trabalhista (PST). Participam deste episódio do PodParaná: Alice Mochel, a penúltima dos cinco filhos de Maria Olympia; Marlene Zannin, terceira vereadora eleita em Curitiba e ex-secretária de Meio Ambiente de Curitiba; Roseli Isidoro, ex-vereadora e ex-secretária da Mulher de Curitiba; Luciana Panke, pós-doutora em Comunicação Política e autora do livro "Campanhas eleitorais para mulheres". Livro Ata da instalação da Câmara, em 19 de dezembro de 1947 Andressa Katriny/CMC Filha do pediatra e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Raul Carneiro e da imigrante alemã Anna Schweble, Maria Olympia cursou a escola normal em Curitiba, tornando-se professora. Nos movimentos políticos, ela conheceu o maranhense e estudante de Agronomia Joaquim Rodrigues Mochel, com quem se casou. Ele também disputou as eleições para vereador em 1947, mas só ela foi eleita. "Ela teve uma uma liderança no seio dos poucos vereadores de esquerda, e que eram preocupados com a população mais carente. Então, a luta muito ferrenha na época era sobre o petróleo ser nosso, e ela fez parte desse grupo que trabalhava e batalhava pela pela Petrobras, pelo pelo fato de nós termos o petróleo sob o comando. Ela sofreu as penalidades por conta disso, o isolamento numa Câmara de vereadores bastante tradicional e muitos de direita mesmo", relata Alice a partir do que a mãe lhe contou. Em 1951, ano em que terminou a Legislatura para a qual a vereadora foi eleita, ela teve o segundo filho e não voltou a se candidatar. Mudou para São Luís do Maranhão, onde recomeçou sua trajetória desta vez como médica. Maria Olympia integrou a primeira turma de Medicina da Universidade Federal do Maranhão, e se destacou como psiquiatra. Ela morreu em 2008, aos 82 anos, em São Luís. A vereadora, o marido Joaquim Mochel, e o primeiro filho do casal José Augusto Arquivo pessoal Maria Olympia e o marido Joaquim Mochel: os dois disputaram a mesma eleição municipal, só ela foi eleita Arquivo pessoal Pouco a pouco, mulheres vão sendo eleitas vereadoras na capital Só em 1960, a Câmara de Curitiba voltou a eleger uma mulher. A segunda vereadora de Curitiba foi a professora Maria Clara Brandão Tesseroli. Ela foi reeleita, e permaneceu na Casa até 1967. Quinze anos depois, a Câmara voltou a ter uma mulher vereadora. Porém, em 1982, foram duas eleitas: a advogada Marlene Zannin e a médica Rosa Maria Chiamulera. Desde então, a Câmara Municipal nunca mais teve uma Legislatura sem mulheres. Saiba mais sobre outras parlamentares que já passaram pelo legislativo curitibano. Ao PodParaná, a ex-vereadora Marlene Zannin contou que sua campanha foi feita ainda em meio à ditadura, sob os olhos da chamada polícia política. Além disso, relata como driblou a falta de recursos para ir às ruas quando era candidata. Veja fotos abaixo. "Nós não tínhamos recursos próprios e apenas recebemos do partido um fusca e um pouco de propaganda, mas a gente fazia o trabalho de campanha na rua. Eu sempre ia na Rua XV com um megafone e subia naquelas floreiras e fazia discursos. Tinha uma época em que era proibido ainda, e a gente tinha a perseguição sempre da Polícia Municipal e na época ainda funcionava o DOI-CODI, né? Então, a polícia política também". Foto de campanha utilizada por Marlene Zannin em 1982 Arquivo pessoal Marlene Zannin como vereadora de Curitiba os anos 1980 Arquivo pessoal A então vereadora Marlene Zannin discursa na tribuna da Câmara Arquivo pessoal A então vereadora Marlene Zannin Arquivo pessoal Democracia democrática Eleita décadas após Maria Olympia ter sido a pioneira a ocupar uma cadeira na Câmara, a ex-vereadora Roseli Isidoro também compartilhou com o PodParaná como foi sua trajetória na Casa. A ex-vereadora chegou a ser reeleita, e atuou na Câmara Municipal de 2003 a 2008. Ela avalia que, apesar dos esforços para que mais mulheres entrem para a política, não houve tantos avanços quando se fala em representação feminina nos Poderes. "Quando eu chego, então, em 2003, eu me deparo com uma realidade que não é muito diferente desse histórico ,dessa retrospectiva. E, claro, você chega num parlamento cheio de expectativa, uma vontade grande de fazer as coisas acontecer. E, aí começam as frustrações, porque você se depara com o preconceito com o machismo, com a subvalorização", afirma. A pós-doutora em Comunicação Polícia Luciana Panke analisa que, mesmo após 90 anos do sufrágio feminino, ainda há uma cultura que não naturaliza a presença de mulheres em espaços de poder. "Essas mulheres então, que elas tomam, 'abrem a porta ou empurram a porta' em lugares que são conhecidos como tipicamente masculinos, muitas delas são condenadas ou elas precisam enfrentar desafios muito fortes, como a escolher entre o casamento e estar na atuação política ou 'Como que vou criar meus filhos?". Luciana Panke destaca também que a pluralidade nos Poderes é crucial para que a democracia seja de fato democrática; "A nossa democracia não é democrática. Portanto, ter os espaços de decisão pública compostos por pessoas que estão na sociedade é uma questão crucial para a democracia. Mulheres ou mesmo pessoas de todas as cores, pessoas com deficiência, pessoas de todas as orientações e só assim a gente vai ter, evidentemente, o gerenciamento das cidades, do Estado e mesmo do país de uma forma pouco mais equânime". O PodParaná tem episódios semanais que contam a história de moradores do estado e tratam de temas importantes para os paranaenses. Para sugerir temas e interagir com a equipe, os ouvintes podem usar o aplicativo Você na RPC. Assista aos vídeos mais acessados do g1 PR Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.