PMs 'retardaram acionamento' de bombeiros para adolescente que morreu afogado em lago de Rolândia, afirma MP
Por Giuliano Saito
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Segundo os promotores, PMs demoraram mais de meia hora para acionar o socorro. Agentes afirmaram em depoimento que chamaram os bombeiros assim que souberam do afogamento. Lago São Fernando, em Rolândia (PR) Reprodução/Prefeitura de Rolândia O Ministério Público do Paraná (MPPR) aponta que quatro policiais militares "retardaram o imediato acionamento da equipe de salvamento do Corpo de Bombeiros" para resgatar um adolescente de 17 anos que morreu afogado em setembro de 2021 no Lago São Fernando, em Rolândia, norte do Paraná. Os agentes foram denunciados por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. O g1 tenta contato com a defesa dos PMs. Veja abaixo o que disse a advogada dos familiares do adolescente. Segundo a denúncia, os PMs faziam um patrulhamento quando viram várias pessoas às margens do lago. Ao avistar a viatura, algumas delas fugiram. Conforme o MP, o adolescente entrou "espontaneamente" no lago, mas, por não saber nadar, começou a pedir socorro para um colega, também menor de idade. O adolescente pulou na água para salvar o amigo. Os promotores Hideraldo José Real e Jorge Barreto da Costa, responsáveis pela acusação, apuraram que a abordagem aconteceu às 20h e os bombeiros foram chamados às 20h38. Para o Ministério Público, como estavam no local, os policiais "deixaram de empregar a diligência a que estavam obrigados em face das circunstâncias e, supondo que o resultado morte não se realizaria", atrasaram o chamamento do Corpo de Bombeiros. O MP sustenta que este atraso "postergou a adoção das providências necessárias ao resgate da vítima ainda com vida". O exame de necropsia do Instituto Médico-Legal (IML) mostrou que a causa da morte dele foi asfixia por afogamento. Na Justiça O juiz Leonardo Bechara Stancioli, da Vara da Justiça Militar Estadual, aceitou a denúncia do MP e transformou os policiais em réus no processo. Em decisão obtida pelo g1, ele descreveu que "verifica-se a existência de indícios de materialidade e de autoria delitiva suficientes para a instauração da ação penal". Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Militar disse que "o processo está sob responsabilidade da Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual e os militares seguem nas atividades operacionais, uma vez que os autos encontram-se em andamento". Inquéritos A morte do adolescente foi investigada pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito em janeiro de 2023. O delegado Bruno Silva Rocha, que apurou o caso, não viu culpa na ação dos policiais militares, entendimento contrário ao dos promotores. Segundo o relatório policial, obtido pelo g1, o adolescente que pulou no lago para tentar salvar o amigo que morreu afogado disse, em depoimento, que foi abordado por um dos policiais. O agente teria dito a ele pra ter "cuidado quanto as informações que seriam prestadas no batalhão da PM". Os PMs também foram ouvidos pelo delegado. Um deles afirmou que, assim que souberam do afogamento pelo amigo da vítima, "solicitaram apoio ao Corpo de Bombeiros, que chegaram no lago e iniciaram as buscas, mas não obtiveram êxito em localizá-lo". Outro PM afirmou em depoimento que "as atenções foram voltadas ao salvamento" logo que ele e os agentes souberam que um adolescente havia se afogado. Leia também Arma de guarda municipal dispara acidentalmente dentro de clínica médica em Maringá, diz PM Menina de 2 anos internada após pia cair sobre ela passa por cirurgia e tem melhora: 'Para nós já é uma vitória', diz avó O Inquérito Policial Militar (IPM) aberto para apurar a conduta dos quatro policiais concluiu que "não há indícios de crime militar, não vislumbrando transgressão disciplinar". Advogados A advogada Aline Capocci, que representa a família do adolescente morto, disse em nota que "o caso estava sendo tratado como afogamento acidental, sendo que o corpo estava sendo preparado para velório, e apenas tomou outro rumo quando os advogados da família conseguiram atavés de decisão judicial que o corpo retornasse ao IML para perícia médica". Segundo a advogada, "a versão apresentada pelos policiais na ocasião não se mostrava idônea e encontrava-se em divergência com a versão das demais testemunhas presentes no local". Mais assistidos do g1 PR Veja mais em g1 Norte e Noroeste.
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