PL afasta deputado Ricardo Arruda da presidência do partido em Curitiba; ele é acusado pelo MP de receber propina em troca de favores
Por Giuliano Saito

Parlamentar nega crimes e acusa ex-assessores. Denúncia do MP, que ainda não foi apreciada pela Justiça, também acusa envolvidos de peculato e associação criminosa. Ricardo Arruda foi reeleito em 2022, com 68.731 votos. Arruda está no terceiro mandato na Alep RPC O Partido Liberal (PL) afastou da presidência do diretório municipal de Curitiba o deputado estadual Ricardo Arruda (PL), denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) por tráfico de influência, associação criminosa e peculato. A acusação, que também pesa contra três ex-assessores do parlamentar, é referente a crimes cometidos entre 2016 e 2017, de acordo com a investigação. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Além do afastamento, o partido informou que abriu um processo no conselho de ética do PL para apurar o caso. O deputado estadual, que está no terceiro mandato consecutivo na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), nega todos os crimes, diz ser perseguido pelo MP-PR e acusa os ex-assessores. Segundo a denúncia do MP-PR, Arruda "atuava com seu prestígio de deputado estadual, passando credibilidade e segurança aos serviços ilícitos oferecidos pelo gabinete parlamentar", ao mesmo tempo em que os assessores denunciados "faziam os contatos, angariavam pessoas que almejavam algum benefício junto a administração público estadual ou mesmo junto ao Poder Judiciário", prometendo a elas influência do deputado. O MP também diz no documento que os ex-assessores "por diversas vezes receberam os valores solicitados, tudo com pleno conhecimento, assentimento e comando do referido parlamentar". A denúncia cita seis situações em que Arruda e os demais acusados receberam propina em troca de favores. Somados, os valores somam quase meio milhão de reais. Veja detalhes abaixo. A reportagem teve acesso à íntegra da denúncia, formalizada em 2020. O caso estava sob sigilo, mas recentemente se tornou público. MP denuncia deputado estadual por cobrar propina em troca de favores Ex-assessores denunciados Pelos mesmos crimes, foram denunciados os ex-assessores Débora Moreira Cezar, Fabio Abel Manfrin Nonato e Fernando Aparecido Julião. As irregualridades, segundo o MP-PR, ocorreram entre 2016 e 2017. A defesa de Fernando Julião disse que ele tinha acabado de ser contratado e não teve envolvimento direto nos crimes investigados. A defesa de Débora de Azevedo disse que a ex-assessora "cumpria com suas obrigações profissionais de forma dedicada e competente, sempre seguindo as orientações e ordens de seu superior hierárquico". Afirmou, também, que ela não tem "qualquer responsabilidade criminal, uma vez que estava apenas realizando seu trabalho e confiando em seu ex-chefe". A reportagem não teve retorno da defesa de Fabio Nonato. O caso tramita no Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), uma vez que Arruda tem foro privilegiado. Até esta quarta-feira (14), a denúncia não tinha sido apreciada. Defesa em plenário Nesta quarta-feira (15), durante sessão plenária da Alep, Arruda utilizou a tribuna, por cerca de 10 minutos, para se defender sobre o caso. Em coletiva, após a sessão, o deputado disse que os crimes dos quais é acusado foram cometidos pelos ex-assessores, citando de maneira mais enfática a ex-assessora Débora, também denunciada pelo MP. Ele disse que a desligou do cargo tão logo descobriu as irregularidades. "Demiti ela imediatamente e fiz um boletim de ocorrência. E aí a advogada dela me procurou e falou 'o senhor pode manter ela mais um ou dois meses?' e eu falei 'nem mais um dia'. Ela é criminosa. Ela foi tentar fazer um esquema com prefeito em meu nome [...] Aí ela vai lá, uma criminosa, faz uma denúncia no MP, o MP prefere ouvir uma criminosa do que um parlamentar [...] Esse infelizmente o lado podre do Ministério Público. Como faz denúncia crime? Baseado no que? Vai ouvir esse tipo de gente? E agora vaza isso aí pra imprensa?" Até esta quarta (15), a Alep não tinha se manifestado se abriria algum tipo de investigação sobre o caso. Segundo a presidência da Casa de Leis, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia ainda não está formado. Em entrevista à RPC, na terça (14), Arruda disse que o MP-PR não tem "nenhuma prova real". "Com todo respeito ao MP, essa denúncia deles pra mim não vale absolutamente nada. Denúncia infundada. Não foi comigo, foram com assessores meus. Eu, no primeiro mandato, montei o gabinete com indicações e infelizmente errei nas contratações, peguei pessoas criminosas e não são assessores. Foram exoneradas imediatamente, foi feito boletim de ocorrência contra elas e feito um processo contra elas", disse o parlamentar. Na biografia de Arruda, disponível no site da Alep e escrita pela equipe do parlamentar, o deputado é apresentado como conservador, de direita, que tem entre as prioridades “o combate à corrupção". Deputado Ricardo Arruda (PL) Dálie Felberg/Alep Leia também: Pedágio: Sandro Alex deixa secretaria e volta ao posto de deputado durante negociações em Brasília BR-277: Setor agrícola estima prejuízo de R$ 600 milhões no escoamento Danos: Motoristas registram aumento da fenda na BR-277 sentido litoral Tráfico de influência e associação criminosa Segundo a denúncia do MP-PR, Arruda e os então assessores “se associaram de forma voluntária e consciente com o propósito específico de cometerem crimes”. Como provas, o órgão cita gravações de conversas, troca de mensagens, registros de entrada e saída da Alep, e oitivas de testemunhas. Sobre o crime de tráfico de influência, uma das irregularidades citadas pelo MP-PR ocorreu em outubro 2016, quando o parlamentar e os assessores receberam cerca de R$ 100 mil para ajudar um empresário do ramo de exportação a conseguir o recebimento de valores pendentes em contratos em aberto com o Governo do Estado. O documento não cita se o deputado conseguiu cumprir o pedido. No mesmo ano, em dezembro, o MP diz que o parlamentar cobrou e recebeu R$ 80 mil para ajudar a reintegração de ex-policiais militares junto à corporação, de acordo com a denúncia. O documento diz que, segundo testemunhas, os PMs foram reintegrados. Em 2017, o órgão cita três casos similares, também de tráfico de influência: Fevereiro de 2017: recebimento de R$ 80 mil para ajudar policial a promover carreira e interferência para evitar a expulsão do mesmo por investigação de tortura; o documento não informa se a interferência teve sucesso; Março de 2017: recebimento de R$ 110 mil para ajudar a reintegrar policial expulso da PM; ao MP, a então assessora disse que eles não conseguiram reintegrar o PM; Segundo semestre de 2017: recebimento de R$ 65 mil para viabilizar habeas corpus em favor de PM preso; segundo o documento, eles não conseguiram soltar o policial. De acordo com o MP, os pagamentos dos casos citados na denúncia ocorreram no gabinete do parlamentar, dentro das dependências da Alep; na área externa à Assembleia; e no Parque Barigui, em Curitiba. Peculato Na denúncia do MP-PR, o órgão diz que Arruda e os assessores também cometeram o crime de peculato, que é o desvio do dinheiro público. As irregularidades foram em outubro e dezembro de 2016, e fevereiro e março de 2017, segundo o documento. De acordo com o MP-PR, o grupo desviou dinheiro do ressarcimento da Alep por cinco vezes, no valor de R$ 17.635, para pagar pessoas que prestavam serviços de interesse pessoal do deputado, mas que não eram servidores. O que dizem os órgãos citados À RPC, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) disse que não pode se pronunciar sobre casos que estão em julgamento. A Assembleia Legislativa do Paraná disse que não recebeu nada, oficialmente, sobre esse assunto, e que não teve acesso ao teor da investigação. A defesa do deputado federal Beto Richa (PSDB), que na época era governador do Paraná, disse que Arruda não exerceu interferência no governo. Vídeos mais assistidos do g1 PR: Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.
Você também pode gostar
Leia mais: https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2023/03/15/pl-afasta-deputado-ricardo-arruda-da-presidencia-do-partido-em-curitiba-ele-e-acusado-pelo-mp-de-receber-propina-em-troca-de-favores.ghtml