Pesquisadora contesta representação de crianças negras como escravas no Paraná: ‘Não foi educativo para ninguém’
Por Giuliano Saito
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Para especialista, ‘não se conta história da escravidão sem falar da resistência’. Desfile cívico em Piraí do Sul é investigado pelo Ministério Público. Prefeitura disse que desfile visava 'resgatar valores como civismo'. Pesquisadora contesta representação de crianças negras como escravas no Paraná A representação de crianças como pessoas escravizadas, realizada em um desfile cívico no Paraná, foi contestada por uma especialista em educação, que avaliou a cena como grave e carregada de estereótipos. Assista acima. Para a professora Ione Silva Jovino, o desfile reforçou uma imagem que não gerou nenhum tipo de aprendizado para a população. Segundo a especialista, não se deve falar em escravidão sem se abordar o tema da resistência. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram “A gente não pode continuar só mostrando pessoas negras no contexto de escravidão e sobretudo representando a passividade. Do ponto de vista educativo, a gente não apaga a história da escravidão, mas a gente não pode repetir sempre a mesma imagem. É possível falar da escravidão mostrando a resistência [...] Pessoas negras escravizadas foram arquitetas construtoras, agricultores, costureiras, sapateiros, lavadeiras, cozinheiras, tantos conhecimentos que se podia ressaltar”. O caso aconteceu em Piraí do Sul, nos Campos Gerais, no dia 18 deste mês, e foi compartilhado nas redes sociais oficiais da prefeitura. Horas depois, o conteúdo foi removido. A representação no desfile foi organizada por uma escola municipal. Assista mais abaixo. Em nota, a prefeitura disse que o desfile buscava “resgatar valores como civismo e desenvolver o sentimento de pertencimento em toda a população”. O Ministério Público do Paraná (MP-PR) afirmou que vai apurar o caso. A Defensoria Pública do Paraná (DPE-PR) avaliou a cena como sendo de “extrema gravidade”. Entenda: Desfile em que crianças negras são retratadas como escravizadas será investigado pelo MP Defensores públicos classificam como de 'extrema gravidade' ato que retratou crianças negras como escravizadas Estudantes negros de escola municipal foram retratados como escravos em desfile Divulgação Para Ione, que é integrante do Núcleo de Relações Étnico-raciais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a situação também é grave do ponto de vista legal. Ela destacou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que proíbe se colocar crianças em situações vexatória, constrangedoras e discriminatórias A professora destacou, também, que desde 2003 uma lei federal tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro brasileira, africana e indígena nas escolas, mas, na prática, a legislação não parece ser aplicada com o rigor necessário. “Aquilo não foi educativo para ninguém, não mostrou nada do que a gente possa sentir orgulho [...] E eu temo que daqui vinte, trinta anos, essas pessoas adultas, que vão ser essas crianças, ainda se lembrem do constrangimento que passaram naquele dia em nome da civilidade e de uma prática que a escola está alegando que é festiva e educativa”. MP apura desfile cívico em que crianças negras foram retratadas como escravos O desfile O desfile cívico foi realizado em Piraí do Sul como parte das comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil. Vídeos compartilhados nas redes sociais oficiais da Prefeitura de Piraí do Sul mostraram o trecho do desfile. Porém, mais tarde, o conteúdo foi removido e apenas outras partes do evento continuaram disponíveis. Ouça no PodParaná: Sociedade 13 de Maio: há 134 anos como resistência do movimento negro em Curitiba Racismo estrutural: 2020, o ano em que Curitiba elegeu a primeira vereadora negra Ferrovia entre Curitiba e litoral foi idealizada pelo primeiro engenheiro negro do Brasil O desfile foi na Avenida Bernardo Barbosa Milléo e contou com a participação de estudantes de escolas municipais e estaduais, autoridades, religiosos, associações, entre outros. Vídeos mais assistidos do g1 PR: Veja mais notícias da região em g1 Campos Gerais e Sul.
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