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'Pegou a aposentadoria e botou lá', diz filho de cliente que investiu R$ 300 mil em empresas do Sheik dos Bitcoins

Por Giuliano Saito


Francisley Valdevino da Silva, conhecido como 'Sheik dos Bitcoins', é suspeito de liderar uma quadrilha investigada por fraudes bilionárias envolvendo criptomoedas. Vítimas relatam sentimento de culpa. g1 aguarda resposta da defesa do suspeito. Sheik dos bitcoins movimentou cerca de R$ 4 bilhões só no Brasil Clientes das empresas de Francisley Valdevino da Silva, conhecido como "Sheik dos Bitcoins", relatam sentimento de culpa por terem indicado familiares e amigos para investirem dinheiro nos empreendimentos. "Essa é uma das culpas que eu carrego. A gente quer ver todo o mundo ao nosso redor se dando bem e eu acabei indicando o meu pai, minha mãe, amigos. Meu pai trabalhou a vida inteira, juntou uma grana, se aposentou ano passado, pegou a aposentadoria e botou lá", disse um cliente que preferiu não ser identificado. Segundo o homem, o pai investiu R$ 300 mil em empresas de Francisley. Ele relata que no início era possível fazer saques do dinheiro, mas depois de outubro a empresa passou a não devolver os valores investidos. Cliente de empresa dos Sheik dos Bitcoins afirma que indicou familiares para investir nas empresas. Reprodução/TV Globo Ele contou também que recentemente o pai descobriu um câncer no intestino, e o dinheiro faz falta para poder realizar um tratamento de qualidade. Francisley é suspeito de liderar uma quadrilha investigada por fraudes bilionárias envolvendo criptomoedas. Segundo a Polícia Federal (PF), ele é suspeito de cometer crimes, pelo menos, desde 2016. Conforme a PF, cerca de 15 mil pessoas possuem dinheiro investido nas empresas de Francisley. Entenda como funcionava a fraude e veja mais detalhes da investigação abaixo. Entre as possíveis vítimas do Sheik está Sasha Meneghel, que, segundo a PF, teve um prejuízo de cerca de R$ 1,2 milhão. O advogado de Francisley tem informado que ele está à disposição da investigação. O g1 entrou em contato com a defesa sobre o relato dos clientes que afirmam ter sido lesado e e aguarda resposta. 'Sheik dos Bitcoins': empresário alvo de operação ostentava vida de luxo, segundo a PF Reprodução Um outro cliente, que também pediu para não ser identificado, contou que pessoas que ele havia indicado para o investimento cortaram contato com ele após a suspeita de fraude. "Não falo com alguns membros da minha família, ficaram muito chateados por eu ter indicado eles. Teve gente que pediu empréstimo, minha avó vendeu o apartamento dela, colocou dentro da empresa e está com o dinheiro preso lá, R$ 400 mil do apartamento que ela vendeu. Isso é uma coisa muito triste, se sentir impotente agora por conta dessa situação", relatou. 'Parecia filme' Um dos clientes contou que chegou a visitar o prédio em Curitiba onde Francisley afirmava que as operações comerciais aconteciam. Segundo ele, a estrutura do local passou credibilidade. "É um pé direito altíssimo. A infraestrutura de última geração impressionante. Uma sala de trade incrivelmente grande, computadores de última tecnologia. Parecia filme do Tony Stark", contou. 'Sheik dos Bitcoins' ostentava vida de luxo com mansão, aviões e carros importados; veja vídeos Para outro cliente, o marketing da empresa também foi um dos fatores que o fez achar que estava realizando um investimento seguro. Ele conta que viu o logo da empresa em aeroportos e outdoors. "O cara tinha um marketing onde mostrava que a empresa era algo sólido, gigante e era isso que acabava também fazendo a prova social para que as pessoas tivessem certeza de que poderiam confiar na empresa", disse. Aos clientes, segundo a PF, as empresas diziam ter vasta experiência no mercado de tecnologia e criptoativos e possuir uma grande equipe que faria operações de investimento com as criptomoedas para gerar lucros. A investigação mostrou que nunca existiu atividade comercial pelo grupo, e que o dinheiro arrecadado era gasto por Francisley. Quem é o Sheik Segundo a polícia, Francisley se apresenta como Francis Silva e é natural de São Paulo, mas se estabeleceu em Curitiba. Na capital paranaense ele desenvolveu uma empresa do ramo da tecnologia. 'Sheik dos Bitcoins' foi alvo de operação da Polícia Federal Reprodução/TV Globo De acordo com a PF, o suspeito possui mais de cem empresas abertas no Brasil vinculadas a ele. A investigação indica que ele usava o dinheiro arrecadado nas fraudes para a compra de imóveis de alto valor, carros de luxo, embarcações, roupas de grife, joias, viagens, aviões e para fazer doações a igrejas. Veja lista do que PF apreendeu em ação contra quadrilha liderada por 'Sheik dos Bitcoins' Veja nomes das 85 empresas do 'Sheik dos Bitcoins' suspeitas de golpes bilionários Ainda conforme a PF, ele recebeu o apelido de "Sheik dos Bitcoins" pela imprensa. Em operação deflagrada pela Polícia Federal no início de outubro, em endereços ligados ao suspeito foram apreendidos barras de ouro, dinheiro em espécie, joias, carros e relógios de luxo. Francisley Valdevino da Silva, conhecido como 'Sheik dos Bitcoins' Reprodução/Jornal Hoje Como funcionava o golpe De acordo com a investigação, o grupo liderado por Francisley prometia o aluguel de criptomoedas com pagamento de remunerações mensais que poderiam alcançar até 20% do capital investido. Conforme a polícia, milhares de vítimas foram lesadas por confiarem nos serviços prometidos pelas empresas do suspeito. Operação da PF mira organização investigada por fraudes bilionárias envolvendo criptomoedas no Brasil e no exterior Divulgação/Polícia Federal 'Modus operandi' A PF disse que o suspeito fazia grandes doações para igrejas, fator que, segundo a PF, alavancou a atuação do golpe. "Ele se inseriu em um meio religioso e conseguiu que grandes representantes desse meio investissem e virassem sócios minoritários daquela plataforma. Dessa forma, ele arrecadava clientes desse meio religioso", explicou Filipe Hille Pace, delegado da Polícia Federal. Ainda conforme o delegado, o esquema começou a ruir no fim de 2021, quando Francisley não conseguiu mais pagar o que devia aos clientes. Francisley Valdevino da Silva é suspeito de fraude bilionária Reprodução/Jornal Hoje Investigações O delegado da PF disse que a investigação contra o suspeito começou em março deste ano, depois de um pedido de cooperação policial internacional feito pela Interpol. O pedido informava sobre uma investigação que identificou uma organização criminosa, liderada por Francisley, em Curitiba. A investigação apontou que a quadrilha aplicava golpes desde 2016 e que há registros de fraudes em pelo menos onze países. PF apreendeu mais de 550 itens em operação de busca e apreensão contra o "Sheik do Bitcoin". Polícia Federal A polícia destacou que na lista de vítimas também estão jogadores de futebol, que não tiveram os nomes revelados. Leia também: Sequestro do tio do Sheik do Bitcoin foi motivado por dívida com investidor, diz Polícia Civil A investigação apontou que alguns membros da família de Francisley também se envolveram nas fraudes. De acordo com a PF, os familiares eram funcionários das empresas, e se apropriavam dos valores investidos pelas vítimas. VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.