Pedagogos enfrentam sobrecarga e desvalorização nas escolas estaduais, aponta APP-Sindicato
Segundo a APP, o modelo de gestão educacional implementado no Paraná prioriza números e planilhas
Por Gabriel Porta

A APP-Sindicato tem recebido, nos últimos anos, um número crescente de relatos sobre as dificuldades enfrentadas por pedagogos que atuam nas escolas públicas da rede estadual do Paraná. Pressão crescente, burocratização do trabalho, aumento da carga horária, adoecimento físico e mental e desigualdade salarial estão entre os principais desafios apontados pelo segmento.
De acordo com o sindicato, o cenário se agravou após a eleição do atual governador Ratinho Júnior (PSD). Para a APP, medidas adotadas pelo governo estadual têm afetado diretamente a atuação pedagógica nas escolas, comprometendo o foco educacional e intensificando uma lógica gerencialista.
“A pressão nas escolas aumentou muito. Hoje, as pedagogas estão sobrecarregadas, com foco mais voltado para o acompanhamento de plataformas, como o Power BI, e para o cumprimento de metas, do que para o atendimento direto a professores(as), estudantes e famílias”, afirma a pedagoga e secretária executiva Educacional da APP-Sindicato, Margleyse Adriana dos Santos.
Aline Carissimi, coordenadora do Departamento de Pedagogos da APP-Sindicato, complementa que o papel fundamental dos(as) pedagogos(as) deveria ser a coordenação do processo de ensino-aprendizagem. “Nosso trabalho é orientar os docentes quanto às metodologias, avaliações, currículo e plano de aula, além de acompanhar a aprendizagem dos estudantes e intervir quando necessário. Mas essa função tem sido ofuscada pelo excesso de tarefas voltadas ao controle de plataformas e metas”, pontua.
Segundo a APP, o modelo de gestão educacional implementado no Paraná prioriza números e planilhas, deixando em segundo plano a dimensão humanizadora da educação. A intensificação da digitalização e a exigência de metas vêm, segundo o sindicato, transformando o ambiente escolar em um espaço de vigilância e esgotamento.
Essas constatações foram reforçadas pela Pesquisa Plataformização da Educação, encomendada pela APP-Sindicato e divulgada em agosto de 2023. O levantamento mostrou que 91,3% dos(as) educadores(as) se sentem sobrecarregados(as) com o aumento do uso de plataformas e tecnologias, enquanto 74,3% relatam impactos negativos na saúde física e mental. Além disso, 78,3% dizem conhecer colegas que adoeceram por conta da nova dinâmica imposta às escolas.
Jornada de trabalho e desigualdade salarial
Entre as reivindicações específicas de pedagogos, estão o retorno ao cálculo da jornada em hora-aula (de 50 minutos), a ampliação do porte das equipes pedagógicas conforme o número de estudantes e programas atendidos, além de formação continuada de qualidade.
A APP-Sindicato contesta a mudança feita na resolução de distribuição de aulas de 2019, quando a Secretaria da Educação, então comandada por Renato Feder, passou a calcular a jornada de trabalho em hora-relógio (60 minutos), contrariando o que o sindicato entende como prática legal. Essa alteração teria ampliado a carga horária de pedagogos(as), professores(as) e readaptados(as), reduzindo o tempo destinado ao planejamento pedagógico.
Outro ponto levantado pelo sindicato é a diferença salarial entre pedagogos e outros servidores públicos com formação superior. A APP aponta que, atualmente, enquanto uma professora com 40 horas semanais em início de carreira recebe R\$ 4.420,54, um agente profissional com a mesma carga horária tem salário inicial de R\$ 7.616 – uma diferença de 72,30%.
Organização e mobilização
Como resposta aos desafios enfrentados, a APP-Sindicato tem intensificado a organização dos pedagogos em seus núcleos regionais. Em 2017, durante o II Seminário Estadual de Pedagogos(as), foi criado o Departamento de Pedagogos dentro da estrutura sindical, com o objetivo de estruturar e fortalecer a luta da categoria.
“O Departamento de Pedagogas da APP-Sindicato é uma conquista histórica. Embora sejamos parte da carreira do magistério, temos pautas específicas relacionadas às nossas atribuições nas escolas. Nosso objetivo é garantir condições adequadas para um trabalho pedagógico de qualidade”, destaca Aline Carissimi.
Com a formação de Coletivos de Pedagogos(as) em diversos núcleos sindicais, a APP tem buscado mapear as diferentes realidades regionais e atuar de forma mais organizada e eficaz nas reivindicações locais e estaduais.
Reconhecimento
A atuação dos pedagogos na melhoria da qualidade da educação foi reconhecida oficialmente pela Lei 13.083, sancionada em 2015 pela então presidenta Dilma Rousseff, que instituiu o Dia Nacional do Pedagogo, celebrado em 20 de maio.
Para Margleyse Adriana dos Santos, a data é mais do que uma homenagem. “É uma oportunidade de reafirmar nosso compromisso com a valorização desses(as) profissionais e com uma política educacional que respeite o saber pedagógico. Valorização não pode ser só discurso. É preciso garantir salários justos e reconhecimento para que os(as) pedagogos(as) possam exercer sua função com dignidade”, finaliza.
Nós procuramos a Secretaria de Estado da Educação em busca de esclarecimentos sobre as indicações feitas pelo APP-Sindicato, mas até o fechamento desta reportagem não obtivemos retorno.