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Investidor supera Estado do Paraná e vira maior acionista individual da Copel

Um dos proprietários da Eternit (ETER3), em conjunto com pessoas vinculadas a ele, tornou-se o maior acionista individual da companhia com 17,9% ações

Por Da Redação

Investidor supera Estado do Paraná e vira maior acionista individual da Copel Créditos: Copel

A Copel vive uma nova realidade desde que passou por um processo de desestatização em 2023. Antes majoritariamente estatal, a companhia paranaense de energia agora opera como uma corporação com capital pulverizado e ações negociadas em bolsa. Mas o cenário que se desenhou nos últimos dias provocou reações contundentes, especialmente entre lideranças políticas da oposição no Paraná: Um dos proprietários da Eternit (ETER3), em conjunto com pessoas vinculadas a ele, tornou-se o maior acionista individual da companhia, superando inclusive o próprio governo estadual. os membros da família Coelho Diniz atingiram participação de 10% do total de ações ordinárias de emissão da empresa de varejo.

O empresário adquiriu 560.600 ações preferenciais classe A da Copel, o equivalente a 17,9% desse tipo de ação. Já o Estado do Paraná, que historicamente era o controlador da empresa, na última informação disponível detinha 358.563 ações preferenciais classe A, ou 15,9% desse total. Embora o governo mantenha uma ação especial (a chamada "golden share") com poder de veto em determinadas decisões estratégicas, como alterações na estrutura tarifária, o novo desenho societário mostra o avanço do capital privado sobre uma empresa que, até recentemente, era símbolo do controle estatal sobre setores estratégicos.

A operação que levou o empresário à dianteira acionária custou R$ 7 bilhões, mais que o dobro do valor obtido pelo governo estadual com a privatização da Copel em agosto de 2023, que arrecadou R$ 3,1 bilhões com a venda de parte de suas ações. A transação ocorre em um momento em que a Copel é alvo de criticas: A empresa anunciou uma nova política de dividendos que amplia os repasses de lucros aos acionistas de 50% para até 75%.

Essa mudança, conforme reconheceu publicamente o próprio presidente da Copel, Daniel Pimentel Slaviero, foi pensada para atrair o mercado e projetar um período de crescimento e rentabilidade nos próximos anos. Em apresentação a investidores, Slaviero disse que a empresa espera um ciclo "auspicioso" até 2027, impulsionado pela nova base tarifária, ganhos de eficiência e maior distribuição de dividendos.

A nova política tem gerado controvérsia. Críticos apontam que o aumento na remuneração dos acionistas vem acompanhado de demissões em massa, cerca de 1.400 trabalhadores deixaram a empresa desde a privatização, e de medidas que, na prática, podem pressionar o aumento das tarifas de energia para os consumidores. Isso porque a Copel pretende ajustar sua base de receitas com reajustes futuros, o que inevitavelmente recairá sobre os usuários residenciais, comerciais e industriais.

Para os defensores do modelo, a privatização tornou a Copel mais competitiva e atrativa no mercado. Com maior liberdade para tomar decisões estratégicas e financeiras, a empresa pode buscar eficiência, inovar e gerar mais valor aos seus acionistas, o que inclui o próprio Estado do Paraná, ainda sócio relevante. Já para os opositores, o controle efetivo da empresa foi entregue ao capital privado em troca de uma receita inferior ao valor de mercado, sem que houvesse garantias de manutenção de qualidade no serviço ou proteção ao consumidor.

Um dos principais críticos é o deputado estadual Arilson Chiorato (PT), líder da oposição na Assembleia Legislativa. Segundo ele, a venda da Copel foi "um erro estratégico" e agora a população começa a sentir as consequências práticas da perda de controle. “O Paraná tinha 31,1% das ações antes da venda. Hoje, tem menos ações que um único investidor. Isso escancara o fracasso da operação”, afirma o parlamentar.

Apesar de o governo manter prerrogativas importantes por meio do "golden share", como o limite de 10% no poder de voto de qualquer acionista individual e o veto a decisões como alterações tarifárias, especialistas lembram que esse tipo de ação tem efeitos limitados na condução operacional da empresa, que agora responde prioritariamente aos interesses de seus investidores.

Problemas recorrentes

Desde a privatização da Copel em 2023, diversas cidades do Paraná, incluindo Cascavel, têm enfrentado problemas significativos relacionados ao fornecimento de energia elétrica e ao aumento nas tarifas. Em Cascavel, moradores relataram aumentos expressivos nas contas de luz após a instalação dos chamados "medidores inteligentes". Casos como o de uma moradora do bairro Neva, cuja fatura subiu de R$ 70 para R$ 400, exemplificam a insatisfação da população.

Além dos aumentos nas tarifas, a zona rural de Cascavel tem sofrido com quedas frequentes de energia, afetando diretamente a produção agropecuária. Produtores relataram prejuízos significativos, como a perda de 150 toneladas de peixe devido à falta de energia.