Paraná tem a área de manguezais mais preservada da Grande Reserva Mata Atlântica, indica mapeamento
Por Giuliano Saito
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Em bom estado, os manguezais impedem a erosão e estabilizam a linha de costa, protegendo contra danos causados por tempestades e o aumento do nível do mar. Estudo compreendeu a área do norte de Santa Catarina, Paraná e sul de São Paulo. Pesquisadores estudam a saúde dos manguezais Um levantamento estudou a saúde dos manguezais na área conhecida como Grande Reserva Mata Atlântica, que contempla o nordeste de Santa Catarina, passando pelo Paraná, até o sul de São Paulo. O mapeamento concluiu que, dentre esses 3 estados, o Paraná apresenta a área mais preservada. Na comparação média entre cada região, o Paraná apresentou o ecossistema em melhor estado, com valor 0,56. Na sequência, aparece São Paulo, com 0,54, e Santa Catarina, com 0,46. As técnicas aplicadas avaliaram e caracterizaram a cobertura vegetal, conforme a luz solar refletida pela vegetação em 48.861,391 hectares de manguezal. Foram 41% no Complexo Estuarino de Paranaguá, 31% na região de Cananéia-Iguape, 16% na Baía de Babitonga e 12% na Baía de Guaratuba. O estudo mediu o vigor vegetativo e o "Índice Folha Verde", que demonstra o teor de clorofila. Os valores variam de -1 (para matéria morta) a 1 (vegetação em saúde ideal). Estudo compreendeu estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo Divulgação “Os resultados apontam que os manguezais da Baía de Guaratuba, do Complexo Estuarino de Paranaguá (PR) e da região de Cananéia-Iguape (SP) possuem valores médios de cerca de 0,52. A maior diferença foi apresentada na Baía de Babitonga (SC), que resultou num valor de aproximadamente 0,48, indicando ser a região de manguezal menos saudável da Grande Reserva Mata Atlântica”, avalia a geógrafa Laura Beatriz Krama. Um resultado surpreendente surgiu na área de Guaraqueçaba, no Paraná, ao separar os setores sul (mais impactado pela presença urbana e portuária) e norte (mais preservado). Os índices indicaram que manguezais do setor norte apresentaram valores inferiores ao setor sul, contrariando a hipótese inicial de que os manguezais da região norte apresentariam maior vigor vegetativo. Ainda serão feitas analises mais aprofundadas para identificar fatores como o fluxo e tipo de sedimento de cada setor, que podem ter influenciado nos resultados. Área de manguezal em Guaraqueçaba Divulgação A importância dos manguezais Os manguezais são como pântanos que ficam na região de transição entre o mar e a costa, espaços sensíveis que abrigam uma vegetação típica com muitas raízes aparentes e subterrâneas. Esses ambientes úmidos são fundamentais para proteger a costa brasileira frente a eventos climáticos cada vez mais extremos. A vegetação em bom estado impede a erosão e estabiliza a linha de costa, protegendo contra danos causados por tempestades e o aumento do nível do mar. Manguezais cumprem importante função de contenção de eventos climáticos Divulgação “Comunidades que estão atrás do manguezal se beneficiam dessa proteção. Proteger esses ecossistemas é proteger também as pessoas e as espécies”, afirma Sarah Sarubo, oceanógrafa e coordenadora de flora de manguezais da pesquisa. A pesquisadora reforça ainda que os manguezais armazenam mais carbono do que qualquer outro tipo de floresta, ou seja, absorvem em grande quantidade o gás responsável pelo aquecimento global e pelo agravamento das mudanças climáticas. Leia também Deltan Dallagnol é convocado por novo juiz da Lava Jato para depoimento sobre declarações de Tacla Duran Ex-delegado e ex-inspetor da Receita Estadual do Paraná acusados de receber propina para evitar fiscalização são absolvidos no TJ Homem é condenado a 19 anos de prisão por tentar atear fogo em esposa na frente do filho; criança de 9 anos ficou ferida ao tentar defender a mãe Técnica e inovação A parceria envolve cientistas do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (REBIMAR), iniciativa patrocinada pela Petrobras e pelo Governo Federal, e pesquisadores do Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais da Universidade Federal do Paraná (LAGEAMB/UFPR). Até então, os mapeamentos feitos usavam uma escala média. Este novo levantamento permitiu um olhar mais refinado dos manguezais, como explica Laura Beatriz Krama, responsável pelo processamento digital de imagens de satélite e pelo aerolevantamento com drones. “Utilizamos as imagens do satélite CBERS 4A, disponibilizadas gratuitamente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Trabalhando com elas, chegamos numa resolução espacial de 2m. Essas imagens são utilizadas tanto no mapeamento, quanto para obtermos valores referentes aos índices de vegetação dos manguezais”, explica Laura. Além disso, o drone utilizado no mapeamento possui uma câmera multiespectral acoplada, ou seja, além de alcançar detalhes visíveis aos olhos humanos, como as câmeras convencionais, também é capaz de realizar a leitura do espectro infravermelho próximo da vegetação. Mapeamento usou drones com câmeras de alta resolução Divulgação O próximo passo do projeto é avaliar o estoque de carbono presente no solo para um panorama mais completo da contribuição dos manguezais da Grande Reserva na mitigação das mudanças climáticas. Para Otacílio Paz, geógrafo do LAGEAMB, a ideia é dar ferramentas e gerar dados de baixo custo para a tomada de decisão em gestão territorial. “Identificar, por exemplo, áreas que precisam ser recuperadas, monitoradas ou de outra estratégia como educação ambiental para que a comunidade conheça e valorize esses locais. Ao produzirmos esses dados, podemos dar suporte para as melhores decisões por parte dos gestores”, diz ele. VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná * Com colaboração de Breno Antes, estagiário do g1 Paraná. Leia mais notícias do estado no g1 Paraná.
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