Operação desarticula rede de contrabando de agrotóxicos no Oeste do Paraná
As investigações indicam que a organização criminosa emitiu notas fiscais fraudulentas que somaram aproximadamente R$ 26 milhões nos últimos três anos
Por Gazeta do Paraná
Na manhã de terça-feira (26), uma ação coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com participação da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), realizou um dos maiores desdobramentos no combate ao contrabando de agrotóxicos no estado. A operação abrangeu as cidades de Cascavel e Terra Roxa, no oeste paranaense, e estendeu-se a outros estados, como Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão, incluindo a sede de uma empresa investigada e residências dos proprietários.
A operação revelou um esquema criminoso robusto, que nos últimos três anos movimentou aproximadamente R$ 26 milhões em notas fiscais fraudulentas, além de comercializar agrotóxicos oriundos de roubos, adulterações e falsificações. A investigação também apreendeu documentos, celulares, computadores e outros equipamentos eletrônicos, que serão analisados na sede do Gaeco em Cascavel.
O desmantelamento dessa rede expõe um problema recorrente no Paraná, um dos estados que mais consomem agrotóxicos no Brasil. Apenas em 2021, foram utilizadas 115.620 toneladas de agrotóxicos no estado, colocando o Paraná na segunda posição nacional no uso desses produtos. Essa massiva utilização reflete diretamente nos índices de contaminação ambiental e saúde pública.
Campeão de intoxicações
De acordo com dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), o Paraná lidera as notificações de intoxicação exógena por agrotóxicos no Brasil desde 2018, ultrapassando estados como São Paulo. Contudo, especialistas apontam que o número de notificações é apenas a ponta do iceberg. Estimativas da Organização Mundial da Saúde indicam que, para cada caso reportado, outros 50 não são notificados.
Entre 2018 e 2023, o Paraná registrou 5.157 casos de intoxicações relacionadas a diferentes tipos de agrotóxicos. Desses, 72% estavam associados a produtos de uso agrícola, 26% a produtos de uso doméstico e 2% a produtos voltados para a saúde pública. A exposição crônica a esses químicos é especialmente preocupante, associando-se a doenças graves, como câncer, Parkinson, Esclerose Lateral Amiotrófica e transtornos psiquiátricos.
Os trabalhadores rurais estão entre os mais expostos. Entre 2007 e 2022, o Paraná registrou 5.000 notificações de intoxicações ocupacionais por agrotóxicos, com 84% dos casos envolvendo homens e 70% ocorrendo em jovens entre 20 e 49 anos. A pulverização manual e aérea, bem como a diluição e o tratamento de sementes, foram as principais atividades relacionadas às intoxicações.
A exposição crônica aos agrotóxicos é um problema de saúde pública que ultrapassa os limites do campo. Estudos apontam a relação entre a exposição prolongada e o aumento de suicídios em áreas rurais. Além disso, a exposição prolongada também está associada à infertilidade, alterações genéticas e transtornos neurológicos, como perda de memória e fadiga.
Contaminação ambiental
O impacto ambiental também é alarmante. Uma análise de resíduos de agrotóxicos em amostras de água tratada e bruta realizada entre 2018 e 2019 revelou que 49,58% das 357 amostras analisadas apresentaram resíduos de pelo menos um ingrediente ativo. Entre os resíduos mais detectados estavam Atrazina, 2,4-D e Carbendazim, sendo que em 28% das amostras havia dois ou mais resíduos simultaneamente.
O perigo aumenta quando se considera que resíduos de agrotóxicos proibidos no Brasil, como Carbofurano e Metolacloro, foram detectados em diversas amostras. A legislação brasileira estabelece limites máximos permitidos (VMP), mas não prevê o somatório de resíduos na mesma amostra, expondo lacunas regulatórias que ampliam os riscos à saúde.
O papel da Adapar
A participação da Adapar na operação ilustra o papel crucial da Agência na fiscalização do uso de insumos agropecuários. Em ações conjuntas com o Ministério da Agricultura, a Receita Estadual e o Ministério Público, a Adapar inspeciona o armazenamento, transporte e comércio de agrotóxicos. Quando irregularidades são detectadas, os infratores estão sujeitos a multas e processos administrativos que podem culminar em ações criminais.
Créditos: Redação