RESULT

Mulheres deixam apartamento e passam a viver em kombi itinerante ensinando técnicas de bordado: 'Investimos na nossa liberdade'

Por Giuliano Saito


Hulda Vidal Costa, de 71 anos, e Ane Maria Xavier, de 42 anos, venderam ateliê durante a pandemia para comprar kombi. Banhos foram adaptados, e entendimento sobre o que é necessário para viver mudou. Hulda e Ane Maria começaram o projeto há 16 anos Giuliano Gomes/PR Press Duas mulheres de Curitiba decidiram deixar para trás o conforto do lar e embarcar em uma nova jornada: morar em uma kombi e viver oferecendo curso de bordados pelas cidades que passam. Hulda Vidal Costa, de 71 anos, e Ane Maria Xavier, de 42 anos, parceiras de projeto há 16 anos, são as "Bordadeiras Nômades" e disseram que aproveitaram a crise provocada pela pandemia de Covid-19 para reinventar a vida. "Investimos na nossa liberdade. Hoje a gente tem uma vida bem minimalista, tivemos que fazer um desapego muito grande", disse Hulda. Antes, as duas tinham um ateliê para confecção de enxoval de bebês. Segundo Hulda, as vendas eram on-line e elas trabalhavam das 5h às 21h para atender a demanda. Com a pandemia, as vendas caíram e elas precisaram se adaptar. "Nós já tínhamos na cabeça um plano de ensinar bordados, porque em 2016 eu criei um grupo de bordado no Facebook e a gente sentiu a necessidade das pessoas que queriam aprender e não tinham como", disse Hulda. Para iniciar o negócio itinerante, elas venderam todo o material que utilizavam no ateliê e comparam uma kombi 1987. A ideia de adquirir um veículo maior foi para não depender de hospedagens. Nesse novo lar também tem outras duas moradoras, as gatas Xay e Maevi. Hulda cuida dos bordados, enquanto Ane faz estampas à mão Giuliano Gomes/PR Press Hulda contou que elas ficaram cerca de seis meses morando no veículo próximo ao antigo apartamento para que as gatas pudessem se adaptar. Renda vem de produtos bordados por elas Para se manterem, Ane e Hulda ensinam a técnica de bordado livre e pontos de tapeçaria através de um canal na internet, mas também atendem pessoalmente. O público da dupla é variado - há pessoas de todas as idades e níveis de habilidade. Além disso, elas também dividem o conhecimento em cursos para Organizações Não Governamentais (Ongs). Ane e Hulda não cobram para ensinar. Elas vendem os produtos como panos de prato, bolsas, toalhas e peças de tapeçaria. Inclusive, ajudam quem não tem condições de comprar o material para começar a aprender a bordar. Dupla já completou dois anos nas estradas Giuliano Gomes/PR Press Também recebem doações em dinheiro ou material de trabalho de pessoas que gostam do projeto. "Esse fogão foi presente de uma seguidora lá de São Paulo. Ele é muito bom", disse. A kombi igualmente precisou de uns ajustes para receber o projeto de vida de Ane e Hulda. Foi necessário colocar um bagageiro em cima do automóvel para carregar lã, fios, pedrarias e outros materiais de trabalho e, além de roupas. Divisão de tarefas no trabalho As bordadeiras dividem as tarefas e são organizadas. A Hulda é a única que possui carteira de habilitação para dirigir, então é a motorista da kombi. Enquanto isso, Ane é "faz tudo", segundo ela. Faz os consertos necessários do veículo. "Dentro da casinha de lata a gente não precisa de tanta coisa como dentro e uma casa, as despesas são bem menores", contou. No trabalho manual, Hulda faz e ensina os bordados, enquanto Ane faz estampas à mão. Desafios de viver na estrada Apesar dos desafios de viver em um espaço reduzido e enfrentar incertezas constantes, a dupla acredita que a liberdade e a conexão com as pessoas compensam todas as dificuldades, mas ainda assim, precisaram se adaptar. Tomar banho, por exemplo, ficou diferente, pois como o local não é adaptado, elas tomam banho de balde e muitas vezes também procuram lugares como postos de combustíveis ou hotéis que fornecem espaço para banho. Desapegar dos bens materiais também foi um dos maiores desafios para a dupla. "Dentro de uma casa você tem muitas coisas, mas pra colocar tudo aqui dentro, era complicado", falou. A ideia de comprar um veículo foi para não depender de hospedagens Giuliano Gomes/PR Press Hulda afirma que passaram por poucos problemas em relação à segurança, mas que uma vez foram acordadas com barulhos de alguém tentando arrombar a kombi. "O cara arrombou a parte da traseira onde fica o motor, acredito que pra pegar a bateria. Quando ele enfiou um pé de cabra e estourou, eu acordei e bati no vidro. Ele se assustou e caiu e depois saiu correndo", falou. Contudo, elas contam que se sentem sortudas, pois em dois anos de estrada, foram bem tratadas pelas pessoas que conheceram. À medida que as bordadeiras nômades viajam pelas estradas, as habilidades, criatividade e coragem as acompanham. "A gente não pensa em mudar, só tenho pena que começamos tarde, podíamos ter começado mais cedo", concluiu Hulda. Vídeos mais assistidos do g1 PR: Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.