Moraes decide não prender Bolsonaro por descumprimento de cautelar e libera entrevistas do ex-presidente

Moraes afirmou que a violação foi “isolada”, sem notícias de outros descumprimentos. Ele também disse ter levado em consideração as explicações da defesa de Bolsonaro

Por Da Redação

Moraes decide não prender Bolsonaro por descumprimento de cautelar e libera entrevistas do ex-presidente Créditos: © Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta quinta-feira (24) não decretar a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo reconhecendo que ele violou a medida cautelar que proíbe o uso de redes sociais. Segundo Moraes, houve descumprimento, mas de forma “isolada” e sem reincidência, o que, por ora, não justificaria a prisão.

A violação apontada ocorreu após uma visita de Bolsonaro à Câmara dos Deputados, na qual ele mostrou a tornozeleira eletrônica à imprensa. Pouco depois, o filho dele, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), publicou o vídeo da declaração do pai em sua conta no Facebook.

De acordo com Moraes, “não há dúvidas de que houve descumprimento da medida cautelar imposta”, pois a rede social de Eduardo foi utilizada de forma coordenada para dar publicidade ao discurso de Bolsonaro, o que configuraria tentativa de burlar as restrições. “Constata-se a tentativa de burlar a medida cautelar”, escreveu o ministro.

Ainda assim, o relator ponderou que a ocorrência foi isolada e considerou as alegações da defesa do ex-presidente. Os advogados afirmaram que Bolsonaro “vem observando rigorosamente as regras de recolhimento impostas” e que não houve intenção de violar as cautelares. Moraes acolheu parcialmente os argumentos, mas fez um alerta: “Se houver novo descumprimento, a conversão será imediata” das medidas em prisão preventiva.

Alcance das cautelares e entrevistas

A defesa de Bolsonaro também buscou esclarecimentos do STF sobre o alcance das medidas cautelares. Moraes foi enfático ao afirmar que o ex-presidente não está proibido de dar entrevistas ou se manifestar em público, desde que respeite os horários e não use essas ocasiões para contornar as restrições.

O ministro afirmou que entrevistas e discursos não devem servir como meios “pré-fabricados” para posterior divulgação nas redes sociais por aliados, milícias digitais ou apoiadores, com o objetivo de manter práticas consideradas ilícitas.

“Justiça é cega, mas não é tola!!!!!”, escreveu Moraes, em crítica direta ao que vê como tentativa coordenada de driblar as ordens judiciais. Segundo o magistrado, se o conteúdo de entrevistas ou discursos retomar as mesmas teses já investigadas no inquérito – como coação, obstrução da Justiça e ataques à soberania nacional –, será caracterizada nova violação.

Soberania em jogo

A decisão de Moraes também fez referência a possíveis consequências internacionais dos atos do ex-presidente. O ministro citou recentes sanções anunciadas pelos Estados Unidos contra ministros do Supremo, incluindo ele próprio, e associou as medidas a campanhas de desinformação e pressão articuladas por aliados de Bolsonaro.

O ministro lembrou que Bolsonaro, em juízo, admitiu ter usado parte dos R$ 2 milhões arrecadados por apoiadores para financiar a permanência de Eduardo nos Estados Unidos, em campanha contra o STF. Segundo Moraes, essas ações buscam induzir chefes de Estado estrangeiros a interferirem em processos internos, ferindo diretamente a soberania nacional.

A pressão internacional ficou evidenciada quando o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou, também pelas redes sociais, um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, com vigência prevista para 1º de agosto. Em carta enviada a Lula, Trump condicionou a retirada das sanções a uma “anistia” de Bolsonaro.

Inquérito e decisão colegiada

Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro são investigados por tentativa de coação ao STF e obstrução de Justiça. As medidas cautelares impostas ao ex-presidente, como uso de tornozeleira eletrônica e proibição do uso de redes sociais, foram adotadas em decisão individual de Moraes no dia 18 de julho.

A decisão foi confirmada pela Primeira Turma do STF na segunda-feira (21), por quatro votos a um. Acompanharam Moraes os ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. O único voto divergente foi do ministro Luiz Fux, que considerou não haver risco de fuga por parte de Bolsonaro.

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