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Marido de empresária que deixou carta de despedida diz que câncer tornou esposa mais forte: 'Transformou ela em algo muito maior'

Por Giuliano Saito


Carta póstuma de Juliana Carvalho Lopes confortou a própria família após falecimento da empresária. Na despedida, ela diz ser importante desmistificar o câncer. Segundo Márcio Antunes, atitude da esposa foi uma surpresa. Juliana Carvalho Lopes e Márcio Antunes estavam juntos há 32 anos Arquivo da família/Reprodução O marido da empresária Juliana Carvalho Lopes, que deixou uma carta de despedida quando percebeu que estava muito debilitada para o câncer, disse que a doença deixou a esposa mais forte, potencializando todas as características boas que ela tinha. Leia a íntegra da carta abaixo. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram A despedida inesperada de Juliana, lida pela família no funeral dela, é o que têm ajudado a reconfortar o viúvo Márcio Antunes, os dois filhos do casal, familiares e amigos. A empresária tinha 45 anos, era de Londrina, no norte do Paraná, e faleceu em 4 de março. "Eu sempre soube que ela era uma mulher forte, de uma personalidade forte, batalhadora. Sempre foi uma mulher fantástica. Mas eu acho que enfrentar o câncer transformou ela em algo muito maior. Tudo que ela tinha de potencialidades foi amplificado. Me parece que ela se tornou muito mais forte do que ela era. A carta é uma coisa que eu não esperava. Foi de uma grandeza...". Juliana tratou, por cerca de quatro anos, um câncer de intestino. Depois de passar por oito procedimentos cirúrgicos para combater a doença, a empresária estava em um quadro irreversível, realizando cuidados paliativos para tentar diminuir o avanço do câncer e amenizar a dor. Segundo o marido, mesmo com a progressão da doença, Juliana não esmoreceu e só chorou uma vez. “Ela só chorou uma vez, no dia que recebeu o diagnóstico. No dia seguinte, ela falou pra mim: ‘não choro mais. Se eu tenho pouco para viver, eu não vou ficar morrendo todo dia. Eu vou me ocupar de viver’". Um dos objetivos da empresária, abordado na carta, foi desmistificar o câncer, mostrando que é possível ser feliz apesar da doença. "E como eu sempre repetia - com todo respeito a dor e a maneira que cada um tem de lidar com seus perrengues - é possível, sim, ser feliz com câncer. Eu fui", diz trecho da carta. Leia também: Música: Red Hot Chili Peppers anuncia show em Curitiba para 13 de novembro; veja valores Tragédia: Duas meninas morrem em acidente entre trem e ônibus escolar da Apae Bloqueio na BR-277: o que você precisa saber antes de pegar a estrada para o litoral do Paraná Márcio conta que a carta despertou nele um sentimento ambíguo, em que ao mesmo tempo que todos sentia a partida de Juliana, se reconfortava com as palavras dela. “Ao mesmo tempo que a gente estava triste, a gente se sentiu reconfortado. Ao menos amenizou o sofrimento de saber que ela foi tranquila, foi em paz, e que ainda, naquela situação que ela estava vivendo, ela se preocupou em nos apoiar. Tem sido muito emocionante porque a gente vem vivenciando a leitura dessa carta no dia a dia”. Juliana Carvalho tinha 45 anos Arquivo da família/Reprodução Dos 45 anos vividos por Juliana, 32 foram ao lado de Márcio. Os dois se conheceram quando eram adolescentes, aos 14 e 16 anos, respectivamente. Márcio contou que a carta foi uma surpresa para ele e para a família, mas que o objetivo do material fez jus ao estilo atencioso de Juliana. “Ela sempre encarou a doença com bastante tranquilidade. E nunca se lamentou da condição dela. O texto, além de tudo, é bastante verdadeiro [...] É muita saudade que a gente vai sentir sempre, mas é tanta coisa boa que ela deixou que no dia a dia tem nos ajudado". A carta Márcio conta que a carta deixada pela esposa foi enviada por e-mail para as irmãs dela, dias antes da Juliana falecer. O marido lembra que, no assunto do e-mail enviado por Juliana, estava escrito "não abra" - autorizando a leitura somente após a morte dela. Depois do falecimento, ao abrirem o conteúdo, descobriram a despedida. "A gente já vinha, na família, conversando sobre a possibilidade de morte. Então óbvio que nós respeitamos a vontade dela e não abrimos o e-mail. Só após o falecimento. E estava lá a carta de despedida dela. Pegou a própria família de surpresa. Ela sempre foi uma pessoa que escreveu muito bem. Ela era praticamente uma cronista do cotidiano dela. Se expressava através da escrita". ‘Minha despedida’ Leia, abaixo, a carta de Juliana na íntegra: "A minha hora chegou. E tá tudo bem, gente. Tive a oportunidade e o privilégio de me preparar pra ela. Me redescobrir e receber o melhor das pessoas. Essa é uma despedida honesta e, absolutamente, grata. A despedida de uma vida linda, cheia de sentido, de amor e das pessoas mais especiais que eu poderia ter tido o privilégio de conviver. Minha família, minhas amigas e amigos e tanta gente, que apesar da pouca intimidade, se fez tão presente, com gestos, palavras, orações, força. Durante o tratamento, passei por muitas fases aqui dentro de mim. E, felizmente, encontrei as minhas próprias ferramentas psíquicas para lidar com o câncer e com as pessoas da minha vida. E fui sustentada pela força, o afeto, a parceria e o amor de vocês, cada um à sua maneira. E passei a tentar compreender os sentimentos e emoções das pessoas que me cercam, me atrevendo a entender e experimentar, da forma objetiva, racional, mas também, empática, o que sente o outro. Pra mim, funcionou, espero que pra vocês também. Uma certeza, morri cheia de gratidão no coração e cercada das melhores pessoas. Aliás, se eu puder deixar um pedido, desmistifiquem o câncer ou outra doença grave. Desmistifiquem a morte, afinal, ela é o maior clichê da nossa vida. Meu objetivo, desde o meu diagnóstico foi desmistificar a doença, o processo e o fim da vida. Acho que funcionou, vocês entenderam e eu vivi os últimos anos com dignidade e alegria apesar do câncer. E como eu sempre repetia - com todo respeito a dor e a maneira que cada um tem de lidar com seus perrengues - é possível, sim, ser feliz com câncer. Eu fui. Um recadinho para quem me acompanhou no trecho: Sei humildemente que sentirão saudades da minha presença, das minhas patifarias, da nossa convivência, eu já estou... Mas, espero que se apeguem as nossas pequenas lembranças, nossos momentos de alegria e risadas, nossas trocas. Construam nossas memórias. Espero ter deixado material pra isso. Para carregarem um pouquinho de mim em cada um de vocês (só a parte boa!), mas com alegria, sem drama. Vocês sabem que drama nunca foi meu forte. Li, certa vez, que "o luto é o preço do amor”. Eu, só posso agradecer o tanto de amor que vocês me dedicaram. E desejar que vocês, meus amados e amadas, vivam esse luto, do jeito mais leve e alegre que vocês puderem, assim como eu levei a vida. Sabe qual é a maior homenagem que vocês podem fazer a mim? É honrar as suas próprias vidas, com honestidade nas relações, alegria, integridade, empatia, amor e muita diversão, claro! Aliás, depois da minha despedida, se juntem e vão tomar um chopp, ouvindo um samba e falando bem de mim. O da minha mãe é escuro. Eu deixo chorarem a minha partida, faz parte. Mas, acima de tudo, celebrem a minha vida. Estou em paz. Fiquem também." BR-277: Trecho no sentido litoral está ‘geologicamente comprometido’, avalia DNIT PRAZO: Cinco vencedores do Nota Paraná têm prêmios de R$ 10 mil prestes a expirar Vídeos mais assistidos do g1 PR: Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.