GCAST

Lula estuda nova reforma ministerial de olho em apoios para 2026

Mudança que aconteceria apenas envolvendo os ministérios do PT, deve também alcançar ministérios que hoje são ocupados pelo “Centrão”

Por Da Redação

Lula estuda nova reforma ministerial de olho em apoios para 2026 Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A demissão do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geral da República (PGR), acelerou os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para uma reforma ministerial. A troca, que inicialmente estava prevista para o segundo semestre, visando as articulações eleitorais de 2026, deve começar já nas próximas semanas com mudanças pontuais em pastas comandadas por petistas.

Além de lidar com os desdobramentos da saída de Juscelino, Lula pretende fazer substituições em ao menos três ministérios: Desenvolvimento Agrário, Mulheres e Secretaria-Geral da Presidência. Embora a intenção inicial fosse manter intocados os espaços do Centrão, o novo cenário pode abrir espaço para uma redistribuição de poder entre as siglas da base aliada.

Apesar da denúncia contra Juscelino, o Palácio do Planalto decidiu que o Ministério das Comunicações continuará sob o comando do União Brasil. A ideia, costurada em almoço com lideranças do partido e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, é manter o equilíbrio da aliança sem abrir espaço para novas disputas entre as legendas do centro.

O deputado Pedro Lucas (União Brasil-MA) foi indicado pela sigla e teve seu nome aprovado por Lula. A confirmação oficial, no entanto, ainda não veio. O parlamentar quer discutir a proposta com a bancada antes de tomar uma decisão definitiva, o que deve ocorrer após o feriado da Páscoa. A indefinição pode reacender o apetite de outros partidos por mais espaço no governo.

Trocas no PT

Enquanto mantém o equilíbrio com os aliados, Lula pretende trocar nomes de ministérios sob controle direto do PT. A mudança mais avançada deve ocorrer no Desenvolvimento Agrário. O atual ministro Paulo Teixeira enfrenta críticas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que cobra maior protagonismo na condução da reforma agrária. Para seu lugar, é cotado Edegar Pretto, atual presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que tem o apoio de movimentos sociais.

Na Secretaria-Geral da Presidência, Lula avalia substituir Márcio Macêdo por Guilherme Boulos (PSOL-SP). O deputado federal tem bom trânsito com movimentos sociais e é próximo do presidente. A possível nomeação, contudo, esbarra na repercussão do ato contra a anistia dos condenados do 8 de Janeiro, organizado por Boulos em março. A manifestação, que reuniu cerca de 5.500 pessoas na avenida Paulista, ficou bem abaixo do esperado e gerou questionamentos sobre sua capacidade de mobilização.

Outra troca prevista é no Ministério das Mulheres. A atual ministra, Cida Gonçalves, foi acusada em 2024 de assédio moral contra a então secretária Carmen Foro. Embora as denúncias tenham sido arquivadas pela Comissão de Ética Pública, o desgaste interno e as reclamações sobre o ambiente de trabalho colocaram sua permanência sob questionamento. Ainda não há nome definido para substituí-la, mas a pasta deve continuar sob o comando de uma petista.

Disputa por espaço

Com a cadeira de Juscelino vaga e as movimentações internas em curso, partidos como PSD e União Brasil voltaram a pressionar por mais espaço no Executivo. O PSD, que comanda atualmente três ministérios, Agricultura (Carlos Fávaro), Minas e Energia (Alexandre Silveira) e Pesca (André de Paula), é o que mais vocaliza insatisfação. O partido almeja o Ministério do Turismo, hoje ocupado por Celso Sabino, também do União Brasil.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, no entanto, tem resistido a um alinhamento mais próximo com o Palácio do Planalto. A avaliação de Lula é de que qualquer concessão a Kassab precisa vir acompanhada de garantias de apoio eleitoral em 2026, algo ainda incerto. Por isso, as mudanças mais amplas na estrutura ministerial devem ficar para um segundo momento, conforme o cenário político evolua.

A antecipação da reforma ministerial responde não apenas à crise causada pela saída de Juscelino Filho, mas também à necessidade de reorganizar a base aliada de olho em 2026. A meta de Lula é clara: garantir que os partidos que ocupam cargos no governo também estejam comprometidos com sua possível tentativa de reeleição.

Neste momento, o presidente parece optar por uma reforma discreta, com foco em ajustes internos e fortalecimento de laços com os movimentos sociais e setores tradicionais do PT. No entanto, a pressão de partidos do centro e a indefinição em torno do futuro do Ministério das Comunicações mostram que a disputa por espaço está longe de terminar.

A reforma ministerial, ainda que parcial, deve ser o primeiro passo de uma série de movimentos estratégicos para garantir governabilidade e apoio político até o fim do mandato. Lula, mais uma vez, aposta na habilidade de conciliar interesses diversos para manter o controle do tabuleiro político.