GCAST

Wolney já se reuniu com entidades investigadas por fraudes na Previdência

Wolney Queiroz participou de reunião com a Contag, entidade que lidera número de encontros com o governo entre organizações sob investigação da CGU

Por Gabriel Porta Martins

Wolney já se reuniu com entidades investigadas por fraudes na Previdência Créditos: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados

Antes mesmo de ser nomeado ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz Maciel (PDT) já mantinha interlocução com entidades investigadas por desviar recursos de aposentadorias. Em 11 de julho de 2023, quando ainda exercia a função de secretário-executivo da pasta, ele participou de uma reunião com representantes da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), organização que, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), foi responsável por reter o maior valor indevidamente de beneficiários do INSS. A entidade lidera o número de encontros com o governo Lula entre todas as sob investigação. Foram ao menos 13 participações em 15 reuniões realizadas com esses grupos, conforme levantamento do Poder360.

O envolvimento de Wolney com a Contag e outras entidades ocorre no contexto de uma crise na Previdência, agravada por suspeitas de fraudes bilionárias. Desde o início do atual governo, representantes dos ministérios da Previdência, do Desenvolvimento Social e do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) estiveram presentes em pelo menos 15 encontros com organizações investigadas. Os ministros Carlos Lupi (Previdência), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto participaram de oito dessas agendas.

Posse de Wolney

Na noite de sexta-feira (2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu posse a Wolney Queiroz Maciel como novo titular do Ministério da Previdência Social. Filiado ao PDT, o ex-deputado federal assume o cargo após o pedido de demissão de Carlos Lupi, que deixou a pasta em meio a investigações da Polícia Federal envolvendo descontos irregulares em benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Logo após a cerimônia, Wolney publicou uma mensagem nas redes sociais celebrando sua nomeação. “Uma honra ser empossado pelo presidente Lula como novo Ministro da Previdência Social do Brasil. Que Deus nos abençoe nessa missão”, escreveu o novo ministro em seu perfil no Instagram. A saída de Lupi ocorreu na tarde da própria sexta-feira (02), nove dias após a deflagração da operação "Sem Desconto", conduzida pela Polícia Federal. A investigação revelou um esquema fraudulento que teria causado um prejuízo estimado em R$ 6,5 bilhões entre 2019 e 2024. O esquema envolvia descontos não autorizados de mensalidades associativas nos contracheques de aposentados e pensionistas do INSS.

A operação foi deflagrada em 23 de abril, com a execução de 211 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão temporária em 13 estados e no Distrito Federal. De acordo com a PF, o esquema se concentrava em descontos aplicados indevidamente sobre os benefícios previdenciários, principalmente aposentadorias e pensões.

Segundo o governo federal, a Controladoria-Geral da União (CGU) iniciou, em 2023, um conjunto de apurações sobre o aumento no número de entidades conveniadas ao INSS e os valores descontados diretamente dos beneficiários. Como parte da investigação, foram feitas auditorias em 29 entidades com Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS e foram realizadas entrevistas com 1.300 aposentados que relataram descontos em suas folhas de pagamento.

O levantamento apontou que muitas das entidades investigadas não dispunham de estrutura suficiente para prestar os serviços que alegavam oferecer aos beneficiários. A maioria dos aposentados entrevistados afirmou que jamais autorizou os descontos. A CGU ainda constatou que 70% das entidades analisadas não haviam sequer apresentado documentação completa exigida pelo INSS.

Como consequência da operação, seis pessoas foram afastadas de suas funções, incluindo o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.

Trajetória de Wolney Queiroz

Wolney Queiroz, que até então exercia o cargo de secretário-executivo do próprio Ministério da Previdência, é um político com longa trajetória no PDT, partido ao qual está filiado desde 1992 e onde atualmente ocupa a presidência estadual em Pernambuco. Iniciou sua carreira política como vereador em Caruaru (PE) no ano seguinte à filiação, e aos 21 anos foi eleito deputado federal, cargo que ocupou por seis mandatos consecutivos, a partir de 1995.

Durante sua atuação parlamentar, destacou-se em áreas como educação, trabalho e administração pública, chegando a presidir comissões importantes na Câmara dos Deputados, como as de Educação e Cultura e de Trabalho e Administração Pública. Em seu último ano de mandato, foi líder da Oposição ao governo Jair Bolsonaro (PL) e, em 2022, utilizou suas redes sociais para apoiar a greve dos servidores do INSS, acusando o governo de negligenciar serviços essenciais. Em uma das postagens, escreveu: “Bolsonaro detonou os cofres públicos para comprar a reeleição, foi derrotado, e agora a máquina pública está em colapso. Nesta 4ª feira \[7.dez.2022], o INSS afirmou que vai paralisar suas atividades por falta de recursos. A pergunta que fica é: onde está o dinheiro do instituto, Bolsonaro?”.

Wolney não conseguiu se reeleger nas eleições de 2022, mas logo depois integrou a equipe de transição entre os governos Bolsonaro e Lula, indicado por Carlos Lupi, seu aliado político de longa data. Os dois participaram juntos de diversos eventos ao longo dos anos, incluindo um ato público promovido pela governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), realizado no Recife em fevereiro deste ano.

Segundo a biografia oficial publicada pelo Ministério da Previdência, Wolney também teve atuação destacada em defesa dos direitos do consumidor, no combate ao trabalho escravo e na resistência à retirada de direitos trabalhistas. Representou o Brasil em conferências da Organização Internacional do Trabalho (OIT), reforçando seu histórico de atuação em pautas sociais e trabalhistas.