Júri condena Guaranho a 20 anos por crime político na morte de Marcelo Arruda
Marcelo Arruda foi assassinado durante uma festa de aniversário de 50 anos, que tinha como tema o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Por Bruno Rodrigo
O ex-policial penal Jorge Guaranho foi condenado nesta quinta-feira (13) a 20 anos de prisão pelo assassinato de Marcelo Arruda, tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) em Foz do Iguaçu. O crime, ocorrido em 9 de julho de 2022, foi classificado pelo júri como homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e perigo comum, com a agravante de ser considerado um crime político. A pena será cumprida inicialmente em regime fechado, e a defesa já anunciou que irá recorrer da decisão.
O julgamento, realizado no Tribunal do Júri de Curitiba, durou dois dias e meio e contou com a participação de nove testemunhas, além do depoimento do próprio réu. A juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler, responsável pela condução do caso, destacou que Guaranho utilizou uma arma da União para cometer o crime e ressaltou a intolerância política demonstrada pelo ex-policial. A magistrada também mencionou a lei estadual que instituiu o dia 9 de julho como o Dia Estadual de Luta contra a Intolerância Política e de Promoção da Tolerância Democrática, reforçando a importância do caso como um marco na conscientização sobre o tema.
Marcelo Arruda foi assassinado durante uma festa de aniversário de 50 anos, que tinha como tema o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT. Segundo as investigações, Guaranho invadiu o local da comemoração e iniciou uma discussão com Arruda. Cerca de 10 minutos depois, o ex-policial retornou ao local armado e efetuou disparos contra a vítima, que revidou utilizando sua própria arma, já que era guarda municipal. Arruda foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na madrugada do dia 10 de julho de 2022.
A viúva de Arruda, Pâmela Suellen Silva, emocionou o júri ao relatar as dificuldades enfrentadas após a morte do marido, especialmente na criação do filho mais novo, que tinha apenas 40 dias de vida na época do crime. Outras testemunhas, como Daniele Lima dos Santos, vigilante que estava no local, e Wolfgang Vaz Neitzel, amigo de Arruda que presenciou a discussão, também deram depoimentos sobre o ocorrido.
A defesa de Guaranho argumentou que ele agiu em legítima defesa e negou qualquer motivação política para o crime. O ex-policial afirmou durante o júri que não foi à festa "nem para brigar, nem para matar". No entanto, o júri não acatou a tese da legítima defesa, considerando que as provas apresentadas apontavam para um crime premeditado e com motivação política.
A defesa já anunciou que irá recorrer da decisão, buscando reverter a condenação ou reduzir a pena. O advogado de Guaranho argumentará que o júri foi influenciado pelo clima político do caso e que não houve provas suficientes para caracterizar o crime como político.
Após a leitura da sentença, a juíza determinou a prisão imediata de Guaranho, que cumpria prisão domiciliar desde setembro do ano passado. O Departamento de Polícia Penal do Paraná será responsável por definir para qual presídio ele será encaminhado. O ex-policial já havia passado por internação hospitalar após ser agredido por convidados da festa no dia do crime e, posteriormente, foi preso no Complexo Médico-Penal de Pinhais, onde permaneceu até setembro de 2024.
O desenrolar do júri
No início do julgamento, as testemunhas de acusação foram ouvidas, detalhando os fatos ocorridos em 9 de julho de 2022, quando Marcelo Arruda foi assassinado durante sua festa de 50 anos, que celebrava o Partido dos Trabalhadores e o ex-presidente Lula. Os depoimentos descreveram como o crime aconteceu e destacaram o clima de tensão política que teria levado ao desfecho trágico.
A defesa de Jorge Guaranho, que conseguiu transferir o julgamento de Foz do Iguaçu para Curitiba sob a alegação de falta de imparcialidade, focou em contestar as motivações atribuídas ao réu e nas circunstâncias que resultaram no confronto. A estratégia foi desconstruir as qualificadoras de motivo fútil e perigo comum, tentando reduzir a gravidade do crime.
Na manhã do último dia do júri, Guaranho, acompanhado de seus advogados, falou pela primeira vez com a imprensa. Questionado sobre suas expectativas, ele declarou: “Eu peço a Deus que tenha tocado os jurados”. O acusado insistiu que o crime foi uma “fatalidade” e negou qualquer intenção política, defendendo que o confronto foi imprevisto e não planejado.
Guaranho também rebateu as acusações de que teria chegado ao local atirando. “Eu nunca cheguei atirando como foi divulgado ali, isso ficou muito claro. Ele apontou a arma para mim antes, andou para cima de mim. Era eu ou ele ali naquele momento”, afirmou.
Durante o julgamento, o Ministério Público apresentou uma foto de Marcelo Arruda com o ex-presidente Jair Bolsonaro, argumentando que a vítima era uma pessoa aberta ao diálogo político.
Ao final, o júri foi unânime ao concluir que o crime foi motivado por intolerância política e que Guaranho agiu de forma premeditada. A condenação foi de 20 anos de prisão, e o caso se tornou um marco na discussão sobre os perigos da polarização política e da violência decorrente de divergências ideológicas.