Ponto 14

Jovem descobre 100% de compatibilidade e viaja mil km para doar medula óssea: 'Foi algo muito especial que fiz'

Por Giuliano Saito


Dez anos após fazer o cadastro nacional, Lethícia Conegero, de 30 anos, recebeu uma ligação informando que ela poderia salvar uma vida. Paraná tem 567.941 doadores cadastrados. Jovem de Maringá viaja mais de mil quilômetros para doar medula óssea A expectativa se tornou realidade para Lethícia Conegero, de 30 anos, que se disponibilizou para ser doadora de medula óssea. Ela é 100% compatível com uma paciente e viajou mais de mil quilômetros para fazer a doação e ser, assim, mais um elemento na batalha pela vida e uma pessoa. Mesmo sem conhecer a pessoa que recebeu a doação, Lethícia garante que o gesto - um processo de quase uma semana - valeu a pena e fica feliz em ter ajudado a salvar uma vida. Assista ao depoimento completo acima. "É emocionante porque é literalmente poder salvar a vida de alguém. A ficha ainda não caiu porque é algo grande... É tão gratificante. Foi algo muito especial que fiz em toda vida", relatou emocionada. No Paraná, entre julho a dezembro de 2022, foram realizados seis transplantes de medula óssea bem-sucedidos, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). São 567.941 doadores cadastrados no Hemocentro em todo estado. Por se tratar de uma doação anônima, nenhuma informação referente ao paciente foi divulgada. O destino e o local onde ocorreu o procedimento também precisam ser preservados. A servidora pública está cadastrada há 10 anos no programa Redome, o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea, e é a primeira vez em uma década que realiza a doação. Conheça o programa mais abaixo. Lethícia fazendo a doação da medula óssea Arquivo pessoal Quando tudo começou A jovem nasceu em Umuarama, no noroeste do estado, e teve interesse em ser voluntária quando uma amiga com leucemia necessitava do transplante, em 2012, e precisava reunir o máximo de pessoas para se cadastrar na plataforma. "Quando a gente soube que ela precisaria do transplante, houve uma mobilização em Umuarama para a gente conseguir o maior número de pessoas para se cadastrar no Redome, inclusive minha família e amigos", disse. Desde então, Lethícia é cadastrada na plataforma à espera de um receptor compatível. Lethícia aguardando para fazer a doação da medula óssea Arquivo pessoal Doadora 100% compatível A voluntária recebeu a ligação do Redome em 2022 e foi informada que ela teria que fazer um exame extra para confirmar a compatibilidade com a paciente. Durante esse tempo, foi identificado que a Lethícia era uma doadora 100% compatível e a única cadastrada na plataforma com esse feito considerado raro pelos médicos. "Eles me informaram que eu era a única doadora compatível com essa paciente. Imagina... A única pessoa capaz de doar essa célula para ela. Até mesmo depois da doação a minha ficha ainda não caiu", disse. Lethícia lembrou que muitos doadores cadastradas não são chamados e nunca recebem a ligação que ela considera um "presente". Lethícia fazendo a doação da medula óssea Arquivo pessoal Viagem e doação A doadora embarcou em junho de 2023 e percorreu mais de 1 mil quilômetros para realizar o procedimento do transplante para a receptora. O procedimento da paciente foi de cinco dias até a coleta da medula óssea, feita através da aférese, que separa o sangue da medula em uma máquina automatizada. "Foram quatro dias que recebi uma injeção para estimular a produção da medula óssea, mais do que o meu corpo produz normalmente. No quinto dia eu fiz a coleta", disse. A doadora utilizou uma medicação para a mobilização de células da medula óssea para a corrente sanguínea. Neste procedimento, as células são obtidas por meio do sangue, com punção venosa no antebraço. Entenda mais abaixo. Lethícia no avião prestes a viajar Arquivo pessoal A viagem foi toda bancada pelo Governo Federal, através do Sistema Único de Saúde (SUS), desde a compra das passagens aérea, acomodação e refeição com direito a um acompanhante, que foi o pai dela. Em maio, a voluntária havia ido para o mesmo destino para fazer exames complementares e retornou até a data oficial da doação. "Eles prestam todo o suporte possível com tudo pago, inclusive o meu acompanhamento pós-transplante. Só precisei ir até lá fazer a doação", disse. Emocionada, relembrou dos momentos durante a viagem. "Tenho muitos registros. A maioria que apareço estou chorando, porque foi muito emocionante mesmo. Mas cada lembrança carrego com muito carinho", lembrou. Lethícia deitada na cama fazendo a doação de medula Arquivo pessoal Doação anônima Voluntários cadastrados no Redome são doadores anônimos que não têm nenhum tipo de contato com o receptor, justamente para não ter envolvimento sentimental entre as partes. "A doação é voluntária e anônima e ele não tem informações sobre a paciente neste momento. Só posso receber informações de como o paciente está após seis meses. A gente faz sem ter nenhuma informação desse paciente", disse. Após um ano e meio a partir da doação, tanto a doadora quanto a receptora poderão se encontrar por uma solicitação atendida pelas duas partes. "Se a paciente quiser me conhecer, eu com certeza vou querer conhecê-la. Então, se ela quiser me conhecer, eu espero que isso aconteça", falou. Como ser um doador Qualquer pessoa pode doar e fazer parte do Redome. Após o cadastro, é necessário esperar que o programa encontre um paciente compatível com a medula do doador. Clique aqui para se cadastrar no Redome O transplante pode ajudar pessoas com doenças que afetam as células do sangue, como a leucemia, segundo o diretor do Hemocentro, Gerson Zanusso Junior. "A doação de medula óssea é essencial para a vida de pacientes com leucemia e outras doenças do sangue", disse. Para se tornar um doador de medula óssea é necessário: Ter entre 18 e 35 anos de idade; Estar em bom estado geral de saúde; Não ter doença infecciosa ou incapacitante; Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico. Pessoas com mais de 35 anos não podem fazer o cadastro para ser um doador. Os que estão cadastrados, e têm mais de 35 anos, podem ser convocados a qualquer momento. Medula óssea coletadas em tubos Hemepar Procedimento da doação A doação pode ser feita de duas formas. Cabe ao médico decidir qual é a melhor opção para cada caso. Punção de medula óssea - é feita em um centro cirúrgico com anestesia. A medula é retirada do interior dos ossos da bacia por meio de uma punção com agulhas. Após o procedimento, em uma semana os doadores retomam as atividades normais. Aférese - O doador precisa tomar um medicamento que faz com que aumente a produção de células-tronco e promova a mobilização para a corrente sanguínea, permitindo a retirada pelas veias do braço com o uso de um equipamento, como foi o caso da Lethícia. Segundo Gerson, nos dois casos a medula óssea do doador se recompõe em média de 15 dias. A pessoa pode doar mais de uma vez a depender das condições do voluntário. O médico faz a avaliação individual. Lethícia prestes a fazer a doação Arquivo pessoal Mais assistidos do g1 PR Leia mais em g1 Norte e Noroeste.