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Governo lança Plano Safra de R$ 516,2 bilhões para agronegócio; Faep critica taxa de juros

O valor é R$ 8 bilhões maior em relação à safra anterior

Por Gazeta do Paraná

Governo lança Plano Safra de R$ 516,2 bilhões para agronegócio; Faep critica taxa de juros Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governo federal lançou nesta terça-feira (1º) o Plano Safra 2025/2026, com R$ 516,2 bilhões para financiar médios e grandes produtores rurais. O anúncio foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cerimônia no Palácio do Planalto e contemplará operações de custeio, comercialização e investimento, com incentivos a práticas sustentáveis. Apesar do valor recorde, o plano foi recebido com dúvidas por entidades do setor, especialmente pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), que criticou o aumento das taxas de juros e o corte de recursos para investimentos.

Do total anunciado, R$ 447 bilhões serão destinados a grandes produtores e cooperativas, enquanto o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) contará com R$ 69,1 bilhões. Os recursos estarão disponíveis entre 1º de julho de 2025 e 30 de junho de 2026.

Segundo o governo, o plano tem como diretriz central a sustentabilidade na produção, incentivando práticas de preservação ambiental. O presidente Lula destacou que proteger o meio ambiente é condição fundamental para ampliar a produtividade e melhorar a imagem do Brasil no mercado internacional. “O grande sucesso é o aprendizado de que preservar os nossos rios e recuperar a terra degradada permite produzir mais em menos hectares”, afirmou.

Ainda dentro dessa lógica, o crédito poderá ser usado para produção de sementes e mudas florestais, reflorestamento e culturas de cobertura do solo. O governo também prorrogou até junho de 2026 o desconto de 0,5 ponto percentual nas taxas de juros para produtores que adotarem práticas sustentáveis.

O crédito para custeio e comercialização terá taxas de 10% ao ano para produtores do Pronamp e 14% ao ano para os demais. Já as linhas de investimento apresentarão juros variando entre 8,5% e 13,5% ao ano, de acordo com o programa. Produtores sustentáveis terão acesso a condições especiais, como taxas reduzidas.

Além disso, o novo ciclo exige que os financiamentos de custeio sigam as orientações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), inclusive para contratos acima de R$ 200 mil, o que antes era obrigatório apenas no caso de pequenos agricultores vinculados ao Proagro. A ideia é evitar liberações de crédito fora de períodos e regiões indicadas para plantio, reduzindo riscos climáticos.

Críticas da FAEP

Apesar dos avanços anunciados, o Sistema FAEP, que representa os produtores rurais do Paraná, criticou duramente o conteúdo do novo Plano Safra. Em nota oficial, a entidade destacou que o governo não atendeu às principais demandas do setor, como a redução das taxas de juros e a inclusão de recursos suficientes para equalização (subvenção econômica que permite praticar juros abaixo dos níveis de mercado).

“Mais uma vez, o setor produtivo e as entidades que representam os produtores rurais não foram ouvidas. A inviabilidade deste canal por parte do governo federal tem dificultado o planejamento da agropecuária”, afirmou o presidente interino da FAEP, Ágide Eduardo Meneguette.

A principal crítica é à alta das taxas de juros, que subiram entre 1,5 e 2 pontos percentuais em relação ao plano anterior. As entidades do setor reivindicavam limites entre 7% e 11%, dependendo da linha de crédito. A FAEP alerta que os atuais percentuais podem inviabilizar o acesso ao financiamento, especialmente em um momento de custos elevados e incertezas climáticas.

Outro ponto de preocupação é a ausência de recursos para o seguro rural dentro do pacote anunciado. Segundo Meneguette, isso gera um ambiente de risco para produtores, que ficam expostos a perdas sem garantia de cobertura. “Nossos agricultores convivem com falta de recursos, juros altos que elevam ainda mais o custo de produção e incertezas em diversos pontos, como o seguro rural”, destacou.

A FAEP também alertou que os recursos destinados à equalização dos juros podem ser insuficientes. A Lei Orçamentária Anual de 2025 prevê R$ 14 bilhões para subvenção econômica, enquanto as entidades do Paraná defendem ao menos R$ 25 bilhões. “Na temporada passada, os recursos acabaram no início do ano, inviabilizando os financiamentos previstos nas taxas do Plano Safra”, criticou Meneguette.

Volume é próximo ao pleito

Embora as condições financeiras tenham sido criticadas, o volume total de recursos anunciado pelo governo – R$ 516,2 bilhões para médios e grandes produtores, somado aos R$ 78,2 bilhões do Plano Safra da Agricultura Familiar, lançado um dia antes – resultam em R$ 594,4 bilhões, cifra próxima aos R$ 597 bilhões reivindicados pelo setor agropecuário paranaense.

Para custeio e comercialização, serão R$ 414,7 bilhões, aumento de 3,3% em relação à temporada passada. No entanto, o valor ficou abaixo dos R$ 417 bilhões pleiteados pelas entidades. Já nas linhas de investimento, o corte foi mais expressivo: R$ 101,1 bilhões, queda de 5,4% em relação à safra anterior, enquanto o setor pedia R$ 180 bilhões.

“Os cortes precisam ocorrer na máquina inchada do governo federal, e não em recursos voltados para o setor que segura a economia do país há anos”, criticou Meneguette, prometendo manter a pressão por mais recursos e condições mais justas para os produtores.

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