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Festival de Curitiba abre ao público com versão de Hamlet encenada por atores com Síndrome de Down: 'Fazer com que sejam ouvidos'

Por Giuliano Saito


Produção peruana tem oito atores neurodiversos. Montagem mistura tragédia e comédia com pegada pop, ao som do rap. Pela 1ª vez um elenco composto exclusivamente por atores e atrizes com Síndrome de Down vai atuar em um espetáculo na principal mostra do Festival de Curitiba Divulgação/ Grupo Teatro La Plaza A versão de Hamlet que oficialmente abriu a 31ª edição do Festival de Curitiba, nesta noite de quarta-feira (28), leva ao palco atores e atrizes com Síndrome de Down. Todos os oito artistas, adultos e adolescentes, são neurodiversos e participaram também da produção do espetáculo. A peça é um encontro entre o texto de Shakespeare e a vida dos atores. “Falamos de amor, de sexualidade, de aceitação, de mitos, da responsabilidade com o ativismo e com os direitos das pessoas neurodiversas”, revela Jonathan Oliveros, diretor adjunto e consultor dramatúrgico do espetáculo. Oliversos conta que a obra é resultado de um trabalho coletivo, construído durante um ano, e que foi sendo elaborada a partir do que os próprios atores traziam. “Cada pensamento deles, cada palavra foi escutada, acolhida e está presente na peça”. Em uma montagem original e provocativa, que mistura tragédia e comédia com pegada pop, ao som do rap, Hamlet é uma plataforma para dar visibilidade para as pessoas neurodiversas. “Eles sabem que cada um deles, por meio deste trabalho, se torna um porta-voz de todas as pessoas com deficiência intelectual. Por meio do teatro a finalidade é fazer com que sejam ouvidos, é revelar seus sonhos, romper com preconceitos, comover e também protestar”, conta o dramaturgo. A 31ª edição do Festival de Curitiba tem mais de 350 atrações e vai até 9 de abril. Confira a programação completa do festival Versão livre Hamlet é uma produção peruana e foi escolhida para a abertura oficial da 31ª edição do Festival de Curitiba Giuliano Gomes/ PR Press Leia também: Com mais de 280 peças, Fringe volta ao Festival de Curitiba em novo formato; descubra Seis dias de humor: Risorama volta a Curitiba com ícones e promessas da comédia stand-up Pedestre abordada na Praça Santos Andrade por companhia holandesa é selecionada para peça do Festival de Curitiba Essa versão de Hamlet, um dos maiores clássicos de William Shakespeare, um dos dramaturgos mais influentes do mundo, é uma produção peruana do Teatro La Plaza. A peça é adaptada e dirigida por Chela De Ferrari. O ponto de partida da trama criada por eles a partir de seus interesses, reivindicações, reflexões e experiências é a questão da existência. Ser ou não ser? O que representa esta frase para uma pessoa com Síndrome de Down? O quão difícil é SER em uma sociedade que não te aceita, que te isola, que não te inclui? Peça tem legenda em português para o público Giuliano Gomes/ PR Press Legenda em português A peça terá apresentação única aberta ao público na grade do festival na noite de terça-feira (28). Os atores falam e cantam em espanhol, mas o entendimento não será um problema para o público, pois haverá legenda em português no telão presente no palco. Os atores e toda a equipe de Hamlet chegaram na última sexta-feira (24), em Curitiba, e conheceram o Guairão, onde irão se apresentar. O tamanho do teatro que comporta 2,1 mil lugares, com ingressos esgotados, não amedronta os atores, que estão acostumados a grandes públicos em turnês internacionais. “Pelo contrário, eles se sentem estimulados para entregar o trabalho com mais dedicação, vontade e força. Estão muito felizes e orgulhosos de estarem aqui”, ressalta Jonathan. O poder transformador da arte De acordo com ele, essas viagens têm ajudado o grupo de atores a ter mais autonomia e independência. Eles se sentem valorizados e muito satisfeitos por conhecerem outras realidades e terem seu trabalho apreciado por pessoas de outros países. “Trata-se de uma grande conquista participar de um festival importante como este, pois ganham consciência do valor que têm ao poder expressar seus sonhos, seus medos e o que desejam para a vida”, destaca e acrescenta: “Eles não veem a hora de subir ao palco. ” A expectativa da equipe é que Hamlet crie precedentes para que outros grupos participem do festival trazendo temas similares para que gerem mudança e acabem com o preconceito. “Definitivamente esta peça está abrindo caminhos. Dando oportunidade para que estejam incluídos profissionalmente, artisticamente e para que suas capacidades sejam valorizadas. É o reconhecimento de que eles verdadeiramente importam. Hamlet amplia o debate, promove a discussão e te deixa pensando se você tem atuado corretamente com pessoas que tem algum tipo de deficiência. É uma pequena semente que deixamos”, encerra. Apresentação de Hamlet com atores com Síndrome de Down ocorreu no Teatro Guaíra, em Curitiba Giuliano Gomes/ PR PRess Os vídeos mais assistidos do g1 PR: Mais notícias do estado em g1 Paraná.