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Feira do Livro de Foz é criticada por excluir autores e temas como Palestina e ditadura

Prefeitura nega censura e diz que curadoria seguiu critérios técnicos e temáticos; escritores organizam lançamentos paralelos e falam em resistência literária

Feira do Livro de Foz é criticada por excluir autores e temas como Palestina e ditadura Créditos: Christian Rizzi/Prefeitura de Foz do Iguaçu

 

Bruno Soares

Foz do Iguaçu

Com investimento público de cerca de R$ 800 mil, a 20ª Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu começou nesta quarta-feira (12) sob críticas de autores locais que afirmam ter sido deixados de fora da programação por abordarem temas como Palestina, espiritualidade e ditadura militar. A gestão municipal, chefiada pelo prefeito General Silva e Luna (PL), nega qualquer interferência e afirma que a seleção seguiu critérios técnicos definidos pela curadoria contratada.

O jornalista e ex-vice-prefeito Nilton Bobato, autor de diversos livros, diz que participou da feira por 18 anos e, desta vez, teve dois projetos recusados sem justificativa formal. “Não quero politizar a feira, mas lamento que, após tanto tempo, não tenha havido espaço. Tenho uma nova obra sobre a Palestina e outro livro que trata de fé e resistência, temas que também fazem parte da literatura”, afirmou.

A jornalista e cientista política Daniele Neves, autora de “Juvêncio - O Último Preso Político da Ditadura Brasileira”, também diz ter sido excluída da programação. Segundo ela, o lançamento chegou a ser confirmado para ocorrer na Estação Cultural, mas foi cancelado um dia antes da divulgação oficial. “Disseram que houve confusão nas datas e que não haveria mais espaço”, relatou. O evento realizado de forma independente na quinta (13), no Mercado dos Barrageiros.

No meio das críticas, a Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, responsável pela organização, divulgou nota em que nega qualquer viés ideológico na escolha dos autores. Segundo o órgão, “a curadoria da 20ª edição foi executada por empresa contratada via licitação, sem interferência do gabinete do prefeito”, e “os critérios seguiram a adequação às temáticas dos homenageados - Santos Dumont e Dalton Trevisan - e a assuntos contemporâneos de interesse local”.

O escritor Waldson Dias, primeiro coordenador da feira em 2004, reconhece o valor de nomes como José Eduardo Agualusa e Marcelino Freire na programação, mas avalia que o evento “perdeu parte de sua diversidade original”.

Mesmo fora da agenda oficial, os autores mantiveram seus eventos em espaços independentes. Bobato lançou nesta sexta (14) o e-book “Palestina: Um Olhar Além da Ocupação”, às 19h, no Viale Tower Hotel, e no sábado (15) promove a mesa “É Proibido Falar Mal de Deus: a literatura como instrumento de resistência e resiliência”, às 17h30, no Sindicato dos Servidores Municipais (Sismufi).

“A literatura encontra caminhos. É um gesto de resistência, e também de afeto com o público leitor”, conclui Bobato.

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