Ex-funcionário do 'Sheik dos Bitcoins' diz que recebeu pagamentos com mobiliários: 'leva cadeira, leva tela'
Por Giuliano Saito
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Segundo Polícia Federal, Francisley Valdevino da Silva é suspeito de liderar fraudes bilionárias com criptomoedas. Ex-funcionário disse que pediu demissão quando viu 'famílias desesperadas'. g1 aguarda retorno da defesa do suspeito. 'Sheik dos Bitcoins': empresário é investigado pela polícia Reprodução O ex-funcionário de uma das empresas de Francisley Valdevino da Silva, conhecido como "Sheik dos Bitcoins", detalhou como foi o período em que trabalhou para o empresário, investigado por suspeita de fraudes bilionárias envolvendo criptomoedas. Segundo o homem, que pediu para ter a identidade preservada, ele e colegas ficaram sem pagamentos por diversas vezes. Ele disse que, em algumas ocasiões, os vencimentos passaram a ser pagos com mobiliários da empresa. "No início, era um sonho. Você entrar numa empresa, se deparar com o escritório de cinema. Materiais de primeira linha. Recebia em suas mãos o laptop do ano, o smartphone do ano pra você abrir [...] Chegou um momento em que começaram a pagar com mobiliários. Leva cadeira, leva tela, se vira para vender e coloca comida na mesa. Para os funcionários era: as contas estão bloqueadas, não tem dinheiro para pagar vocês". Segundo a Polícia Federal (PF), Francisley é suspeito de cometer crimes, pelo menos, desde 2016. Conforme a PF, cerca de 15 mil pessoas possuem dinheiro investido nas empresas dele. Entenda como funcionava a fraude e veja mais detalhes da investigação abaixo. Entre as possíveis vítimas do Sheik está Sasha Meneghel, que, segundo a PF, teve um prejuízo de cerca de R$ 1,2 milhão. Wesley Safadão trava disputa judicial por aeronave de R$ 37 milhões recebida como garantia de pagamento O g1 aguarda retorno da defesa de Francisley sobre as declarações do ex-funcionário. Em nota na terça (18), o suspeito afirmou que solicitou recuperação judicial para as empresas por conta de problemas financeiros. O ex-funcionário disse, também, que no início não tinha certeza se a empresa passava por um problema financeiro, ou se os colaboradores presenciavam um esquema de fraude. O homem destacou que muitos dos então funcionários viraram clientes da empresa. Entenda: PF apreende ouro, carros e relógios de luxo em casas do 'Sheik dos Bitcoins' Veja nomes das 85 empresas do 'Sheik dos Bitcoins' suspeitas de golpes bilionários VÍDEOS: 'Sheik dos Bitcoins' ostentava vida de luxo com mansão, aviões e carros importados 'Pegou a aposentadoria e botou lá', diz filho de cliente que investiu R$ 300 mil "No meio de tantas desculpas que eram aplicadas mês a mês, 'ah é o mercado, é o sistema, fui lesado, alguém roubou...' A gente não sabia em quem mais acreditar, sendo que não tínhamos acesso às movimentações por trás da empresa, não tinha como se saber". O homem disse que pediu demissão da empresa, em Curitiba, quando não conseguiu mais compactuar as desculpas enquanto via "famílias desesperadas". Ele era um dos responsáveis por informar aos clientes que as operações sendo feitas não dariam o retorno esperado. "Até o momento em que a gente percebeu que não dava mais para compactuar com o não cumprimento, vendo que tinham famílias desesperadas. São pessoas que tiveram seus negócios falidos porque estavam na espera desses rendimentos com datas passadas, pessoas que informaram que era dinheiro para comprar remédio, entre outras situações". O que diz a polícia Aos clientes, segundo a PF, as empresas de Francisley diziam ter vasta experiência no mercado de tecnologia e criptoativos e possuir uma grande equipe que faria operações de investimento com as criptomoedas para gerar lucros. A investigação mostrou, entretanto, que nunca existiu atividade comercial pelo grupo, e que o dinheiro arrecadado era gasto por Francisley. Segundo o delegado Filipe Hille Pace, Francisley responde às investigações em liberdade, com medidas cautelares alternativas à prisão, como proibições sobre não poder deixar o município ou o país, e ter que entregar o passaporte para a Justiça Federal. Ele também não pode mais exercer nenhuma atividade ligada às empresas, ou conversar com investigados, testemunhas ou vítimas. Quem é o Sheik Segundo a polícia, Francisley se apresenta como Francis Silva e é natural de São Paulo, mas se estabeleceu em Curitiba. Na capital paranaense ele desenvolveu uma empresa do ramo da tecnologia. 'Sheik dos Bitcoins' foi alvo de operação da Polícia Federal Reprodução/TV Globo De acordo com a PF, o suspeito possui mais de cem empresas abertas no Brasil vinculadas a ele. A investigação indica que ele usava o dinheiro arrecadado nas fraudes para a compra de imóveis de alto valor, carros de luxo, embarcações, roupas de grife, joias, viagens, aviões e para fazer doações a igrejas. Ainda conforme a PF, ele recebeu o apelido de "Sheik dos Bitcoins" pela imprensa. Em operação deflagrada pela Polícia Federal no início de outubro, em endereços ligados ao suspeito foram apreendidos barras de ouro, dinheiro em espécie, joias, carros e relógios de luxo. Francisley Valdevino da Silva, conhecido como 'Sheik dos Bitcoins' Reprodução/Jornal Hoje Como funcionava o golpe De acordo com a investigação, o grupo liderado por Francisley prometia o aluguel de criptomoedas com pagamento de remunerações mensais que poderiam alcançar até 20% do capital investido. Conforme a polícia, milhares de vítimas foram lesadas por confiarem nos serviços prometidos pelas empresas do suspeito. Sheik dos bitcoins movimentou cerca de R$ 4 bilhões só no Brasil 'Modus operandi' A PF disse que o suspeito fazia grandes doações para igrejas, fator que, segundo a PF, alavancou a atuação do golpe. "Ele se inseriu em um meio religioso e conseguiu que grandes representantes desse meio investissem e virassem sócios minoritários daquela plataforma. Dessa forma, ele arrecadava clientes desse meio religioso", explicou Filipe Hille Pace, delegado da Polícia Federal. Ainda conforme o delegado, o esquema começou a ruir no fim de 2021, quando Francisley não conseguiu mais pagar o que devia aos clientes. Francisley Valdevino da Silva é suspeito de fraude bilionária Reprodução/Jornal Hoje Investigações O delegado da PF disse que a investigação contra o suspeito começou em março deste ano, depois de um pedido de cooperação policial internacional feito pela Interpol. O pedido informava sobre uma investigação que identificou uma organização criminosa, liderada por Francisley, em Curitiba. A investigação apontou que a quadrilha aplicava golpes desde 2016 e que há registros de fraudes em pelo menos onze países. PF apreendeu mais de 550 itens em operação de busca e apreensão contra o "Sheik do Bitcoin". Polícia Federal A polícia destacou que na lista de vítimas também estão jogadores de futebol, que não tiveram os nomes revelados. Leia também: Sequestro do tio do Sheik do Bitcoin foi motivado por dívida com investidor, diz Polícia Civil A investigação apontou que alguns membros da família de Francisley também se envolveram nas fraudes. De acordo com a PF, os familiares eram funcionários das empresas, e se apropriavam dos valores investidos pelas vítimas. VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.
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