'Eu defini como um pesadelo', diz aluno de medicina de Maringá sobre baile de formatura cancelado na véspera
Por Giuliano Saito

Estudantes alegaram ter caído em golpe de cerca de R$ 3 milhões; empresa diz que comissão devia R$ 500 mil. Polícia Civil investiga o caso. Lucas reunido com a família no dia do jantar Lucas Voltareli/ arquivo pessoal O aluno de medicina Lucas Voltareli, de 26 anos, relatou a sensação de impotência vivida nos últimos dias após o cancelamento do baile de formatura na véspera da festa prevista para sábado (21), em Maringá, no norte do Paraná. Veja mais abaixo. “A sensação é de indignação, revolta e tristeza. Eu defini como um pesadelo no dia em que soube que não teria a formatura”, relatou. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Mais de 100 alunos de medicina de uma universidade particular de Maringá não tiveram baile de formatura. Os estudantes alegaram que sofreram um golpe de cerca de R$ 3 milhões da empresa Brave Brazil, com sede em Florianópolis, contratada para organizar a festa. A empresa afirmou que realizou outros eventos previstos em contrato, que a comissão de formatura devia R$ 530 mil e que, por isso, sugeriu adaptações ou mudança na data da festa. Leia mais abaixo. O sonho de Lucas teve início há 6 anos, quando ingressou para faculdade de medicina. Ainda durante o curso, começou, através da comitiva de formatura, a pagar a mensalidade de R$ 230, além de rifas, deslocamento, alugueis e convites extras. Conforme o aluno, a Brave Brazil seria responsável pela organização da missa, colação festiva, jantar e baile de formatura. “Nós fomos avisados [pela Brave] que não haveria baile porque estávamos devendo quase 500 mil”. “Era um momento que eu esperava muito. Para receber a família que veio de longe para cá prestigiar, curtir. É o sonho de qualquer formando, ainda mais nós que passamos seis anos durante o curso”, expressou. Despesa de Lucas ao longos de seis anos O pacote contratado contemplava, segundo o formando: 12 convites para o jantar; 20 convites para o baile, além de três ingressos extras com valor de R$ 600 cada. O total foi de R$ 16,5 mil. O serviço fotográfico contratado foi de R$ 5 mil. Além de outras despesas indiretas, segundo o aluno, como: aluguel de roupas, lembranças, hotel para receber a família, transporte e salão de beleza. Ele estima que o prejuízo chega a R$ 30 mil. Lucas durante o estágio em uma UBS de Maringá Lucas Voltareli/arquivo pessoal Familiares de Lucas foram para Maringá de várias cidades do Paraná para prestigiar a comemoração. O estudante afirmou que vai registrar Boletim de Ocorrência (B.O) e tentar reaver o valor investido. Arroz, carne de porco e alface Indignado com a situação, na noite do jantar que prometia ser uma "Noite de Gala”, como relatou o estudante, foi transformado em um cenário de abandono. “Chegamos lá no evento e foi aquela desorganização, sem pratos na mesa, taças sujas e o chão todo irregular. Nem parecia uma jantar de formatura", contou. Comida servida no dia do jantar não era a que foi contratada pela comissão organizadora da formatura Laura Genta/arquivo pessoal O buffet não era o que estava previsto no contrato, segundo Lucas. “Tinha carne de porco, arroz e alface murcha. Fiquei de cara”, contou. Com fome, alunos e convidados foram servidos próximo da 1 hora da madrugada. Ao questionar uma das funcionárias da cozinha, ela afirmou ao estudante que os fornecedores não receberam pelo serviço. Festa de última hora Uma empresa de Maringá ficou sabendo do caso e propôs uma festa de última hora para os formandos, conforme o jovem. Cerca de 40 estudantes aderiram os ingressos que custavam R$ 400 por pessoa. "Ah, estávamos em uma situação tão desagradável. Não queria passar em branco e não ser um dia tão triste como foi naquela noite do jantar. A minha família não foi, acabei me reunindo com amigos e curtimos lá", disse. Baile de formatura de última hora foi realizado por outra empresa Lucas Voltareli/arquivo pessoal Investigação Alunos registraram Boletim de Ocorrência (B.O.), e a Polícia Civil investiga o caso. Segundo os estudantes, o prejuízo chega a quase R$ 3 milhões. Eles afirmam que o contrato foi fechado há alguns anos e que os primeiros problemas começaram a aparecer nesta semana, quando foi realizado o jantar de formatura. Na tarde de sábado, a Polícia Civil ouviu estudantes. Delegado Fernando Garbeline de Maringá investiga o caso RPC/rerodução "O descumprimento contratual não necessariamente gera um crime de estelionato, então, vamos verificar qual era a intensão dessa empresa. Se, desde o inicio, ela tinha intensão de não cumprir com o contrato ou se teve algum dolo", explicou o delegado Fernando Garbelini que assumiu o caso. Empresa especializada em formaturas de medicina Na internet, a Brave Brazil se intitula como "a maior empresa de formaturas de medicina do país". Em nota publicada em rede social, a empresa afirma que realizou a Missa de Formatura em 18 de janeiro, o Jantar de Formatura em 19 de janeiro, com atrações artísticas, e a Colação de Grau na sexta-feira (20). "No entanto, antes mesmo dessas três datas ultimas mencionadas, a empresa já havia comunicado a respectiva Comissão de Formatura, sobre a impossibilidade de concluir o evento denominado 'Baile de Formatura', pré-agendado para o dia 21 de janeiro, sábado, na formatação originária, dado o déficit de pagamento para conclusão do projeto contratado há anos atrás, devendo então a Comissão negociar com a empresa algumas readequações, sem que isso comprometesse a realização total, especificamente, do evento de encerramento/sábado, já mencionado, já que os outros eventos anteriores, de fato foram entregues", diz trecho da manifestação. Ainda conforme a nota da empresa, foi sugerido que cada formando "aportasse" R$ 2.500,00. Outra que a empresa afirma ter dado aos estudantes foi reagendamento do baile. "Frisamos que o Baile de Formatura (evento de sábado) já estava sendo montado no local pré-definido e que a equipe Brave já estava na Cidade de Maringá há alguns dias, montando e desmontando seus equipamentos, adequando-os aos respectivos eventos (4ª feira; 5ª feira; 6ª feira e sábado), aguardando a Comissão definir-se pelas readequações exigidas, o que não ocorreu." Site da empresa Brave Brazil reprodução Leia também Após baile de formatura cancelado em Maringá, Justiça bloqueia até R$ 3 milhões de empresa suspeita de golpe contra estudantes de medicina Alunos de medicina ficam sem baile de formatura e alegam golpe de quase R$ 3 milhões; polícia investiga Alunos contestam Também em nota, a comissão de alunos disse que entrou em contato com os prestadores de serviço "por ter sido surpreendida uma semana antes do evento com informações sobre o não pagamento dessas atrações". Sobre o déficit de R$ 530 mil citado pela empresa, os formandos ressaltam que "não há qualquer fundamento fático. Nós cumprimos nossa parte como contratantes, com pagamento das mensalidades e arrecadação de quase R$ 3 milhões". Materiais e estruturas são apreendidas Lucas Voltarelli/arquivo pessoal A nota diz ainda que, além da readequação do baile, outros serviços "não foram entregues conforme o contratado". Como o chão que, conforme os estudantes, demonstrou precário e inseguro para locomoção dos convidados e que "pouca comida foi servida", além da iluminação e a decoração "precária". O documento cita ainda que em menos de 24 horas, os formandos foram "surpreendidos" com a nota da Brave Brazil afirmando que o vento não seria realizado e que "não deixou alternativas aos formandos". Polícia Civil começou a ouvir estudantes que registraram queixas na delegacia. RPC Maringá Prefeito aciona Procon Por meio de uma rede social, o prefeito de Maringá, Ulisses Maia (PSD), se pronunciou sobre o episódio. Na publicação ele cita como "lamentável o ocorrido com os formandos" e que uma reunião foi realizada na manhã desta segunda-feira (23) para tratar do assunto. Mais assistidos do g1 PR Veja mais em g1 Norte e Noroeste.
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