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Estudantes da UFPR vencem prêmio do Instituto Vladimir Herzog: 'Universidade pública produzindo informação de qualidade'

Por Giuliano Saito


Acadêmicos fizeram documentário sobre estudo mostrando alta de câncer de mama em agricultoras do sudoeste do Paraná associada ao uso de agrotóxicos em propriedades rurais. Estudantes da UFPR vencem Jovem Jornalista, prêmio do Instituto Vladimir Herzog Três estudantes de jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) venceram o Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog. Os vencedores Izabela Morvan da Silveira, de 23 anos, Lucas Daniel de Lima, de 21 anos e Mayala Tereza Fernandes, de 21 anos são cotistas do 6º período. Os acadêmicos tiveram a orientação do professor José Carlos Fernandes. Veja vídeo acima. Eles produziram um documentário sobre um estudo que mostrou aumento na incidência de câncer de mama em agricultoras do sudoeste do Paraná associado ao uso de agrotóxicos em propriedades rurais. CONFIRA DOCUMENTÁRIO VENCEDOR AQUI Professor e alunos da UFPR recebem prêmio em São Paulo Arquivo pessoal Esta é a terceira vez que acadêmicos da UFPR são premiados, de acordo com o professor José Carlos. Ele citou a importância da universidade pública e da contribuição das intuições à produção de materiais de qualidade por meio do incentivo aos estudantes. "Os jovens têm uma energia que contagia, eles se jogam e contribuem. Essa premiação mostra a potencialidade da universidade pública, inclusive na produção de informação de qualidade. [...] É muito importante ver cada vez mais as universidades como portadoras de informações que a sociedade precisa saber", afirmou o professor. Mulher no campo Os alunos explicaram que, inicialmente, imaginaram documentar o uso massivo de agrotóxicos no estado. Mudaram de ideia ao conhecerem o estudo produzido pela bioquímica e professora do curso de Medicina da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Carolina Panis. “Todo mundo sabe sobre essa questão dos agrotóxicos, mas não desse recorte feminino, ninguém fala dessas mulheres. A gente passa o olho e ignora. [...] Vendo o resultado do documentário pensei: 'Que bom que a gente conseguiu falar com essas mulheres’ , e também mostrar como elas estão sendo afetadas por isso e não sabiam por falta de informação”, afirmou Izabela. Documentário produzido pelos estudantes foi exibido na premiação Arquivo pessoal Para a acadêmica Mayala Tereza Fernandes, mostrar a realidade dos trabalhadores que lidam diretamente com os produtos e os riscos à saúde revela o quanto a temática ainda precisa ser estudada, divulgada e debatida. “Os impactos negativos, a gente vê esse assunto, mas não o lado dos trabalhadores, o quanto eles estão expostos. E as mulheres menos ainda. [...] me fez refletir muito sobre quanto o jornalismo tem ainda a pautar nesse sentido da contaminação”, disse Mayala. Paraná é o 3º estado que mais apreendeu agrotóxicos contrabandeados nos últimos 5 anos "Ter participado de tudo isso nos inspirou a continuar nesse caminho e entender nosso potencial e denunciar esse grande problema do sudoeste do Paraná", afirmou Lucas Daniel de Lima. Estudantes da UFPR vencem Jovem Jornalista, prêmio do Instituto Vladimir Herzog Arquivo pessoal Importância da educação pública Os três estudantes destacaram a importância da UFPR para tornar a conquista do prêmio possível. Além do documentário, outros três trabalhos de instituições públicas foram premiados na categoria e concorreram com mais de 200 inscritos. “Nós três somos cotistas e a presença tem sido crescente, mas ainda é deficitária. [...] Mas felizmente pudemos contar com todo o aparato da universidade, equipamentos, transporte, professores, tudo disponibilidade pela nossa universidade. Extremamente gratificante poder contar com tudo isso, tudo que a universidade pode nos proporcionar”, afirmou Mayala. Prêmio Jovem Jornalista O documentário foi um dos quatro vencedores da 14ª edição do Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog. Os vencedores foram anunciados na última segunda-feira (24), na Câmara Municipal de São Paulo. Esta é a terceira vez que estudantes da UFPR recebem o prêmio. Na premiação, eles puderam mostrar a reportagem produzida para o prêmio e contaram sobre o processo de pesquisa, apuração e produção do material jornalístico. O estudo que baseou o documentário Há oito anos a pesquisadora Carolina Panis estuda agrotóxicos na região sudoeste do Paraná e a associação dos produtos ao câncer de mama. Entre 2019 e 2020, ela foi para a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onde realizou pesquisa com dados de mulheres agricultoras da região sudoeste expostas a agrotóxicos. A bioquímica também estudou dados da contaminação de água por pesticida no estado e avaliação do risco à saúde das mulheres. “Usamos um relatório do Governo Federal, do Sisagua, referente aos anos de 2014 a 2017, que mostrou a contaminação da água para consumo humano por 27 pesticidas no Brasil inteiro e fiz recorte para o Paraná. A gente focou em 11 pesticidas que, segundo a Agência Internacional de Pesquisa para o Câncer ligada a OMS, têm potencial de ser cancerígenos," explicou Panis. Segundo ela, o estudo mostrou que estes produtos estavam presentes na água para consumo humano em pelo menos 127 municípios paranaenses. Ao cruzar os dados com índices da Agência Internacional do Câncer, o estudo concluiu que pelo menos 542 casos de câncer registrados no período estariam associados à contaminação da água por pelo menos um dos 11 pesticidas. O resultado da pesquisa foi publicado recentemente na "Environment International", periódico internacional de artigos relacionados à ciência ambiental e saúde. VÍDEOS: Mais assistidos g1 PR Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.