Estudante com câncer ósseo consegue decisão judicial para operar metástase, mas plano questiona valor cobrado por médico: 'Minha única opção'
Por Giuliano Saito

Justiça determinou cirurgia complexa para 5 de maio, porém, medida não foi cumprida. Associação que defende plano disse que empresa não se recusa a fazer cirurgia, mas que 'estranha honorários' do médico. Estudante de medicina passou por quimioterapias em 2021 para enfrentar primeiro câncer, descoberto em 2019 Arquivo pessoal O estudante de medicina Mateus Botogoske, de 24 anos, aguarda há um mês o plano de saúde cumprir uma decisão judicial determinando a realização de uma cirurgia para o tratamento de um câncer ósseo na bacia. O procedimento foi indicado pelo médico especialista que atende o jovem. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Pela decisão, assinada pela juíza Rafaela Zarpelon em 28 de abril deste ano, Botogoske deveria ter sido operado em 5 de maio no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, com todo o suporte do plano Clinipam, do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI Sul). A multa em caso de descumprimento foi estipulada, inicialmente, em R$ 1 mil por dia. Ao g1, a Clinipam se manifestou por meio da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge). A entidade afirmou que a Clinipam não se recusa a fazer a cirurgia. Disse, também, que a empresa liberou materiais para o procedimento em outro hospital, porém, "estranha a insistência do profissional de saúde com solicitação espantosa de honorários", com valores que superam R$ 636 mil. Leia mais abaixo. “Essa é minha única opção para realizar a cirurgia. O plano tenta enrolar mais indicando médicos que não operam meu caso. Posso acabar perdendo a chance de ficar bem por conta do plano me ver como um número", afirmou o estudante. O jovem, diagnosticado com câncer ósseo em novembro de 2019, retirou um tumor do braço esquerdo por meio do mesmo plano de saúde. Há seis meses, foi diagnosticado com metástase – ou seja, a doença surgiu em outra parte do corpo. O paciente lembra que antes de acionar o plano juridicamente, tentou a liberação para a cirurgia pelos canais oficiais da empresa. Em 27 de março, ele relembra, o plano chegou a autorizar o procedimento. Porém, depois disso, passou a não dar retorno efetivo para o encaminhamento da cirurgia, segundo o paciente, contestando a indicação do médico que o atende. A cirurgia indicada Na foto, Mateus Botogoske antes do diagnóstico da metástase Arquivo pessoal A operação indicada para Botogoske, considerada complexa, é para uma metástase que ele descobriu em dezembro de 2022. Segundo o estudante, o pedido para a cirurgia, que virou briga judicial, começou após o quadro clínico dele chegar, por meio das redes sociais, a membros da ortopedia oncológica da Universidade de São Paulo (USP). Botogoske conta que médicos de lá, após analisarem o quadro clínico dele, contataram um especialista de Curitiba para cuidar do caso do estudante, indicando uma cirurgia chamada hemipelvectomia, que removeria o tumor por completo. De acordo com o estudante, caso ele não realize a cirurgia, não tem chance de sobrevida. Nos retornos do plano, médicos indicaram radiocirurgia, o que, segundo ele, foge da conduta mais indicada para a metástase que enfrenta. “A cirurgia é enorme e dura no mínimo 20 horas. Deveria ser minha preocupação nesse momento difícil. Eu realizei três ciclos difíceis e sofridos de quimioterapia para ter resposta no tumor e poder realizar a cirurgia, porém mesmo tendo encaminhado os pedidos, minha cirurgia está sendo atrasada.” Leia também: VÍDEO: Após ser barrada em boate, jovem é agredida por seguranças, deixada na rua e atropelada Decisão: Justiça manda influencer deletar vídeo em que chama autista de 16 anos de comunista Universitários: UFPR investiga trote violento em Curitiba Netflix: Procon-PR notifica empresa por cobrança adicional Justiça aumentou a multa ao plano de saúde O estudante contou que não houve concordância do plano de saúde sobre a primeira determinação judicial. No dia em que a cirurgia deveria ter ocorrido, a Justiça aumentou a multa diária para R$ 5 mil, a incidir por 90 dias a partir do descumprimento da liminar. Em 12 de maio, uma nova decisão estipulou o prazo de 24 horas para liberação da cirurgia e aumentou a multa diária ao plano em caso de descumprimento para R$ 10 mil. Botogoske lembra que a empresa chegou a apresentar recurso para suspender a liminar que autorizava a cirurgia, mas o pedido foi indeferido pela desembargadora substituta Elizabeth de Fátima Nogueira. Em um recurso apresentado à Justiça, e negado, o plano apresentou médico e hospital diferentes da primeira determinação judicial para realizarem a cirurgia. Botogoske lembra, ainda, que médicos do hospital indicado se recusaram, no passado, a operá-lo. Além disso, o paciente afirma que, no início do processo, chegou a ser encaminhado pelo plano de saúde para este mesmo hospital, porém, via SUS. Para o estudante, o entrave coloca a vida dele em risco. “Posso ter reativação do tumor com mais agressividade ou precisar retornar a quimioterapia por conta de algo que não deveria acontecer.” Estudante precisou trancar a faculdade Botogoske está no sexto ano de medicina, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele contou que trancou o curso em 20 de março para poder se preparar para a recuperação da cirurgia que ocorreria, conforme determinou a Justiça, em 5 de maio. Com os descumprimentos sucessivos, ele teme que não conseguirá voltar para a faculdade ainda em 2023. "O período de trancamento começou há pouco. E se o prazo tivesse sido no tempo que foi determinado, eu já teria me recuperado pra destrancar o meu curso. O prazo é 21 de junho. Mas daí, por causa desse atraso, eu acho que não consigo volta pro curso esse ano", lamentou. O que diz a Abramge Em nota, a Abramge disse que a solicitação de honorários para a cirurgia é de R$ 636,8 mil. Afirmou, também, que "há clara pretensão de direcionamento do fornecedor dos materiais a serem utilizados na cirurgia". A Abramge também disse que o paciente possui consulta agendada para terça-feira (30), com o chefe de oncologia ortopédica do Hospital Erasto Gaertner, para deliberação sobre o caso. *Com colaboração de Caroline Maltaca, assistente de produtos digitais do g1. Vídeos mais assistidos do g1 PR: Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.
Você também pode gostar
Leia mais: https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2023/05/29/estudante-de-medicina-com-cancer-osseo-consegue-decisao-judicial-para-operar-metastase-mas-diz-que-plano-enrola-cirurgia-minha-unica-opcao.ghtml