Esposa de PM que morreu baleado em ataque a empresa de valores no Paraná fala pela 1ª vez: 'Ele era a estrutura que fazia dar certo'
Por Giuliano Saito
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Cabo Ricieri morreu em abril aos 48 anos; ele estava em viatura que foi alvejada por criminosos durante tentativa de mega-assalto em Guarapuava. Além da esposa, militar deixou também dois filhos. Cabo Ricieri estava em viatura que foi alvejada por criminosos durante tentativa de mega-assalto, em Guarapuava Divulgação/Redes Sociais "Ele era a estrutura que fazia dar certo. Com a calma dele, ele fazia tudo dar certo", é dessa forma que Carla Fernanda lembra do marido, o policial militar Ricieri Chagas. Ele era cabo da Polícia Militar em Guarapuava, na região central do Paraná, e morreu após ser baleado por criminosos durante a tentativa de assalto a uma empresa de valores na cidade, em abril deste ano. Relembre o caso a seguir. A declaração da viúva foi feita em entrevista exclusiva ao Fantástico e exibida no domingo (25). De acordo com Carla, mesmo cinco meses depois da perda do marido ainda é difícil processar a morte do militar. "Para mim ele está viajando. Como ele já foi em várias missões e ficou meses fora. Se você me perguntar quando que isso vai passar? Não sei, não posso te dizer", lamentou a viúva. Além da esposa, Ricieri deixou também dois filhos. Kallyne Rayane Chagas, filha mais nova do cabo, conta que desde criança se inspirou no pai e que pretende seguir carreira também como policial militar. "Ele sempre foi o meu orgulho, sempre foi o meu espelho. Eu sempre falava que eu queria ser igual ao meu pai. Sinto muita falta dele", desabafou a jovem. Batalhão da PM em Guarapuava recebeu nome de policial morto em tentativa de mega-assalto Mãe e filha tentam aliviar saudades de cabo Ricieri vendo fotos do militar. Reprodução/RPC A filha relatou também que os dias sem a presença de Ricieri são difíceis e que a ausência é sentida nos pequenos detalhes. "É uma luta diária aqui em casa, porque tudo que a gente faz lembra ele. Eu falo que eu estou sobrevivendo. Todo dia levantar e saber que ele não está ali para mim é muito difícil. Eu falei que nunca senti medo, eu falava 'meu pai está aqui, se acontecer alguma coisa meu pai vai lá'. Depois que ele faleceu parece que cresceu um medo dentro de mim. Eu convivo todos os dias com medo porque ele não vai estar aqui", disse Kallyne. 'Ficar em paz' Neste mês, uma operação das polícias Civil, Militar e Científica do Paraná prendeu 17 pessoas suspeitas de envolvimento na tentativa de mega assalto que resultou na morte do cabo Ricieri. Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp), além dos presos, outros três suspeitos morreram na ação. Para a viúva as prisões representaram uma resposta para a família. "Eu não vou te dizer que é uma sensação de paz, mas é uma leve sensação de proteção. A gente esperou desde o início que essa resposta viesse. Eu espero que a gente consiga ficar mais em paz agora", contou Carla. Mãe e filha vendo lembranças do cabo Ricieri. Reprodução/RPC Dia do crime Carla relembrou que ao notar a movimentação pela cidade enviou mensagens ao policial pedindo para ele tomar cuidado. De acordo com ela, as mensagens foram enviadas minutos após o militar ser baleado. A viúva relatou também que no período de tempo entre Ricieri ser atingido e a chegada da notícia para a família, ela conversou com esposas de outros policiais da cidade. "Algumas esposas de policiais estavam mandando mensagem, ligando. E eu falando para elas: 'fique calma, está tudo bem. A princípio não tem ninguém ferido'. Eu acalmando elas por telefone, sem saber que o Ricieri já tinha sido atingido, sem saber que ele já estava no hospital", detalhou. Cabo Ricieri foi atingido com disparo na cabeça no domingo (17), em tentativa de mega-assalto em Guarapuava Divulgação/Redes Sociais Carla contou que antes de Ricieri sair trabalhar, ela prometeu deixar uma sobremesa para o policial comer depois do expediente. "Eu fiquei esperando ele vir comer. Não veio. Não veio pegar o docinho. É uma viagem demorada essa", disse entre lágrimas. Forças para continuar Ricieri ficou internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por seis dias antes de ter morte cerebral confirmada. Carla contou que nesse período prometeu para o militar que seria forte e corajosa. "Eu sempre dizia para ele assim: nós temos uma dívida que é cuidar dos filhos. No leito de UTI, eu falei para ele: 'a dívida que eu te cobrei a semana inteira, eu vou honrar. Como eu sou forte e corajosa, eu sigo'", contou a viúva. Após a confirmação da morte, a família decidiu doar os órgãos do militar. A filha Kallyne explicou que o pai comentou o desejo em vida com um parente, e que a escolha foi influenciada por uma situação vivida pelo avô paterno. "O meu avô, pai do meu pai, não teve a chance de receber um coração, ele precisava de um coração mas não teve tempo. Ele era um herói, morreu como herói e o último ato dele foi a doação. A gente espera ter ajudado muitas famílias, para alguém ter a chance de sobreviver, ter a chance de lutar pela vida", disse a jovem. Quem era o Cabo Ricieri Cabo Ricieri Chagas morreu aos 48 anos Divulgação O policial militar Ricieri Chagas tinha 48 anos, sendo 26 deles dedicados à polícia. Nascido em Campo Mourão, no centro-oeste do Paraná, o cabo ingressou na corporação em 26 de setembro de 1995 e fazia parte do Pelotão de Choque do 16° Batalhão de Polícia Militar (BPM). Veja o que se sabe sobre o ataque de assaltantes deixou feridos em Guarapuava Entenda a cronologia do ataque Em Guarapuava, o cabo passou pelos extintos Grupo de Operações Especiais (GOE) e Tático Móvel Auto (TMA), além da ROTAM e do Pelotão de Trânsito. No Pelotão de Choque, ele dedicou quinze anos da carreira. Conforme nota da polícia, o militar "era uma referência dentre os policiais do Choque". A corporação também ressaltou a atuação de Ricieri na Força Nacional e o brevê do Curso de Controle de Distúrbios Civis (CCDC) que carregava. Cabo Ricieri morreu aos 48 anos, e dedicou 26 deles à polícia. Reprodução/RPC Em manifestação após a morte, a Polícia Militar exaltou o amor à profissão do cabo e afirmou que o legado do militar "para sempre será lembrado". Em homenagem ao policial, um decreto estadual deu ao 16º BPM, em Guarapuava, foi nomeado como "Batalhão 3º Sargento PM Ricieri Chagas". “Ele era mais do que um policial, era um amigo. Sempre alegre, brincando. Quando tinha que ser sério, uma pessoa séria. Uma pessoa excepcional”, afirmou o comandante do 16º Batalhão da PM, major Flavio Ferraz. Relembre o crime No domingo 17 de abril, um grupo criminoso realizou uma tentativa de assalto a uma transportadora de valores de Guarapuava, na região central, e um ataque ao 16ª Batalhão da Polícia Militar (BPM) do município. As ações ocorreram de maneira simultânea. De acordo com o delegado Rubens Miranda, responsável pela investigação do ataque, vigilantes da empresa de transporte de valores trocaram tiros com os criminosos. Simultaneamente, em outro ponto da cidade, em frente ao batalhão da Polícia Militar, os criminosos colocaram fogo em dois veículos para dificultar a ação dos agentes de segurança, segundo o ex-secretário de Segurança Pública do Paraná, Romulo Marinho. Imagens mostram ação de assaltantes em transportadora, durante ataque em Guarapuava Reprodução/RPC Os criminosos alvejaram uma viatura e acertaram três policiais: o cabo José Douglas Bonato, que foi baleado na perna e operado, o policial Wendler que atingido por tiro de fuzil e salvo pelo celular que estava no bolso do colete balístico e o cabo Ricieri, que foi baleado na cabeça e faleceu. Na viatura estava ainda o Hulk, o cão farejado da Polícia Militar. Ele não foi ferido. VÍDEO: PM salvo de tiro por celular se emociona ao reencontrar cão farejador que o acompanhava Entenda a cronologia do ataque Investigações da Polícia Civil apontam como a quadrilha responsável pelos ataques agiu antes da tentativa de assalto em Guarapuava. Confira: 8 e 9 de abril: criminosos prepararam os carros e caminhões usados no crime que foram trazidos do estado de São Paulo; 10, 11 e 12 de abril: veículos foram levados para São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. nesse período, segundo as investigações, os integrantes da quadrilha viajaram várias vezes de lá pra Guarapuava. 17 de abril, dia do crime: a quadrilha se dividiu em dois comboios. O primeiro saiu bem cedo, em três carros e três caminhões, e foi para a cidade pela BR-277. O segundo comboio saiu entre 16h e 20h, pela BR-476, passando pela cidade da Lapa, levando todo o armamento pesado. Segundo a secretaria, os bandidos fizeram uma parada em Inácio Martins para se organizar. Depois, foram em direção à Guarapuava e começaram a ação criminosa perto das 22h. Cronologia da tentativa de assalto em Guarapuava Wagner Magalhães VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias da região no g1 Campos Gerais e Sul.
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