Em 40 anos, Itaipu triplica a diversidade vegetal da faixa de proteção do reservatório
Inventário florestal inédito aponta aumento e diversificação de espécies de plantas no entorno do Lago de Itaipu e áreas vizinhas desde a sua implantação
Por Da Redação

Em quatro décadas de restauração ambiental, a faixa de proteção do reservatório da Itaipu Binacional evoluiu de um cinturão isolado de plantios para uma floresta rica, em processo de consolidação e integrada a outras áreas. É o que revela o mais completo inventário florestal já conduzido por uma usina hidrelétrica no Brasil.
O resultado preliminar da pesquisa feita pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa e apresentado nesta quinta-feira (18) durante um seminário em Foz do Iguaçu (PR), identificou 397 espécies diferentes de árvores e arbustos – quase três vezes mais que as 139 espécies plantadas originalmente, quando da formação do Lago de Itaipu.
No total, mais de 55 mil registros de plantas foram contabilizados nas 400 parcelas de amostragem instaladas ao longo da faixa de proteção do reservatório de Itaipu, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, no Paraná. O levantamento revela que os plantios feitos nos últimos 40 anos estão evoluindo para se constituir uma floresta diversa e ecologicamente relevante.
Embora as ações socioambientais sejam praticadas pela Itaipu desde a sua constituição, a empresa tem atuado cada vez mais para a proteção dos biomas e seus mananciais. "O investimento em ações como essas, além de tantas outras que protegem nosso lago, ajuda a enfrentar as mudanças climáticas e garantem a disponibilidade de nossa matéria-prima, a água, para que continuemos gerando energia por mais de 190 anos adiante", celebrou o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri.
Entre os destaques desta etapa da pesquisa feita entre março e setembro de 2024 está a presença, por exemplo, do angico-vermelho (Parapiptadenia rigida) - espécie nativa essencial pelo número de indivíduos e pela frequência das ocorrências nas parcelas, dos ipês de todas as espécies -, da peroba, do jequitibá e de frutíferas de várias famílias como o araticum, a jabuticaba, a pitanga e a gabiroba.
Outro ponto importante é a comprovação de que as áreas protegidas recebem a contribuição de espécies do seu entorno por meio da fauna, cada vez mais representativa, com destaque para aves e pequenos e médios mamíferos, que fazem a dispersão de sementes.
Os resultados comprovam o sucesso da estratégia de restauração florestal e recuperação da faixa de proteção de Itaipu iniciada no fim da década de 1970, logo depois de produzido o primeiro inventário florestal da região. Foram identificadas árvores adultas e jovens e pequenas plantas, sinal importante de regeneração.
Com mais de 1,3 mil quilômetros de extensão e 30 mil hectares de área, a faixa de proteção do reservatório de Itaipu é um importante corredor de biodiversidade que liga importantes unidades de conservação, como o Parque Nacional do Iguaçu e o Parque Nacional de Ilha Grande, os refúgios da Itaipu Binacional e pequenos remanescentes de floresta (matas ciliares, reservas legais e reservas particulares das propriedades rurais).
“A vegetação plantada ao longo de décadas está se consolidando como um ecossistema funcional e resiliente, com papel relevante na conservação da fauna, da flora da Mata Atlântica e na proteção hídrica do reservatório”, destaca Luis Cesar Rodrigues da Silva, gestor do convênio e técnico da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu.
Segundo Maria Augusta Doetzer Rosot, pesquisadora da Embrapa Florestas que coordenou toda a equipe envolvida no projeto, “se considerarmos que, antes do Lago, o que existia eram áreas de cultivos ou em processo de degradação, esta primeira etapa do inventário mostra a evolução e o ganho em diversidade. É uma floresta ainda em estado de restauração, mas já podemos observar os ganhos ambientais e a efetividade da faixa de proteção do reservatório”.
Além de comprovar a evolução da restauração ambiental aplicada à área do reservatório, os resultados do inventário servirão como base técnica para o planejamento de longo prazo da gestão da vegetação da faixa de proteção, contribuindo para decisões mais eficientes e sustentáveis.
Modelo
A expectativa é que esse modelo também possa inspirar outras usinas do país com grandes áreas de entorno de reservatórios, e potencializar as mais diversas inciativas de restauração e conservação da biodiversidade como está sendo feito pelo programa Mais que Energia que, em um de seus editais, potencializou projetos para viveiros florestais, restauração ativa e passiva e conservação de fauna.
Ainda segundo Silva, Itaipu já é modelo de gestão de bordas de reservatórios e os resultados evidenciam a qualidade da restauração praticada ao longo de décadas. “Na prática, os dados mostram que a estratégia está dando certo na conservação do meio ambiente e proteção do reservatório, mais uma forma de garantia de segurança hídrica e energética promovida pela Binacional”, reforça.
Histórico
O estudo é fruto de uma parceria entre Itaipu e as unidades Embrapa Florestas (PR) e Embrapa Instrumentação (SP), e terá duração de cinco anos. Além da avaliação da composição e crescimento de espécies da flora, o projeto também abrange estudos sobre fauna, carbono estocado, diversidade genética de espécies arbóreas, análise da paisagem e uso de tecnologias de sensoriamento remoto. A próxima etapa vai considerar análises de fauna, sucessão florestal, atividade enzimática do solo, além de indicadores ambientais, como riqueza e abundância de minhocas e epífitas (como por ex bromélias), que ajudam a avaliar a qualidade ambiental de uma região.
Em 2023, o trabalho de restauração feito por Itaipu foi objeto de pesquisa da Universidade Federal do ABC e do Itaipu Parquetec. Na época, o estudo premiado pelo MAP Biomas identificou um acréscimo de floresta de 73 mil hectares em toda a área da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná, região 3.
